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Cargill diz que tabela do frete afeta negócios e avalia frota própria

Para empresa, tabelamento é atraso ao modelo econômico-social brasileiro e traz enormes impactos financeiros para população que mais necessita de alimentos

Cargill: unidade Agrícola da empresa lucrou mais de meio bilhão de reais em 2017 no Brasil, registrando receita de 34,2 bilhões de reais (Denis Balibouse/Reuters)

Cargill: unidade Agrícola da empresa lucrou mais de meio bilhão de reais em 2017 no Brasil, registrando receita de 34,2 bilhões de reais (Denis Balibouse/Reuters)

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Reuters

Publicado em 24 de julho de 2018 às 16h55.

São Paulo - A Cargill, um dos maiores exportadores do Brasil, criticou nesta terça-feira o estabelecimento de uma tabela de frete rodoviário mínimo, que "inviabiliza a comercialização antecipada de grãos", podendo resultar ainda, segundo a trading, em novos modelos de venda de produtos.

A multinacional com sede nos Estados Unidos, uma das maiores empresas globais do agronegócio, afirmou também que avalia adquirir frota própria de caminhões e contratar motoristas, para ficar menos sujeita aos efeitos da tabela, caso a medida do governo estabelecida após a paralisação de caminhoneiros em maio não seja revertida pela Justiça.

O caso está sendo avaliado no Supremo Tribunal Federal (STF). Associações da indústria, que argumentam que o tabelamento elevará preços dos alimentos para a população, entraram com ação na Justiça pedindo a inconstitucionalidade da tabela, aprovada pelo Congresso e no aguardo da sanção do presidente Michel Temer.

"Com o tabelamento, indústrias e exportadores terão que repensar a forma como irão operar no Brasil, pois cria-se uma ruptura no funcionamento natural da cadeia de suprimentos e desequilibra os contratos, a ponto de comprometer a confiança na expansão sustentável do agronegócio", disse o diretor de grãos e processamento da Cargill para América Latina, Paulo Sousa, em nota enviada a jornalistas.

A Cargill, cuja unidade Agrícola lucrou mais de meio bilhão de reais em 2017 no Brasil, registrando receita de 34,2 bilhões de reais, afirmou que uma alternativa a essa fixação de preços altos para frete é o investimento na verticalização das operações. Ou seja, aquisição de frota própria, uma opção que vem sendo analisada para a próxima safra, comentou a companhia.

Para Sousa, as indústrias de processamento de produtos agrícolas e as empresas exportadoras serão forçadas a mudar seu modelo de atuação.

Ao invés de comprar os grãos com retirada nas fazendas ou nos armazéns no interior, as empresas serão forçadas a comprar somente com entrega nas fábricas e nos portos, disse a empresa.

"Desta forma, se reduz o risco ao máximo, permitindo a utilização de frota própria nas rotas de alta eficiência entre fábricas e portos, maximizando uso das hidrovias ou ferrovias - as quais são mais eficientes e agora se tornam juridicamente muito mais seguras", disse.

O executivo lembrou que a nova lei incentiva os agricultores que ainda não têm caminhões a adquirir seus veículos próprios e, os que já têm, ampliar sua frota de maneira significativa.

"Isto pode comprometer ainda mais o equilíbrio do mercado e tornar o excesso de oferta de caminhões um problema substancialmente maior", destacou.

Agentes do setor de transportes afirmam que uma das causas dos fretes baixos é a grande oferta de caminhões, cujo aumento de frota foi incentivado por crédito facilitado em governos anteriores, quando havia a expectativa de que a economia continuaria crescendo.

O diretor de grãos e processamento da Cargill para América Latina disse ainda que o "tabelamento abre caminho para oportunistas trabalharem na informalidade, de uma maneira bastante pulverizada e sem condições de controle e fiscalização, aplicando descontos nos preços de transporte sob uma tabela sem critérios técnicos e insanamente acima dos níveis realistas de mercado".

Segundo a Cargill, os produtores rurais com maior capacidade de investimento conseguirão vender sua safra ainda melhor, incorporando à sua receita os benefícios de um frete artificialmente sobrevalorizado ao seus produtos, acentuando a concentração de renda também no campo.

Já os pequenos e produtores rurais da agricultura familiar serão forçados a se organizar em cooperativas de frete, com suas frotas próprias, ou perderão competitividade, sendo eliminados da produção de grãos do Brasil, comentou Sousa.

A empresa que atua no Brasil desde 1965 e com mais de 8 mil funcionários --presente em 17 Estados brasileiros e no Distrito Federal por meio de unidades industriais, armazéns, terminais portuários e escritórios em mais de 140 municípios-- disse ainda que "espera que a sociedade brasileira se conscientize que os alimentos ficarão mais caros ao aplicar essa lei e continue externando sua insatisfação com essa 'cartelização' do setor de transporte rodoviário com consentimento dos poderes Executivo e Legislativo".

Para a empresa, o tabelamento de frete é um atraso ao modelo econômico-social brasileiro e traz enormes impactos financeiros para a população que mais necessita de alimentos. "É um desrespeito aos grandes avanços e ganhos de eficiência e produtividade promovidos pelo agronegócio brasileiro, dentro e fora das propriedades rurais."

O Brasil é líder global na exportação de soja e o segundo maior em embarques de milho, sendo também o maior exportador de carnes de frango e bovina, café, açúcar e suco de laranja.

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