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Billi, da Eurofarma: Governo deveria ter mais respeito por mortos da covid

Empresa doou R$ 39 milhões no combate à pandemia; para Maurizio Billi, que tem uma fortuna avaliada em 1,4 bilhão de dólares, empresas têm tomado mais consciência

(Germano Lüders/Exame)

Victor Sena

Publicado em 10 de abril de 2021 às 08h00.

Última atualização em 12 de abril de 2021 às 19h48.

Billi, da Eurofarma, sobre o engajamento do empresariado brasileiro no combate à pandemia: "não adianta dizer que isso aqui é um inferno" (Germano Lüders/Exame)

Enquanto o Brasil vive o pior momento da pandemia da covid-19, um ano depois de seu início, doações do setor privado têm sido mais uma vez requisitadas para a área da saúde e assistência social, como a oferta de cestas básicas.

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Desde o início da pandemia, 6,7 bilhões de reais foram doados, principalmente no início da crise sanitária. Neste trágico "aniversário" da covid-19 no Brasil, empresas como a farmacêutica Eurofarma voltaram a doar. Em 2020, a empresa destinou R$ 31 milhões.

No último mês de março, mais R$ 10 milhões foram endereçados para a compra de cestas básicas. Na visão do CEO da empresa, Maurizio Billi, um dos homens mais ricos do Brasil e que figura na lista de bilionário da Forbes, o compromisso social é obrigação de toda empresa.

Segundo a revista, Billi tem um patrimônio avaliado em 1,4 bilhão de dólares.

"Todo mundo que tem algum poder em mãos tem que se conscientizar da situação e 'ficar aqui'. Não adianta dizer que isso aqui é um inferno. Primeiro porque não é verdade, e segundo porque temos compromissos e responsabilidades", disse em entrevista à EXAME. Confira abaixo os principais trechos:

Como o senhor vê o cenário das doações e da responsabilidade social no Brasil?

Uma grande parte do empresariado compreende que é impossível continuar do jeito que a gente está. A distribuição de riqueza é muito cruel e há falta de chances para novas gerações. Esses meninos que nascem em favelas de pais desnutridos tem que ir para escola não para aprender, mas para ter as refeições. Isso não é sustentável em nenhum lugar, não dá. Os empresários estão começando a ter essa consciência, sobretudo os mais jovens. Acho que é uma tendência. Acho que só vai melhorar daqui para frente.

Quais são os desafios da filantropia empresarial no Brasil e para a Eurofarma?

A gente precisava também de mais políticas públicas que ajudassem a fazer isso. Cada medicamento tem um vencimento, e quando chega três ou quatro meses perto dele vencer você não consegue mais vender porque não tem tempo na cadeia fazer todas as transações. Mas ele poderia ser doado para quem tanto precisa. A gente faz isso, mas para cada doação tem que pagar 30% de imposto. Se a gente incinerar, a gente se credita de todo o imposto que usou naquele produto. É uma equação perversa, quase inacreditável Ainda falta muito para melhorar as doações, para implantar iniciativas que deram certo nos Estados Unidos, por exemplo. Mas tenho uma percepção que está mudando.

Qual é a avaliação do senhor sobre a pandemia e da administração pública sobre ela?

Em São Paulo, eu vejo os dirigentes preocupados, fazendo tudo o que está ao alcance deles. Às vezes fazem medidas erradas. Às vezes acertam e às vezes erram, mas achamos que todos têm consciência do momento terrível pelo qual estamos passando. Na esfera federal, estão como barata tonta, não sabem como fazer. Não tem uma capacidade de liderança. Ficam um ofendendo o outro. Isso não pode dar certo nunca, mas estamos nas mãos dos políticos locais. Eles tem bastante autoridade.

Nosso governo federal poderia, então, ter feito algo diferente?

Eu não sei se poderíamos ter diminuído o número de mortes, mas com toda certeza se poderia ter mostrado mais respeito pelos mortos e pelas famílias que ficaram. Acho que essa falta de respeito é muito triste, esse pouco caso.

O estado tem poderes limitados ou eles estão limitados? Qual é a responsabilidade do setor privado nesta crise?

A falta de liderança vemos todos os dias. De qualquer forma, todo mundo que tem algum poder em mãos tem que se conscientizar da situação e “ficar aqui”. Não adianta dizer que isso aqui é um inferno. Primeiro porque não é verdade, e segundo porque temos compromissos e responsabilidades. Então cada um de nós tem que procurar alguma coisa que possa fazer. Acho que é uma obrigação nossa devolver para a sociedade parte da riqueza que produzimos.

Como a Eurofarma desenvolve seus projetos de responsabilidade social?

Temos um comitê para decidir, com pessoas da Eurofarma e pessoas de fora, acionistas. Sempre é discutido o que podemos fazer para aplicar os nossos recursos destinados à responsabilidade social. Basicamente a gente crê muito nos projetos ligados à educação.

Como a Eurofarma foi impactada nesses últimos 12 meses?

Comercialmente, houve uma busca específica por algum tipo de medicamente, mas houve também medicamentos que venderam abaixo do normal por causa da pandemia. Na média, ficou equilibrado.

O que foi impactado foi a maneira de trabalhar. Quem podia ficar em casa foi para casa. Quem tinha que ficar trabalhando ficou com protocolos. Outra coisa foi dar licença para quem é do grupo de risco e precisa ficar em casa. Contratamos 500 pessoas para substituí-los.

Vocês pretendem fazer mais doações neste ano?

A gente não sabe onde vai parar isso. O quanto vamos gastar em responsabilidade social esse ano eu não faço a menor ideia. Quando fizemos o orçamento, nem achávamos que teria pandemia esse ano. Acho que vamos ter mais três ou quatro meses muito difíceis pela pandemia, mas mesmo quando diminuir vamos ter sequelas muito graves como desemprego, famílias que vão estar estraçalhadas. Esses programas vão chegar até o final do ano.

Como a empresa calcula o retorno sobre esse investimento social?

É uma oportunidade de demonstrar a filosofia da Eurofarma. Não acho que isso tenha um impacto muito significativo na percepção das pessoas. Eu acho que é uma mensagem que demora muito para chegar. Eu não sei se se tira algum valor tangível a tudo isso. O que fica é um sentimento de orgulho, em toda a equipe.

 

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