Agricultor pulveriza agroquímicos em plantação 27/04/2018 REUTERS/Juan Carlos Ulate (Juan Carlos Ulate/Reuters)
Karin Salomão
Publicado em 24 de agosto de 2018 às 06h00.
Última atualização em 24 de agosto de 2018 às 08h59.
Os consumidores já pagam um prêmio pelos alimentos rotulados como livres de transgênicos. A próxima mira dos consumidores pode ser por alimentos livres de pesticidas -- em particular, livres de glifosato, o polêmico ingrediente ativo do Roundup, o herbicida que é um sucesso de vendas da Monsanto.
Neste mês, um júri da Califórnia decidiu a favor do jardineiro de uma escola, disse que o Roundup provocou o câncer que ele tem e impôs uma indenização de US$ 289 milhões. Desde então, Henry Rowlands, diretor do Detox Project, diz que está recebendo uma enxurrada de perguntas das marcas de alimentos sobre o certificado de produto livre de resíduos de glifosato que ele oferece.
O Detox Project começou a oferecer testes de glifosato em 2017. Até agora, 15 marcas foram totalmente certificadas e dezenas de outras estão pendentes, disse Rowlands. Mais de 50 marcas, de comida para bebês e mel até suplementos, entraram em contato desde o veredicto da Califórnia, disse ele.
Com o negócio da Monsanto, a Bayer enfrenta uma dor de cabeça que a aspirina não cura
Os testes estão disponíveis na indústria de moagem e panificação há vários anos, mas o interesse está crescendo, disse Rich Kendrick, diretor de desenvolvimento de negócios do Great Plains Analytical Lab em Kansas City, nos EUA. Ele citou o fato de o estado de Califórnia classificar o glifosato como carcinogênico conforme sua lei Proposition 65.
O glifosato é um elemento básico da agricultura moderna. Os agricultores o pulverizam sobre as plantas geneticamente modificadas para que se tornem mais resistentes, de modo que só as ervas daninhas morram. Como é muito usado, vestígios de glifosato já foram detectados em todos os tipos de alimento, entre eles biscoitos, cervejas, cereais, mel e aveia, e ele tem sido detectado em urina humana e leite materno.
A Bayer, da Alemanha, comprou a Monsanto por US$ 66 bilhões em junho e prometeu se defender vigorosamente contra a onda de processos judiciais contra o Roundup. A Monsanto afirma há décadas que o glifosato é seguro. Vários órgãos reguladores, entre eles a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês), concordam que é improvável que ele cause câncer.