Empresas americanas: algumas companhias se posicionaram na sexta-feira sobre a revogação do direito ao aborto a nível federal (Al Drago/Bloomberg via Getty Images/Getty Images)
AFP
Publicado em 26 de junho de 2022 às 16h36.
Algumas empresas dos Estados Unidos se posicionaram na sexta-feira sobre a revogação do direito ao aborto a nível federal, prometendo reembolsar os gastos médicos de seus funcionários. Porém, essa decisão tem risco legal, e inclusive reações políticas.
A decisão da Suprema Corte "põe em perigo a saúde das mulheres, priva-as de direitos e ameaça desmantelar os progressos que fizemos pela igualdade de gênero no local de trabalho" desde a sentença de 1973 que garantia o acesso ao aborto, disse o chefe da Yelp, Jeremy Stoppelman.
"As lideranças empresariais devem falar agora e pedir ao Congresso" que consagre este princípio na legislação, acrescentou, em mensagem publicada no Twitter.
Poucas empresas importantes foram tão contundentes em sua condenação da decisão da Suprema Corte.
Algumas companhias se comprometeram a garantir que suas funcionárias, onde quer que trabalhem, possam ter acesso à interrupção de gestação, reembolsando seus gastos de viagem para um estado onde o procedimento médico seja legal.
Algumas empresas, como Yelp e Airbnb, já haviam dado esse passo em setembro, após a entrada em vigor de uma lei no Texas que proíbe todos os abortos desde o momento em que os batimentos cardíacos do feto são visíveis em uma ultrassonografia.
Pouco a pouco, outras companhias, como Citigroup, Tesla e Amazon, modificaram a cobertura sanitária oferecida a seus funcionários.
Outra onda, que incluía Starbucks, Levi Strauss e JPMorgan Chase, veio depois de um vazamento na imprensa, no início de maio, que anunciava a possibilidade de a Suprema Corte voltar atrás na questão do aborto.
Alguns se juntaram a essas empresas na última sexta-feira, como a Disney, que enviou um memorando aos funcionários assegurando que a companhia se comprometia a proporcionar acesso a um atendimento de qualidade "independentemente de onde vivam", segundo a emissora CNBC.
Muitas empresas permaneceram em silêncio, mas isso não quer dizer que não ofereçam os mesmos benefícios em seus planos de saúde.
Mas falar publicamente sobre o tema é uma faca de dois gumes, aponta Maurice Schweitzer, professor da Universidade de Wharton, na Pensilvânia.
"Por um lado, querem se envolver, dar o exemplo, porque é importante para seus funcionários, especialmente no setor de tecnologia", diz.
Sobre a imigração, os direitos LGBTQIA+, as armas, o racismo... vários grandes executivos decidiram se pronunciar publicamente. Porém, sobre o aborto, "o panorama legal vai mudar", opina Schweitzer.
A Lyft, por exemplo, se comprometeu a pagar os gastos na Justiça dos motoristas que sejam levados a julgamento por transportar uma mulher para outro estado para abortar.
Também pode haver consequências legais para as mudanças nas coberturas de saúde das empresas.
Os executivos também levam em conta o recente revés da Disney na Flórida.
Inicialmente, a empresa havia decidido não se posicionar contra a lei que proíbe o ensino de temas relacionados com a orientação sexual e a identidade de gênero nas escolas de ensino fundamental.
A pedido dos funcionários, o chefe Bob Chapek acabou se tornando um crítico ferrenho da lei, o que provocou a ira do governador conservador Ron DeSantis e levou à eliminação de um status administrativo favorável do qual a Disney World desfrutava no estado desde a década de 1960.
Ao final, segundo Schweitzer, o caso "frustrou os funcionários, que culparam a empresa por não ter se posicionado antes" e "custou dinheiro pela reação dos políticos".