Linha de produção da Ambev: reformulação de embalagens e aposta em bebidas premium são algumas das estratégias da empresa (Raul Junior/Exame)
Karin Salomão
Publicado em 25 de outubro de 2018 às 16h47.
Última atualização em 25 de outubro de 2018 às 17h11.
São Paulo - A Ambev, líder no mercado de cervejas no Brasil, está pressionada por todos os lados e perde espaço para concorrentes tanto no segmento mais premium quanto na base. A companhia apresentou resultados fracos para o terceiro trimestre, viu suas ações caírem 5,7% no dia e enfrenta o pessimismo de analistas para o cenário do curto prazo.
O Ebitda, de 4,45 bilhões de reais, ficou 12% abaixo da expectativa e o volume vendido de cerveja caiu 2,4%, enquanto analistas esperavam números iguais ao mesmo período do ano passado. Os gastos com marketing e os custos atrelados a vendas foram 4,5% mais baixas no trimestre, após o fim da Copa do Mundo, efeito maior que o esperado por analistas.
Não há um fator único que explique os resultados decepcionantes da companhia, mas sim pressões por todos os lados: a economia brasileira ainda não se recuperou completamente da crise, há competição mais forte no segmento premium contra a Heineken e consumidores estão migrando para cervejas mais baratas.
Historicamente, a força da Ambev está no segmento chamado de core, intermediário entre cervejas mais caras e as de base. É nesse miolo do mercado que estão suas marcas Brahma, Antarctica e Skol. Foi também esse segmento que mais sofreu com a crise econômica.
De acordo com a companhia, o mercado brasileiro de cervejas encolheu 2,5% em relação ao ano passado. A confiança do consumidor ainda está abalada e o nível de desemprego se mantém alto. Por conta disso, o volume de cerveja vendido no Brasil caiu 3,1%.
Além disso, consumidores estão migrando para cervejas mais baratas, segmento que até então a companhia não atuava por considerar pouco lucrativo. O setor de base, no qual se encaixam a Itaipava, da Petrópolis, cresceu de 19% do mercado para 25% nos últimos anos.
Para recuperar o espaço perdido, em setembro lançou a Nossa, uma cerveja feita de mandioca com preços até 40% menores que os da Skol. A mandioca usada na fabricação vem 100% de pequenos produtores locais e a produção é local, o que possibilita preços tão baixos. Outro fator que barateia o produto é opção de vendê-lo apenas em embalagens de vidro, com foco nas de 600 ml retornáveis.
"Há outros projetos para outros estados, que não serão divulgados por enquanto", afirmou o diretor-presidente, Bernardo Pinto Paiva, em teleconferência com analistas.
No extremo oposto, a Ambev enfrenta uma competição ainda mais forte com a Heineken, que reportou crescimento de dois dígitos no volume de vendas durante o terceiro trimestre do ano.
O aumento de portfólio no segmento premium ajudou em parte a compensar a queda no volume de vendas. O lucro por hectolitro foi 8,3% superior no trimestre. O segmento premium corresponde a aproximadamente 10% do mercado total. Nele, a Ambev atua com a Budweiser, Stella Artois, Corona, Original e Serra Malte. No trimestre, a Stella Artois cresceu 55% e a Corona se tornou a marca com o maior crescimento da empresa, com alta de 75% nas vendas.
"Embora a Heineken continue a ser nossa principal preocupação para a Ambev, notamos que esta implementou medidas para combater as cervejas de puro malte da Heineken, como a introdução de versões de malte puro de seus produtos, como Skol Hops (para Skol) e Brahma Extra (para Brahma)", escreveu o Bradesco BBI em relatório.
Com a melhora do cenário macroeconômico, a Ambev tem grande potencial para voltar com força a resultados mais fortes, principalmente em suas categorias mais fortes, garantiram seus executivos durante teleconferência com analistas.
Durante os últimos anos, trabalhou para reposicionar suas duas maiores marcas intermediárias, Brahma e Skol. Ajustou a identidade da Brahma, desenvolveu a linha Brahma Extra e em setembro lançou a Skol Hops, de puro malte. “Acreditamos que essas marcas irão se recuperar com o mercado e que elas estão em um bom momento após o reposicionamento”, afirmou o presidente.
No entanto, a situação não parece melhorar em um futuro próximo e analistas estão pessimistas com os resultados da companhia. "O mercado parece não ter espaço para absorver aumentos de preços, o que poderia tornar 2019 um ano desafiador para a Ambev, já que estimamos que os custos subam de 10% a 11%, a menos que vejamos uma atividade econômica mais forte", escreveu o Bradesco BBI em relatório.
"Continuamos pessimistas com as futuras dinâmicas das vendas de cerveja no Brasil em 2019, por conta da competição dura e os aumentos esperados nos custos", afirmou o banco Itaú BBA.
Apesar de ter muito trabalho pela frente para retomar o otimismo do mercado, a Ambev continua sendo a líder incontestável no Brasil - e deve manter o posto por um bom tempo.