"Bar da boiadeira" faz vaquinha para abrir novas unidades e faturar R$ 90 milhões
Com aporte mínimo de R$ 5.000, qualquer pessoa pode se tornar sócia do maior grupo de bares sertanejos do Brasil
Repórter de Negócios
Publicado em 20 de dezembro de 2024 às 16h34.
Fazer uma vaquinha para expandir um negócio faz todo o sentido — ainda mais quando a empresa em questão está no setor sertanejo, o único em que "vaquinhas" fazem parte do ambiente.
Com perdão do trocadilho neste final de ano, mas foi exatamente essa a estratégia escolhida pela Fancore Group , maior rede de bares sertanejos do Brasil, para acelerar sua expansão nacional.
O objetivo da vaquinha é arrecadar 3,5 milhões de reais para abrir novas unidades de seus bares temáticos, investir em tecnologia e alavancar projetos futuros, como produtos próprios e um software para gestão de bares e restaurantes.
Nesse modelo de captação de recursos, parte da empresa é vendida num sistema de crowdfunding. Qualquer pessoa pode investir a partir de 5.000 reais, se tornando sócia da operação.
O teto da rodada é de 3,5 milhões de reais, o equivalente a 10% do valor total da companhia, avaliada em 35 milhões de reais. O processo é regulado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e os investidores têm acesso a informações financeiras periódicas da empresa, além da possibilidade de receber dividendos.
“O crowdfunding conecta pessoas que acreditam no negócio e querem fazer parte dele, mesmo sem grandes valores para investir”, afirma Carlos Eduardo Mariani, CEO da Pitch N’ Play, plataforma que organiza a rodada. "No caso da Fancore, o apelo é ainda maior porque eles têm uma base de clientes fiéis e apaixonados, que agora podem se tornar sócios."
Em que o dinheiro será aplicado
Com os recursos captados, a Fancore planeja abrir novas unidades dos bares Agrobar e Agroville, fortalecer a franquia Folks Pub e impulsionar o Toterus, software de gestão próprio do grupo.
Parte do dinheiro será destinada também a marketing, criação de novos produtos e eventos para atrair franqueados.
“Nosso foco é acelerar o crescimento, com tecnologia e inovação para se destacar ainda mais no mercado”, diz JP Albuquerque, CEO da Fancore.
A previsão para 2025 é arrojada: faturamento de 90 milhões de reais, mais de 30 novas unidades em operação e uma presença consolidada nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
"Estamos no momento certo para crescer, e o crowdfunding é uma forma de trazer nossos clientes para dentro do negócio", afirma JP.
Qual a história do Fancore
JP Albuquerque, como João Paulo é conhecido, sempre foi admirador de uma boa festa. Se fosse sertaneja, então, melhor ainda. Morador de Londrina, porém, tinha dificuldade de encontrar baladas assim na cidade.
O incômodo pessoal levou Albuquerque a estudar o mercado de maneira mais aprofundada. A oportunidade era clara: um negócio capaz de atender ao público sertanejo, até então desassistido de experiências em menor escala. Foi assim que nasceu o Folks Pub em 2014. A operação era uma rede de bares sertanejos no modelo de pubs, tradicional modelo de bar inglês de música ao vivo e com artistas locais.
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“Como lar do sertanejo e sertanejo universitário, Londrina deveria ser a casa desse negócio”, diz o empresário.
Aos poucos, a operação foi ganhando escala. Um ano após a abertura, abriu uma segunda unidade em Londrina. Depois foi a vez de Sorocaba, Campinas e São Paulo. Em 2019, passaram a crescer, também, por franquia. Olhando para cidades pequenas, sugeriram uma nova opção, chamada Agrobar. Hoje, essa modalidade, menor, conta com quatro bares abertos e outros sete por abrir.
Agora nos meados do ano, uma terceira modalidade será inaugurada: o Agroville, temático sobre o universo sertanejo, mas para crianças. "É um modelo que a gente já tinha essa ideia antes da pandemia, mas a gente resolveu trazer de volta à vida agora”.
A nova operação terá um estilo de “fazendinha” e também ficará disponível para ser franqueada. Para o desenvolvimento da marca e entrega da primeira unidade, que já está em obras, o investimento foi em torno de 3,5 milhões de reais.
“Como modelo de negócio, começamos apostando no agronegócio e no sertanejo, mas queremos ir além”, diz JP. “Nosso objetivo é sermos uma marca que conquiste fãs, mas das mais diversas categorias”.
Os desafios do modelo de negócio do Crowdfunding
Embora seja uma ferramenta inovadora, o crowdfunding ainda enfrenta barreiras no Brasil. Uma delas é a falta de conhecimento do público sobre o modelo.
"Muita gente associa o crowdfunding apenas a doações ou projetos sociais, mas o crowdfunding de investimentos é diferente. Aqui, você de fato se torna sócio da empresa", afirma Mariani, da empresa que organiza este modelo de negócio.
Outro desafio é o tíquete médio. No Brasil, investidores costumam ser mais conservadores, com aportes menores do que em mercados mais maduros como os Estados Unidos.
“Apesar disso, o setor de economia criativa e entretenimento, onde a Fancore atua, tem um apelo emocional muito forte, o que ajuda a engajar investidores”, diz.
Aposta no público sertanejo
A estratégia da Fancore se apoia em um mercado consolidado: o sertanejo.
No Brasil, o gênero é mais do que música — é cultura e estilo de vida.
"Das 10 músicas mais ouvidas no Spotify, seis são sertanejas", diz Mariani. Essa popularidade se reflete em eventos, produtos e, claro, no consumo em bares e restaurantes.
Além disso, a entrada da Agroplay como sócia fortalece ainda mais o apelo do grupo. Artistas como Ana Castela, que estão entre os principais nomes do gênero, são também parceiros da Fancore, já que são sócios da Agroplay.
"Isso traz uma sinergia única para as marcas. Estamos falando de fãs que agora podem se tornar sócios e compartilhar do crescimento da empresa", diz JP.
Aliás, fãs do gênero e das marcas de bares são as apostas para investirem neste momento.
“Estamos falando de fãs que frequentam os bares, franqueados que já conhecem o modelo e até admiradores da música sertaneja que querem fazer parte do sucesso da marca”, diz JP.
Próximos passos: tecnologia e novos produtos
Com a conclusão da rodada de crowdfunding, a Fancore quer acelerar seus projetos mais inovadores.
O Toterus, software de gestão de bares e restaurantes do grupo, deve ser uma das prioridades. A ideia é levar a tecnologia para outras operações, ampliando a base de clientes.
"Hoje o sistema atende apenas as nossas marcas, mas ele tem potencial de mercado enorme", afirma JP.
Além disso, o grupo planeja criar produtos próprios, como bebidas e itens temáticos, e expandir o Agroville para novos formatos. “Estamos pensando em versões menores do Agroville, que possam ser replicadas em cidades menores, mantendo a experiência temática”, diz.
Para JP, o futuro é claro: “Queremos ser referência em tecnologia e gestão no mercado de entretenimento. O crowdfunding é apenas o primeiro passo para nos aproximarmos ainda mais dos nossos clientes e crescermos juntos.”