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Após câncer, essa família do RS criou uma marca de granola que fatura milhões

Milo, Raquel e Sabrina Hartmann transformaram uma receita caseira de barrinha de cereal em um negócio de snacks de R$ 40 milhões - que deve chegar aos Estados Unidos em 2026

Milo Holovsky, Raquel Hartmann e Sabrina Hartmann, fundadores da Australia: “Foi um acidente que virou empresa. Não havia business plan, só a necessidade e a oportunidade,” diz Milo (Australia/Divulgação)

Milo Holovsky, Raquel Hartmann e Sabrina Hartmann, fundadores da Australia: “Foi um acidente que virou empresa. Não havia business plan, só a necessidade e a oportunidade,” diz Milo (Australia/Divulgação)

Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 07h04.

Última atualização em 4 de dezembro de 2025 às 13h35.

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Na vida as vezes é preciso fazer o que aquele velho ditado popular indica: “fazer do limão uma limonada”. Foi o que o casal Milo Holovsky (australiano) e Raquel Hartmann (brasileira) decidiram fazer em 2010, mas no caso deles eles transformaram uma barrinha caseira em um negócio de R$ 40 milhões.

Os dois criaram juntos uma marca de alimentos naturais (granola e barra de cereal), que ganhou o nome de Hart’s Natural e a partir deste ano passou a se chamar “Australia” – mas a empresa não nasceu de um plano estratégico, de um estudo de mercado ou de uma rodada de investimentos. Ela começou com um susto.

Aos 35 anos, recém-chegado ao Brasil após anos trabalhando como engenheiro aeronáutico na Europa, Milo recebeu o diagnóstico de câncer. Atleta de triatlo e natação, mas sem hábitos alimentares equilibrados, ele precisou transformar sua rotina — e a alimentação foi o ponto de partida.

Eu era atleta, mas não comia bem. Durante a recuperação, a única coisa que eu conseguia comer eram as barrinhas que a minha esposa Raquel fazia em casa, com base nas recomendações de nutricionistas”, conta.

Foi dessas receitas improvisadas na cozinha que nasceu a empresa. As barrinhas passaram de amigos para amigos de amigos, até chegarem às mãos de uma jornalista da Zero Hora. O texto publicado no jornal levou o produto às prateleiras do Zaffari — e o que era uma solução emergencial se tornou um negócio real.

Foi um acidente que virou empresa. Não havia business plan, só a necessidade e a oportunidade”, conta o CEO.

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Da cozinha de casa à fábrica própria no Rio Grande do Sul

O que começou com Milo e Raquel embrulhando barrinhas à mão em casa, hoje é uma operação consolidada. A Austrália (que recebeu esse nome por fazer jus à qualidade de vida saudável no país da Oceania) tem hoje 55 funcionários, fábrica própria em Montenegro (RS), produção média de 50 toneladas por mês, somando todas as linhas e distribuição nacional e presença em grandes varejistas e serviços.

Nossa inspiração sempre veio da Austrália: vida ativa, alimentação de qualidade e produtos naturais”, diz Milo.

O negócio se mantém 100% bootstrap, construído apenas com capital próprio e reinvestimento do lucro desde 2010. A empresa cresceu com a entrada da cunhada, Sabrina Hartmann, que também viveu na Austrália e é sócia desde o primeiro ano.

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Um portfólio premium e pioneiro

A Austrália opera cinco linhas de produtos:

  • Granolas premium: são 12 sabores
  • Barrinhas de proteína vegana: com 20g de proteína vegetal
  • Snacks de nuts e chocolate, vendidos no Starbucks Brasil — a primeira marca brasileira de snacks a entrar na rede
  • Barrinhas de frutas à base de tâmara
  • Barrinhas de cereal, que deram origem à marca

Com esses produtos, a empresa cresce, em média, 30% ao ano, mas os últimos meses mostraram uma guinada mais intensa:

“Registramos um crescimento de 50% no último trimestre e devemos fechar o ano com R$ 40 milhões em faturamento”, afirma o CEO.

Além da mudança de marca, Milo observa um movimento de transformação profunda nos hábitos de consumo.

“Vejo uma epidemia de má alimentação nas escolas. Muitas crianças obesas, tomando refrigerante todos os dias. Nutr influencers e nutricionistas têm feito um trabalho enorme para mudar isso”, diz.

Internacionalização: Estados Unidos, Austrália e Portugal

A marca Austrália já exportou para Peru, Uruguai e Estados Unidos antes da pandemia. Em 2020, chegou a abrir um escritório em São Francisco, mas a Covid interrompeu os planos.

Agora, a empresa retoma a estratégia com a volta prevista para os Estados Unidos para o 1º semestre de 2026, exportações também começarão na Austrália e Portugal ainda em 2026.

Estávamos prontos para lançar nos Estados Unidos quando a pandemia começou. Agora vamos retomar com força”, afirma o CEO.

Outra estratégia é chegar mais perto do consumidor no próximo ano. O core da Austrália sempre foi B2B — vendendo para redes, cafeterias, varejistas e parceiros institucionais. Mas isso está prestes a mudar.

“O ano de 2026 será para fortalecer o B2C e chegar mais forte ao varejo tradicional”, afirma.

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Uma empresa que nasceu de uma crise — e que agora mira o mundo

Com expansão internacional programada, fábrica própria e produtos premium, a Austrália vive sua melhor fase desde 2010.

Se a alimentação ajudou a salvar a minha vida, quero que nossos produtos ajudem outras pessoas também”, diz o fundador.

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