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App de táxi feminino é criado para combater assédio e desemprego no Egito

Fyonka atualmente emprega 30 motoristas e treina mais 200 para, pouco a pouco, abrir as portas para "empregos tradicionalmente não aceitáveis" para mulheres

Logo do app Fyonka (Fyonka/Divulgação)

Logo do app Fyonka (Fyonka/Divulgação)

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EFE

Publicado em 1 de abril de 2019 às 07h10.

Cairo — Dois homens egípcios que estudaram em Londres se inspiraram no papel ativo das mulheres em uma sociedade aberta como a britânica e retornaram ao país natal para desenvolver um aplicativo de táxi feminino, a fim de frear o assédio sexual e oferecer trabalho às mulheres, as mais afetadas pelo desemprego no Egito.

Mostafa El Kholy e Abdallah Hussein, dois jovens egípcios de 26 anos, lançaram há dois meses o Fyonka (Laço, em árabe), um app similar ao Uber, mas que só as mulheres podem usar, tanto motoristas como clientes.

"Em Londres vimos que as mulheres desempenham um papel proeminente na sociedade. Podem trabalhar em qualquer coisa e são livres para fazer o que quiserem", explicaram à Agência EFE os empreendedores, que lamentam que no Egito existam "barreiras familiares e sociais" que impedem as mulheres de trabalharem em certos setores, como o táxi.

O Fyonka atualmente emprega 30 motoristas e treina mais 200 para, pouco a pouco, abrir as portas para "empregos tradicionalmente não aceitáveis" para mulheres, embora essa não seja a única meta.

Apesar de ter 100 milhões de habitantes, a população ativa do país conta com apenas 5,3 milhões de mulheres. A taxa de desemprego feminino é de 21,4%, o triplo do que ocorre entre os homens, segundo a agência de estatísticas do governo. De acordo com dados da ONU, quatro em cada cinco mulheres sofrem diariamente alguma forma de assédio sexual nos táxis e no transporte público do Egito, país no qual 99,3% das mulheres já foram assediadas ou abusadas sexualmente em algum momento da vida, segundo a mesma fonte.

"É por tudo isso que quisemos fazer algo para as mulheres egípcias", argumentaram os empresários, que conseguiram enxergar de Londres um "nicho de mercado" no Egito. Os olhares, comentários e aproximações dos motoristas são constantes, por isso "muitas jovens queriam este serviço, por causa da insegurança", relatou El Kholy.

Nermin Nour é motorista, trabalhou para outras empresas de táxi e, embora diga que pessoalmente não sofreu nenhum "incidente grave", aos 45 anos decidiu se juntar à frota de 30 motoristas do Fyonka para garantir a própria segurança e assegurar que as jovens egípcias cheguem "sãs e salvas" em casa. Para ela, no melhor dos casos, os motoristas "falam de forma insinuante com as meninas e fumam dentro do carro enquanto as olham para que se sintam incomodadas", o principal motivo pelo qual as egípcias sempre optam pelos assentos traseiros.

O Egito vivenciou uma grande polêmica nas redes sociais no ano passado, quando uma jovem do Cairo divulgou um vídeo no qual batia em um taxista que acariciou sua perna, situação que decidiu denunciar para quebrar o silêncio que milhares de egípcias mantêm diariamente.

"É óbvio que (o Fyonka) é mais seguro para as mulheres. Ela podem se sentar de uma forma natural, sem precisarem se preocupar com a posição do corpo e sem nenhum risco", descreveu a motorista.

Com o app, já disponível há algumas semanas, a usuária determina um ponto de encontro e o destino. Para garantir a segurança das motoristas e das clientes, a plataforma conta com um sistema de confirmação visual e um botão de emergência que permite bloquear o carro caso o usuário não seja uma mulher.

Após o lançamento do serviço, El Kholy e Hussein revelaram que receberam críticas pelo fato de dois homens comandarem um projeto exclusivo para mulheres. "Queremos empoderar as mulheres. Para isso, são os homens que têm que mudar porque não há igualdade de gênero. Por isso trabalhamos nesta iniciativa, para passarmos por uma mudança", justificou El Kholy.

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