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Brasileira cria universidade nos EUA, fatura US$ 20 milhões e mira IPO

Filha de um dos fundadores do grupo Anhanguera, Giulianna Carbonari Meneghello criou a MUST University nos Estados Unidos, aposta no ensino online e planeja triplicar o número de alunos

Giulianna Carbonari Meneghello, da MUST: preparação para latino-americanos com mentalidade empreendedora (Divulgação/Divulgação)

Giulianna Carbonari Meneghello, da MUST: preparação para latino-americanos com mentalidade empreendedora (Divulgação/Divulgação)

Karla Dunder
Karla Dunder

Freelancer

Publicado em 18 de dezembro de 2025 às 17h56.

Última atualização em 18 de dezembro de 2025 às 18h07.

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O ensino superior mudou de lugar. Saiu do campus físico, ganhou escala digital e passou a atender um aluno mais velho, que trabalha e busca retorno direto na carreira. Nesse novo mercado, a disputa é menos por prestígio acadêmico e mais por acesso, preço e aplicabilidade.

É nesse contexto que surge a MUST University, universidade americana fundada por brasileiros e sediada na Flórida. Criada em 2017, a instituição oferece especialização, mestrado e doutorado 100% online, com foco em profissionais da América Latina.

A história ganha relevância agora porque a MUST fechou 2025 com faturamento de US$ 20 milhões, cerca de 10.000 alunos ativos e um plano explícito de crescimento: chegar a 30.000 estudantes e abrir capital em até 5 anos.

“A MUST University não apenas oferece educação: nós preparamos ativamente os profissionais latino-americanos com uma mentalidade empreendedora para competir e liderar no mercado global”, afirma Giulianna Carbonari Meneghello, presidente da instituição.

O próximo ciclo envolve acreditação nos Estados Unidos, expansão internacional e novos produtos educacionais voltados à educação continuada.

Da fila de matrículas ao comando

A trajetória de Giulianna começa cedo. Em 1992, ainda jovem, ela fez a primeira matrícula da faculdade criada por seus pais em Leme, no interior de São Paulo — embrião do que viria a se tornar o grupo Anhanguera Educacional.

Publicitária de formação, construiu carreira no marketing educacional e passou por todas as fases do negócio: captação de alunos, call center, crescimento acelerado, abertura de capital e saída da família do controle.

“Eu comecei duas vezes do zero na educação”, diz.

Entre uma fase e outra, empreendeu fora do setor. Durante 8 anos, foi franqueada de marcas como Hering, Hope e Havaianas, chegando a operar 12 lojas. A experiência no varejo virou base prática para os cursos de empreendedorismo que hoje fazem parte do portfólio da MUST.

A decisão de ir para os EUA — e apostar no online

Em 2017, já morando nos Estados Unidos, Giulianna decidiu fundar uma universidade americana com um foco claro: pós-graduação para brasileiros e latino-americanos. Desde o início, fez duas apostas consideradas arriscadas à época.

A primeira foi o modelo 100% online, antes da pandemia. A segunda, a entrega dos cursos em português.

“Quando perguntaram como a gente queria entregar os programas, meu pai disse: online. E quando perguntaram o idioma, ele falou: português”, afirma.

Hoje, o português é o primeiro idioma da universidade. O espanhol é o segundo. O inglês fica restrito à documentação oficial e ao diploma, exigência legal por se tratar de uma instituição americana.

A estratégia afastou a MUST da concorrência direta com universidades tradicionais dos Estados Unidos e abriu espaço entre profissionais que já trabalham, têm pouco tempo e buscam progressão de carreira.

Pandemia, escala e tecnologia

A pandemia acelerou o modelo. Turmas pequenas deram lugar a centenas de alunos. A indicação entre estudantes passou a ser o principal motor de crescimento.

“Hoje, 70% dos nossos alunos vêm por indicação de outros alunos”, diz Giulianna.

A universidade nasceu digital e investiu em tecnologia desde o início: metodologias ativas, sala de aula invertida, sistemas antiplágio — como o Cop Spider — e plataformas de gestão acadêmica com inteligência artificial, tecnologia usada para identificar dificuldades ao longo do curso.

“Hoje a gente consegue detectar quando o aluno está travando no trabalho de conclusão”, afirma.

Além disso, a MUST mantém encontros síncronos, eventos ao vivo, tradução, recursos de acessibilidade e um Centro de Felicidade e Bem-Estar Universitário, criado para apoiar alunos que, em sua maioria, têm mais de 40 anos e acumulam múltiplos empregos.

Os números e o plano de crescimento

A MUST fechou 2025 com US$ 20 milhões de dólares e margem operacional entre 30% e 35%, segundo a presidente. São cerca de 10.000 alunos, distribuídos entre cursos de especialização, mestrado e doutorado.

Nos próximos 3 a 5 anos, a meta é triplicar essa base e chegar a 30.000 estudantes. Para isso, a universidade busca acreditação institucional nos Estados Unidos — um selo que valida padrões de qualidade, permite acesso a recursos públicos e abre espaço para doações privadas.

“Em um ano e meio, se tudo correr como esperado, estaremos acreditados”, afirma.

O plano de longo prazo inclui captar investimentos e, eventualmente, abrir capital. “Quem sabe pela segunda vez ir para a bolsa de valores”, diz Giulianna, que acompanhou de perto esse processo na trajetória da família no Brasil.

Educação continuada e novos mercados

Além do crescimento em alunos, a MUST prepara a expansão do portfólio. O próximo lançamento é a Escola de Educação Continuada, com mais de 60 cursos de microcertificação em áreas como inteligência artificial aplicada a profissões, empreendedorismo feminino e cidades inteligentes.

No mapa geográfico, a universidade mira novos mercados, como Portugal, Espanha e outros países da América do Sul, mantendo o foco em ensino online e em profissionais que buscam atualização constante.

“Nosso aluno pode estar em qualquer canto do Brasil ou da América Latina, mas com acesso ao mercado global”, afirma.

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