A Bombardier não teve muita escolha a não ser vender divisões para pagar dívidas (Bombardier/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 22 de fevereiro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 22 de fevereiro de 2020 às 06h01.
A Bombardier está apostando tudo no imprevisível mercado de jatos executivos, mesmo sem ter uma carta na manga.
Depois de abandonar as operações de aviões comerciais e hélices e concordar em vender a divisão de equipamentos para trens de passageiros para a Alstom, a única atividade restante da empresa canadense será a fabricação e manutenção de jatos executivos. É um risco que nenhuma concorrente encarou.
As fabricantes dos jatos executivos com as marcas Gulfstream, Falcon, Cessna e Legacy têm unidades de defesa ou outros negócios que ajudam a compensar os períodos de vacas magras que atingem esse mercado de tempos em tempos. Durante a última recessão, o número de entregas de jatos particulares despencou de mais de 1.100 em 2008 para 846 em 2009. Em 2018, foram 614 entregas, segundo o JPMorgan Chase, em meio a preocupações com a guerra comercial e os preços baixos das commodities.
As operações de defesa permitem que fabricantes de jatos particulares suportem períodos de fraqueza na demanda e mantenham investimentos em novos modelos de aviões, o que ajuda a impulsionar as vendas, explicou Roland Vincent, consultor de aviação que atua em Plano, no Texas. Abrir mão desse contrapeso coloca a Bombardier em uma posição mais precária do que a de seus concorrentes, segundo ele.
Enquanto as rivais têm seus negócios de defesa, a “Bombardier não tem nada”, disse Vincent. “Isso expõe a empresa a mais ciclicidade. “
A Bombardier não teve muita escolha a não ser vender divisões para pagar dívidas, de acordo com seu presidente, Alain Bellemare. A unidade de aviação comercial acumulou US$ 400 milhões em prejuízo em 2016 e estava queimando US$ 1 bilhão do caixa, explicou Bellemare na semana passada. A unidade de trens enfrentava “projetos desafiadores” este ano, que provavelmente afetariam as margens de lucro.
Por outro lado, o segmento de jatos deve registrar bom desempenho este ano. A Bombardier vai acelerar as entregas do Global 7500, o avião corporativo de maior tamanho e autonomia disponível no mercado, informou o CEO. A aeronave, que tem preço anunciado em US$ 73 milhões, entrou em operação no final de 2018 após um atraso de dois anos e todas as unidades a serem fabricadas estão vendidas até 2022. Após entregar 142 jatos executivos em 2019, a Bombardier espera entregar 160 este ano, sendo 35 a 40 do modelo Global 7500.
“Estamos extremamente bem posicionados”, disse Bellemare em entrevista à televisão BNN Bloomberg no Canadá. “Nós temos uma franquia de categoria mundial, produtos incríveis e excelentes recursos.”
As ações da companhia acumulam queda de 23% este ano. A Bombardier possui uma das maiores linhas de jatos executivos, que vai do popular Challenger 350, com 10 assentos e autonomia para viagens entre as duas costas dos EUA, ao Global 7500, que pode voar de Nova York para Hong Kong e oferece chuveiro e quarto. A fabricante de aviões também atualizou a série Global com novas turbinas e maior alcance para os modelos 5500 e 6500.
No ano passado, os jatos executivos representaram US$ 5,4 bilhões da receita da Bombardier e a carteira de pedidos pendentes estava avaliada em US$ 14,4 bilhões. Em 2018, o mercado global de aeronaves executivas movimentou aproximadamente US$ 20 bilhões, de acordo com a Associação de Fabricantes de Aviação Geral.