Bayer e Monsanto: uma fusão crivada de processos
Gigante farmacêutica e fabricante de produtos agrícolas divulga balanço do 2º trimestre; atenções estarão voltadas para a polêmica aquisição da Monsanto
Da Redação
Publicado em 5 de setembro de 2018 às 06h19.
Última atualização em 5 de setembro de 2018 às 06h33.
Quando a gigante farmacêutica e fabricante de produtos agrícolas Bayer divulgar, nesta quarta-feira, seus resultados para o segundo trimestre deste ano, as atenções estarão voltadas para a polêmica aquisição da fabricante de produtos químicos Monsanto. O negócio uniu duas companhias com histórico explosivo e, desde a conclusão da compra, em junho, tem sido abalado por um número crescente de processos judiciais em aberto.
No primeiro trimestre, a empresa alemã registrou queda no lucro (de 6,3%, em relação ao mesmo período de 2017) e na receita (de 5,9%, para 9, 7 bilhões de euros). Segundo a Bayer, os resultados foram prejudicados por dois motivos principais: o câmbio, que teve um efeito negativo de 160 milhões de euros no lucro; e gastos extraordinários de 78 milhões de euros, a maior parte deles relacionados à aquisição da americana Monsanto.
A compra da Monsanto —uma transação de 66 bilhões de dólares— tem se revelado fonte de preocupação para a Bayer especialmente depois que um tribunal de São Francisco, nos Estados Unidos, condenou em agosto a companhia americana a pagar uma indenização de 289 milhões de dólares a um jardineiro que afirmou ter desenvolvido câncer por causa do glifosato. A substância é usada no Roundup, um dos herbicidas mais utilizados no mundo e um dos carro-chefes da Monsanto. No dia de negociação da bolsa após o veredito, a Bayer perdeu 11 bilhões de dólares em valor de mercado.
O anúncio da fusão das empresas levou a atenção dos investidores aos detalhes legais e aos obstáculos regulatórios que a operação poderia enfrentar. A decisão do tribunal de São Francisco, no entanto, mostrou um novo risco para a Bayer: o de não sair dos bancos dos tribunais. Segundo a própria Bayer, o número de ações judiciais contra o herbicida da Monsanto estava em 8.000 no final de julho —anteriormente, a companhia havia informado um número de 5.200 casos semelhantes.
No Brasil, o uso do glifosato estava suspenso por decisão judicial, mas foi liberado na segunda-feira para ser usado na próxima safra. Segundo o Ministério da Agricultura, sem o herbicida a safra de grãos seria fortemente prejudicada.
Como se não bastasse, reportagem da Bloomberg afirma que outro produto da Monsanto, o herbicida dicamba, está sendo contestado nos tribunais dos EUA. Pelo menos 181 fazendeiros, em oito estados americanos, estão processando a Monsanto por compensações por culturas de soja, algodão, árvores frutíferas e vegetais prejudicados pelo dicamba. O problema do herbicida, segundo os processos em aberto, é que ele pode evaporar depois de ser aplicado a sementes geneticamente modificadas e se espalhar para plantações não resistentes ao produto.
Segundo um analista ouvido pela Bloomberg, a Bayer pode vir a enfrentar 5 bilhões de custos legais e pagamentos de ações, como resultado da aquisição da Monsanto. A empresa alemã anunciou que abandonaria o nome Monsanto, numa tentativa de se livrar da imagem negativa associada por décadas à companhia. A própria Bayer conseguiu limpar sua imagem após ter fabricado, por exemplo, o gás usado em câmaras de execução na Segunda Guerra. Não conseguiu, contudo, se livrar dos reais problemas da Monsanto. Analistas e investidores estarão de olho em pistas do tamanho desses problemas na apresentação dos resultados.