Bento XVI: normas para dar mais transparência ao Banco do Vaticano (Stefano Carofei/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 11 de fevereiro de 2013 às 11h31.
São Paulo – O papa que sucederá Bento XVI, que deixará o cargo de sumo sacerdote da Igreja Católica em 28 de fevereiro, não se dedicará apenas a questões de fé e religião. Sob seu comando, estará também o Istituto per Opere di Religione (IOR), mais conhecido como o Banco do Vaticano – uma das instituições mais misteriosas do mundo.
O banco foi fundado pelo Papa Pio XII, em 27 de junho de 1942, para administrar alguns ativos da Igreja Católica em meio à Segunda Guerra Mundial. A instituição não é subordinada à Santa Sé, isto é, ao corpo de sacerdotes que dirigem o Vaticano. No Anuário da Igreja, o Banco do Vaticano é listado como uma instituição de caridade, junto com algumas fundações. Por isso, não estaria sob o seu comando os bens da Igreja.
O Banco do Vaticano é comandado por um presidente e por um diretor geral que se reportam diretamente ao Papa. Em caso de vacância do cargo, como o que pode ocorrer em caso de morte ou renúncia do pontífice, eles respondem apenas ao carmelengo.
Ao longo do tempo, o banco chamou a atenção mundial por estar no centro de algumas transações polêmicas. A mais conhecida veio à tona em 1982, quando o Banco Ambrosiano faliu, em meio a um rombo de 4,7 bilhões de dólares. O Banco do Vaticano era um de seus principais acionistas.
História de cinema
O então diretor geral do Banco do Vaticano, arcebispo Paul Marcinkus, foi apontado pelas autoridades italianas como passível de ser levado a uma corte para julgamento por supostas fraudes. O sacerdote, contudo, nunca chegou a se apresentar a um tribunal, pois o Vaticano alegou que ele tinha imunidade diplomática e não poderia ser preso.
Na época, o episódio teve tanta repercussão na mídia, que inspirou parte da trama do terceiro filme da franquia O Poderoso Chefão.
O mais recente escândalo envolvendo o Banco do Vaticano ocorreu nos últimos dois anos, e levou à queda do seu então presidente, Ettore Gotti Tedeschi, no ano passado. O caso começou em setembro de 2010, quando autoridades italianas congelaram 23 milhões de euros em fundos de um banco chamado Credito Artigiano por suspeita de lavagem de dinheiro. A instituição é vinculada ao Banco do Vaticano.
O que chamou a atenção das autoridades foram duas transferências realizadas na época: uma para o banco americano JP Morgan e outra para uma instituição italiana, a Banca del Fucino. Na época, Tedeschi e o diretor geral do banco, Paolo Cipriani, não forneceram todas as informações solicitadas pela procuradoria de controle financeiro do Banco Central da Itália, levantando suspeitas sobre a origem dos recursos.
Mais público
O caso culminou na renúncia de Ettore, em maio do ano passado, em meio a suspeitas de lavagem de dinheiro e de vazamento de informações sigilosas. Para o seu lugar, foi indicado o economista brasileiro Ronaldo Schmitz, nascido em Porto Alegre.
Em meio à pressão, o Papa Bento XVI baixou uma série de normas para tornar o Banco do Vaticano mais transparente. As medidas culminaram, em meados do ano passado, em uma das raras coletivas de imprensa realizadas pela instituição. Com a presença de cerca de 50 jornalistas de todo o mundo, Cipriani procurou desfazer a imagem de “caixa preta” do banco com alguns poucos números.
Na ocasião, afirmou que o Banco do Vaticano administra 6 bilhões de euros em ativos, mantém 33.000 contas correntes e dá suporte a operações em 150 países, embora não possua agências fora do Vaticano. Em entrevista ao jornal italiano Il Mondo, Cipriani negou a existência de contas secretas ou apenas numeradas.