Local da queda do Boeing 737 Max da Ethiopian Airlines; acidente aéreo deixou 157 mortos (Tiksa Negeri/Reuters)
AFP
Publicado em 17 de março de 2019 às 15h09.
Última atualização em 21 de março de 2019 às 11h30.
Os dados das caixas-pretas do Boeing 737 MAX 8 que caiu em 10 de março a leste de Adis-Abeba, matando 157 pessoas, mostram "semelhanças claras" com a queda, em outubro, de um avião do mesmo modelo pertencente à companhia Lion Air, anunciou neste domingo (17) a ministra etíope dos Transportes.
"Durante a análise da caixa que registra os dados do voo (FDR-Flight data recorder), foram observadas semelhanças claras entre o voo 302 da Ethiopian Airlines e o voo 610 da Lion Air", afirmou a ministra Dagmawit Moges em coletiva de imprensa, especificando que o relatório preliminar sobre as causas do acidente na Etiópia será publicado em 30 dias.
O avião da Lion Air caiu em outubro, no litoral da Indonésia, com 189 ocupantes, que não sobreviveram.
A ministra não enumerou as semelhanças e informou que o informe preliminar do acidente com o avião da Ethiopian Airlines será publicado em 30 dias.
As caixas-pretas encontradas no local do acidente, o FDR, assim como o gravador com os diálogos na cabine, foram enviadas para a França para a extração da informação.
No domingo, o escritório de investigação e análise (BEA) francesa anunciou no Twitter que "os dados contidos (nas caixas-pretas) foram extraídos com êxito" e "entregues à equipe de investigadores etíope".
Desde o acidente, vários especialistas aludiram a semelhanças entre os acidentes de março e outubro.
Como no caso da companhia indonésia Lion Air, a queda do Boeing de Ethiopian Airlines se ocorreu logo após a decolagem. As duas aeronaves experimentaram subidas e descidas erráticas e velocidades de voo flutuantes antes de cair.
A investigação do acidente do Boeing da Lion Air apontou como causa o mau funcionamento do sistema de estabilização de voo destinado a evitar a perda de sustentação da aeronave, o MCAS (Manoeuvering Characteristics Augmentation System).
O MCAS foi introduzido pela Boeing no modelo 737 Max 8 porque seus motores - mais pesados e eficientes no uso do combustível - alteraram as qualidades aerodinâmicas da aeronave e podiam fazer com que o nariz do avião levantasse em certas condições durante o voo manual.
O sistema MCAS põe o avião em "picada", quando o avião entra em perda (falta de sustentação) para ganhar velocidade com base em uma interpretação equivocada neste caso.
O diretor da Boeing, Dennis Muilenburg, anunciou neste domingo que a empresa está "finalizando" o desenvolvimento de um corretivo ao sistema MCAS.
"A Boeing está finalizando o desenvolvimento de uma atualização já anunciada do programa e a revisão do manual de formação de pilotos para responder aos erros dos captores do MCAS", declarou Muilenburg em um comunicado.
O New York Times reportou na quinta-feira que o piloto do Boeing 737 MAX de Ethiopian Airlines teve uma situação de urgência logo após a decolagem, que o levou a pedir com "voz de pânico" para voltar enquanto a velocidade do avião aumentava perigosamente.
O acidente com o voo 302 da Ethiopian Airlines deixou 157 mortos, de 35 nacionalidades. Foi o segundo acidente com o mesmo modelo de avião em cinco meses, o que levou autoridades de vários países a suspender o uso deste aparelho.
A autoridade de regulamentação aérea americana, FAA, defendeu no domingo seu processo de certificação do 737 MAX e do MCAS, questionados por uma investigação do Seattle Times, o jornal da cidade onde a Boeing desenvolve grande parte de suas atividades, que sustenta que o procedimento de certificação foi feito em 2015 às pressas.
A FAA teria delegado grande parte da certificação do 737 MAX e do MCAS a engenheiros da Boeing.
Peter DeFazio, presidente do Comitê de Infraestrutura e Transporte da Câmara de Representantes, planeja iniciar uma investigação sobre a certificação do 737 MAX, disseram fontes do Congresso.
Michel Merluzeau, analista do AirInsight, pediu um processo cauteloso. "Pode ser necessário voltar a examinar o que funciona e o que não funciona (no processo de certificação), mas não deve se fazer emocionalmente", disse.
Outro analista, Richard Aboulafia, do Teal Group, disse que a credibilidade da FAA está em jogo, "como está a da Boeing. E o sistema global de reciprocidade de certificação de aeronaves também está em risco", destacou.
Neste domingo, os etíopes foram à catedral da Santíssima Trindade, na capital, para uma cerimônia fúnebre de 17 concidadãos mortos no acidente que deixou 157 mortos de 35 nacionalidades.
A cerimônia começou quando os caixões cobertos com a bandeira etíope chegaram à catedral em caravana, em carros funerários.
Ignora-se o que os caixões continham. Testemunhas do acidente contaram que o avião caiu em picada em um campo a sudeste da capital, e por isso a força do impacto deixou poucos corpos intactos.
Na quinta-feira, quando as famílias foram visitar o local da queda, a AFP viu alguns parentes enchendo garrafas de plástico com terra.
O governo etíope informou que a identificação dos restos pode demorar até seis meses.