O mercado de seguro de vida voltou a acelerar em 2025. Cresceu perto de 13%, segundo a CNseg, puxado por renda pressionada, endividamento alto e uma demanda mais clara por proteção financeira.
Nesse ambiente competitivo, a Azos, insurtech criada há apenas cinco anos, conseguiu algo raro no setor: dobrou o faturamento pelo segundo ano seguido e levou seu capital segurado total para mais de 100 bilhões de reais.
No centro dessa curva está uma empresa jovem. Fundada em 2020, a Azos nasceu do incômodo pessoal do CEO e cofundador Rafael Cló, mineiro, engenheiro e ex-Kraft Heinz, que viu seu seguro de vida ser cancelado por falhas do processo tradicional.
A insatisfação virou oportunidade: construir um sistema do zero, com apólices emitidas em 30 segundos, inteligência artificial e foco total no corretor.
Neste ano de 2025, a empresa não só captou 170 milhões de reais na Série B, liderada pela Lightrock, com participação de Kaszek Ventures, Prosus, Munich Re Ventures, Maya Capital e o investidor Kevin Efrusy (Facebook) — uma das maiores rodadas de insurtechs da América Latina no ano — como ampliou a rede para 11 mil corretores, pagou 65% dos sinistros em até 8 dias úteis e empurrou o setor para uma disputa mais dura por velocidade, precisão e escala.
“O seguro é uma promessa de pagamento futuro. A pergunta sempre foi se uma empresa de 5 anos conseguiria entregar isso com credibilidade. Em 2025, a inteligência artificial virou uma camada central dessa resposta, da subscrição ao pós-venda”, afirma Cló.
O desafio daqui para frente é sustentar a aceleração. Em 2026, a companhia mira 60 bilhões de reais em novos capitais segurados, reduzir o prazo médio de sinistros para perto de 5 dias úteis e ampliar o portfólio para doenças graves, sucessão empresarial e proteção infantil.
A história por trás da insurtech
Rafael Cló passou quase uma década fora do Brasil antes de criar a Azos.
Fez consultoria, migrou para a Kraft Heinz e decidiu estudar em Stanford, referência global em empreendedorismo. A virada aconteceu quando tentou ajustar os dados de pagamento da própria apólice de seguro de vida no Brasil.
O processo se arrastou por ligações, documentos e instruções desencontradas.
“Pediram que eu enviasse uma carta escrita de próprio punho para cancelar o contrato. Ali eu vi o tamanho do problema”, diz.
A pandemia acelerou o plano. A combinação de digitalização forçada, maior preocupação com risco e um mercado ainda pouco penetrado abriu espaço para novas teses.
“O brasileiro não tem cultura de seguro de vida. A pandemia sensibilizou. O mercado cresceu quase 20% ao ano desde 2020”, afirma.
Os primeiros desafios
O início não teve glamour. Eram três fundadores sem experiência prévia em seguros. O primeiro mês registrou seis sinistros abertos, número alto para uma operação recém-lançada.
“Tomamos um susto. Tivemos que travar a plataforma para alguns perfis até ajustar o algoritmo antifraude”, diz Cló.
O episódio marcou o estilo da operação: cautela, dados e controle fino de risco.
Ganhar a confiança dos corretores foi outro obstáculo. A dúvida era direta: por que distribuir um produto de uma insurtech de 5 anos e não de uma seguradora centenária?
Essa barreira só começou a ceder com os aportes, entre eles da Munich Re — maior resseguradora global.
A primeira rodada, ainda em 2020, foi de 400 mil reais, puxada por empreendedores e executivos que conheciam o ciclo de construção de startups.
Na sequência vieram Kaszek, Maya, Propel e Prosus. A entrada da Munich Re Ventures, primeiro aporte da gigante alemã em uma insurtech da América Latina, consolidou a tese.
Em 2025, a Lightrock liderou a Série B de 170 milhões de reais. Somando todas as captações, a Azos ultrapassou 250 milhões de reais em recursos levantados.
A operação por dentro
A empresa usa modelos proprietários de IA para subscrição, atendimento e retenção. Entre eles:
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AtendeAI, assistente que automatiza dúvidas e reduz o tempo de resposta.
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Rivaldo Churn, copiloto de retenção que dobrou a reversão de cancelamentos em 30 dia.
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MonitoraAI, ferramenta que analisa 100% das interações e orienta decisões com base nos dados.
A plataforma de sinistros também ganhou um fluxo em tempo real. O resultado: 65% dos pagamentos liberados em até 8 dias úteis, contra uma média de 30 dias no mercado. O NPS segue acima de 85 pontos entre clientes e corretores.
Em 2025, a companhia abriu bases em Fortaleza, Campinas, Manaus, Natal, São José do Rio Preto e Passo Fundo, reforçando presença local sem perder atuação nacional.
A base ativa cresceu 40% no ano. O programa Azos+, voltado ao relacionamento com parceiros, já reúne 430 corretores, dos quais 21 alcançaram o nível Azos Partner, com certificado de “sócio”. Para esse grupo, o limite de capital segurado subiu para 5 milhões de reais.
Os planos para 2026
Entre os lançamentos previstos estão:
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Doenças Graves para crianças
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Assistência funeral ampliada
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Seguro de vida voltado à sucessão empresarial
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Novos modelos algorítmicos para risco e experiência
O foco segue em três frentes: escala, inteligência de risco e eficiência no sinistro.
“O momento mais importante da jornada do cliente é o sinistro. É ali que a promessa vira realidade”, afirma Cló.
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