Prédio da Philips: lógica da divisão supera qualquer resistência sentimental, diz CEO (Koen van Weel/AFP)
Da Redação
Publicado em 13 de janeiro de 2015 às 21h11.
Amsterdã - Frans van Houten diz que ama a Royal Philips NV há muito tempo. Então por que ele está planejando dividi-la?
Van Houten, CEO da Philips desde 2011, relembra visitas ao centro de ciências da empresa quando ele tinha apenas seis anos de idade.
Afinal, seu pai subiu na hierarquia da empresa e se tornou diretor de pesquisa, cargo que agora é ocupado pelo seu irmão.
Apesar de uma série de vendas de ativos, Van Houten diz que a Philips precisa de uma simplificação após um século de diversificação, em que a empresa fabricou de tudo, de barbeadores e semicondutores até televisores e torradeiras.
“A Philips estava presente até mesmo em empresas de ônibus, móveis, assentos para sanitários e só Deus sabe em que outras coisas”, disse Van Houten no seu escritório no 14° andar da sede da empresa em Amsterdã.
As dificuldades potenciais entraram mais em foco hoje quando a Philips disse que os lucros trimestrais vão sofrer devido à lentidão da demanda, às oscilações cambiais e aos atrasos na produção.
A notícia fez com que as ações da Philips caíssem até 3,5 por cento.
Nos últimos anos, a Philips vendeu sua divisão de semicondutores, suas operações aeroespaciais e sua unidade de televisões, mas em setembro Van Houten apresentou uma reforma mais drástica.
Ele vai continuar na direção de uma empresa chamada Philips, que irá se concentrar em dados e aparelhos de saúde, e o negócio de iluminação, de crescimento mais lento, será separado neste ano ou no começo de 2016.
“Falando francamente, como um cara chamado Frans, não foi uma decisão fácil”, disse Van Houten, 54, em uma entrevista em novembro.
Mas nós “temos duas grandes oportunidades de crescimento em que queremos apostar tudo e a melhor forma de fazer isso é com duas empresas específicas”, acrescentou ele.
Máquinas de café expresso
No mês passado, Van Houten concordou em comprar a Volcano Corp. por US$ 1 bilhão para se expandir no setor de imagens do coração e dos vasos sanguíneos.
Em novembro, ele comprou uma participação na Image Stream Medical Inc. para adicionar produtos que auxiliam os cirurgiões com imagens digitais dos pacientes. E há um ano, a Philips comprou uma unidade da Aerogen que fabrica inaladores portáteis.
A aposta da Philips é que os pacientes monitorarão cada vez mais a própria saúde e a nutrição com smartphones e outros dispositivos.
A medida vai combinar os produtos de saúde e os bens de consumo da Philips em uma empresa chamada HealthTech, que reunirá produtos como escâneres médicos, escovas de dentes e máquinas de café expresso.
“Os investidores entendem perfeitamente”, disse Van Houten sobre a divisão. “Eles dizem: ‘Se temos que investir de forma diversificada, então deixe-nos escolher como investir’”.
Antes da queda de hoje, as ações da Philips tinham crescido 5,5 por cento com Van Houten, rendimento inferior ao do índice de referência de Amsterdã, que subiu 14 por cento no mesmo período. A Philips teve um salto de 3,5 por cento em 23 de setembro, dia em que Van Houten anunciou a divisão, uma oscilação incomum para ações que normalmente não avançam nem recuam muito.
Resistência sentimental
A estratégia de Van Houten lhe permite mirar o setor de cuidados da saúde, mercado avaliado em mais de US$ 125 bilhões, mas empurra a Philips a competir com empresas como a Apple Inc. e o Google Inc., que oferecem monitoramento do estado físico com dados de aparelhos de vestir (“wearables”) e aplicativos para smartphones.
Apesar dos fortes laços familiares de Van Houten com a Philips – o pai trabalhou lá durante 35 anos, até 1991, e o irmão fez toda sua carreira na empresa – ele diz que a lógica da divisão supera qualquer resistência sentimental que ele possa ter sentido.
“Quando você tenta dominar as emoções ao tomar uma decisão e pensa, ‘se dentro de 50 anos eu olhar para trás, nós tomamos a decisão certa?’, então fica muito mais fácil tomar a decisão”, disse Van Houten.