Após burnout, advogada cria incensário eletrônico e leva R$ 500 mil no Shark Tank
Bruna Estima, cofundadora da Yapuana, recebeu um investimento de R$ 500 mil no reality show; o produto inicial será lançado em março e a perspectiva é faturar R$ 1 milhão no primeiro ano


Jornalista especializada em carreira, RH e negócios
Publicado em 12 de março de 2025 às 16h29.
O empreendedorismo sempre esteve presente na vida da carioca Bruna Estima. Criada em Tarituba (RJ), uma vila de pescadores que ficou conhecida por conta das filmagens da novela "Mulheres de Areia ", ela cresceu vendo a mãe desbravar caminhos e conquistar a independência financeira. Aos 14 anos, começou a vender produtos de catálogo e cosméticos para obter sua própria renda e, depois de se formar em Direito, decidiu fundar a Estima Sociedade Individual de Advocacia.
“Sempre gostei de empreender e não me encaixava nos processos mais engessados dos escritórios”, conta. No entanto, depois de nove anos, a intensa rotina e a pressão a levaram ao burnout. “Foi um período muito difícil. Do burnout desenvolvi depressão e fui diagnosticada também com TDAH, e transtornos de ansiedade e humor”, diz. Diante disso, refletiu sobre suas escolhas e prioridades e iniciou uma jornada em busca de um novo sentido para a sua vida.
Foi nesse momento que surgiu a ideia da Yapuana, startup de bem-estar e biotecnologia olfativa com impacto positivo socioambiental e produção artesanal. Fundada em agosto de 2022, conquistou espaço rapidamente, alcançando mais de 329 mil pessoas nas redes sociais nos primeiros dois meses.
O potencial de mercado, aliado ao conceito inovador e à sustentabilidade, chamou a atenção de Carol Paiffer e Sergio Zimerman, que decidiram investir R$ 500 mil por 20% do negócio na 9ª temporada do reality show de empreendedorismo "Shark Tank Brasil”, em 2024.
Atualmente, a empresa impacta cerca de 3 milhões de pessoas e segue expandindo. O primeiro produto será lançado oficialmente em março e há cerca de 90 itens no roadmap para os próximos cinco anos. A perspectiva é atingir um faturamento de R$ 1 milhão no primeiro ano e de R$ 16 milhões até 2029.
Do Direito ao mundo das startups
Após o diagnóstico de burnout, Bruna procurou tratamento e, numa consulta, o médico ressaltou que não bastava apenas cuidar da parte física, era preciso também olhar com atenção para a mente e a alma. Decidiu, então, buscar outras abordagens, como meditação, terapias integrativas e Reiki. Mas foi no universo dos aromas que encontrou o conforto e bem-estar que precisava
“Descobri o poder da aromaterapia para o equilíbrio das emoções, mas me incomodava com os incensos tradicionais por conta da sujeira e da queima irregular; e com os difusores, que são mais difíceis de limpar”, afirma.
Resolveu pesquisar soluções mais modernas e baseadas em tecnologia no Brasil e em países da Ásia, mas, como não encontrou, decidiu desenvolver um incensário eletrônico do zero. Assim, ao lado do marido, João Antonio Tosta Esposito, que é contador e economista, criou a Yapuana. O primeiro produto, que começará a ser vendido dia 25 de março, é o “Intenso”.
Trata-se de dispositivo inteligente, alimentado por cápsulas com aromas funcionais, ativado e controlado por aplicativo com biofeedback e gerenciamento de humor, tecnologia proprietária e design brasileiro com depósito de patente. O ítem não utiliza água ou óleos essenciais puros e, além da fragrância, tem led cromoterápico e não gera fuligem.
Imersão na área e governança como pontos de partida
Já com experiência no mercado corporativo, sabiam da importância de estruturar bem a governança. Os primeiros passos envolveram a elaboração do plano de negócios e a definição do branding para consolidar a identidade da startup.
“Logo no início, trabalhamos para dar personalidade à marca, estabelecendo pontos como ‘tom de voz’, forma de comunicação e principais atributos e valores que a guiariam”, diz. Bruna explica que definiram, inclusive, os valores que não abririam mão.
“Um valor inegociável, por exemplo, é ter uma produção 100% nacional”, conta. A estratégia de gestão também foi cuidadosamente desenhada. Segundo ela, a empresa possui políticas bem definidas de diversidade e inclusão, tanto na liderança quanto na cadeia de produção. Uma das iniciativas é a valorização dos pequenos produtores, incluindo mulheres e idosos, na produção das cápsulas de aromas de incenso.
Outra iniciativa fundamental foi uma vivência aromática na Serra da Mantiqueira. Durante três dias, a dupla aprendeu sobre plantio, colheita e extração de óleos essenciais e incensos. Foi nesse evento que conheceram Theo Bibancos, neurocientista e perfumista especializado em psicologia do olfato e saúde mental, que virou sócio da Yapuana.
A empreendedora ressalta que um dos diferenciais do negócio é a preocupação com segurança e qualidade. Todos os aromas são certificados pela IFE, uma agência internacional, e seguem padrões rigorosos de qualidade, sendo veganos, rastreáveis e livres de substâncias como glúten e PH-LATIS. São 12 certificações, além da comprovação científica de benefícios como energia, autoestima, confiança, relaxamento, foco, felicidade e estado de presença.
No que se refere a capacitações e imersões no universo das startups, a aposta foi buscar iniciativas de aceleração, incluindo os programas Sebrae Prointer, Shell Iniciativa Jovem, Sebrae Win Operação e Tração, Microsoft for Startups Founders Hub, Vibra Mulheres Empreendedoras e 100 Open Startups.
“Já ouvi de um mentor que nunca seria CEO por ter TDHA”
Para Bruna, o segredo do sucesso de uma empresa vai além de um modelo de negócio inovador, exige autoconhecimento para lidar com os desafios, manter o equilíbrio e se fortalecer diante das adversidades. “Se você não está emocionalmente bem, dificilmente o restante vai avançar”, afirma.
Nesse sentido, construir uma rede de apoio e participar de conversas com outras empreendedoras são ações fundamentais. “Já ouvi de um mentor que eu não poderia ser CEO por ser TDHA. Na época, foi um baque e tive de trabalhar isso dentro de mim. Hoje, nas apresentações que realizo, faço questão de dizer que sou neurodivergente e muitas mulheres me procuram depois, pois se sentiam inseguras e vulneráveis por conta do diagnóstico”, conta.