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BNDES busca derrubar Wesley Batista do comando da JBS

Banco culpou as informações das delações de Batista pela queda de 28 por cento do valor das ações da empresa neste ano

Wesley Batista: BNDES está fazendo de tudo para retirá-lo da JBS (Germano Lüders/Exame)

Wesley Batista: BNDES está fazendo de tudo para retirá-lo da JBS (Germano Lüders/Exame)

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Reuters

Publicado em 25 de agosto de 2017 às 10h41.

São Paulo - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ajudou a impulsionar a carreira do presidente-executivo da JBS, Wesley Batista, de dono de açougue até chegar a ser o magnata da carne mais poderoso do mundo. Agora o banco está fazendo de tudo para retirá-lo da companhia.

O acordo de delação premiada em maio, que expôs a propensão da bilionária família Batista a subornar políticos, levou a BNDESPar, braço de investimento do banco estatal, a buscar retirá-lo da JBS. O banco culpou sua conduta pela queda de 28 por cento do valor das ações da empresa neste ano.

Ambos os lados estão aumentando seus esforços para influenciar os acionistas da JBS antes da assembleia geral em 1º de setembro, que decidirá o destino de Wesley, que está no comando da empresa desde janeiro de 2011 --quando substituiu o seu irmão mais novo Joesley.

O confronto é uma lembrança das relações próximas entre agentes públicos, a JBS e a família Batista, e o apoio que Wesley ainda possui entre alguns dos acionistas da companhia. Além da saída de Wesley da presidência-executiva, os acionistas também votarão resoluções para processá-lo juntamente com outros executivos.

Embora o resultado seja difícil de prever, quase uma dúzia de banqueiros, insiders e investidores da empresa, que pediram para permanecer anônimos, não compraram completamente o argumento de Wesley, feito em reuniões com investidores em Nova York este mês, de que somente ele é capaz de finalizar duas vendas de ativos e listar em bolsa a subsidiaria dos Estados Unidos no próximo ano.

Nessas reuniões, Wesley enfatizou seu sucesso recente em fechar um acordo de refinanciamento de dívida de 6,5 bilhões de dólares e garantir o fornecimento de gado com fazendeiros apesar das preocupações de que seu acordo de delação reduziria o caixa da JBS, disseram os investidores.

Ao mesmo tempo, Wesley sugeriu que está aberto a demitir-se uma vez que conclua uma lista de negócios em sua agenda, disseram três fontes. Ele também disse que os resultados do terceiro trimestre poderiam estar entre "os mais fortes" na história da JBS por causa da recuperação da Seara e sólidas operações nos EUA.

Em uma declaração à Reuters, a JBS disse que "tem trabalhado intensamente para adotar várias medidas que visam proteger os melhores interesses da empresa e dos acionistas". A empresa não quis fazer comentários adicionais.

Enquanto alguns investidores elogiaram as habilidades de liderança do executivo de 47 anos, um deles ressaltou que um racha com o BNDES poderia ser prejudicial se Wesley permanecer. Os acionistas minoritários da JBS incluem fundos de previdência e fundo mútuos como Fidelity Investments e Vanguard Group.

Os representantes do BNDES têm tentado agressivamente convencer os investidores de que Wesley não é adequado para administrar a JBS, disseram quatro pessoas familiarizadas com a estratégia do banco. Se necessário, o BNDES, que tem uma participação de 21 por cento na JBS, poderia solicitar à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que proíba os Bastistas de votarem na assembleia de 1º de setembro, disse um deles.

Wesley e Joesley Batista controlam 42 por cento da JBS.

Partida gradual

Ainda assim, a saída do CEO poderia ocorrer de forma gradual e ordenada, disse o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, a repórteres em 8 de agosto. A Caixa Econômica Federal, que possui 5 por cento da JBS, provavelmente votará em linha com BNDES, disse.

Outra pessoa próxima à estratégia do banco disse que o BNDES não se opõe a que Wesley se junte ao comitê executivo recentemente criado pela empresa, que supervisiona a estratégia, mas não está envolvido com as operações do dia-a-dia.

Esta semana, a empresa de voto por procuração Institutional Shareholder Services Inc recomendou aos acionistas da JBS votar para processar Wesley Batista e contra os planos para aumentar o salário. O BNDES e a Caixa se recusaram a comentar.

Um fator que joga contra o plano de expulsão do CEO é a falta de potenciais substitutos, disseram alguns executivos de bancos e investidores. Ainda assim, o BNDES poderia endossar o presidente do conselho de administração Tarek Farahat como um sucessor potencial, disse uma pessoa familiarizada com a estratégia do banco.

Alguns investidores sugeriram que o BNDES, como banco estatal administrado por uma pessoa nomeada pelo presidente Michel Temer pode ter um conflito de interesses. Temer foi implicado no acordo de delação premiada dos Bastistas e tem negado qualquer irregularidade.

"Wesley ainda pode atrair o apoio dos investidores, porque não está claro qual é o plano alternativo do BNDES e ninguém quer o risco de uma mudança descontrolada", disse outro investidor.

O duplo papel do BNDES como representante do governo envolvido nas denúncias de corrupção e credor e acionista da JBS é "suspeito", disse um investidor. A maioria dos credores que participaram do acordo de refinanciamento da JBS está inclinada para o lado do BNDES, já que os compromissos para estender a dívida da JBS estão sacramentados contratualmente, disse um executivo de banco.

A JBS, que se tornou uma gigante doméstica através de uma série de aquisições locais autofinanciadas, começou a se apoiar fortemente no BNDES em 2005, quando Joesley Batista convenceu os executivos do banco de fomento de tornar a JBS em um ator global dominante, disse ele a procuradores em maio.

A empresa usou mais de 3 bilhões de dólares em empréstimos do BNDES para fazer aquisições nos Estados Unidos e em outros lugares. Quando as negócios pesaram sobre a dívida da JBS, o BNDES voltou a ajudar a empresa.

"Foi nesse contexto que a ideia de criar uma grande empresa multinacional brasileira nasceu", disse Joesley Batista aos promotores em um depoimento gravado em 3 de maio. Sem o BNDES, "não teria acontecido tão rápido", acrescentou.

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