Alpargatas, dona da Havaianas, mantém plano de ser mais internacional
No entanto, dificuldades com estoques e com o clima fizeram a companhia dar um passo para trás em sua internacionalização no último trimestre
Karin Salomão
Publicado em 14 de maio de 2018 às 17h00.
Última atualização em 14 de maio de 2018 às 17h00.
São Paulo – É um sonho antigo. A Alpargatas espera que suas conhecidas sandálias Havaianas estejam cada vez mais presentes no mercado internacional. O plano é que as vendas no exterior cheguem a 40% do total do faturamento até 2020.
Esse objetivo se intensificou com a mudança do comando da companhia, em julho do ano passado. A J&F, controladora da JBS, vendeu a empresa para Itaúsa – Investimentos Itaú S.A., Cambuhy Investimentos e a Brasil Warrant Administração de Bens Empresa S.A (BW), por 3,5 bilhões de reais.
Recentemente, ela inaugurou sua operação na Índia, com uma joint venture, e em Hong Kong, com a abertura de um escritório. Em março, inaugurou a operação própria na Colômbia.
Ela já tem operações próprias na Argentina, Estados Unidos e Europa, de onde atende o Oriente Médio e a África. A empresa tem 195 lojas da Havaianas no exterior, de um total de 630.
No entanto, dificuldades com estoques e com o clima fizeram a companhia dar um passo para trás em sua internacionalização no primeiro trimestre do ano.
Foram vendidos 21% menos pares de sandálias no exterior do que no ano passado. As receitas internacionais caíram 4,4%, mesmo com a valorização do dólar e do euro que impulsionaram o resultado em reais. A participação das vendas internacionais de sandálias, no faturamento total, foi de 23% a 20% no primeiro trimestre do ano.
Na Europa, o inverno se prolongou mais que o previsto, prejudicando as vendas de sandálias, mais apropriadas para o calor. Além disso, por um gargalo no centro de distribuição, certas peças que entrariam no mercado em março foram vendidas apenas em abril.
Já na Ásia e Pacífico, a companhia teve um problema de estoque com dois países tradicionalmente fortes para a companhia - compraram mais do que conseguiam escoar. A situação já foi ajustada, afirmou Márcio Utsch, diretor-presidente da Alpargatas em entrevista exclusiva ao site EXAME, mas a retomada das vendas ainda deve demorar um pouco.
Melhora no Brasil
Apesar de um cenário externo desafiador, a receita líquida da companhia cresceu 11,7%, para 902 milhões de reais. O lucro bruto aumentou 16,7%, para 408,8 milhões de reais.
O motor do crescimento veio do carro-chefe da companhia, as conhecidas Havaianas, e de seu país natal, Brasil.
Como o ano de 2017 foi difícil para a a empresa, com a recuperação em 2018 os números também subiram com mais facilidade. "A base no ano passado não era muito boa, mas ganhamos mercado esse ano, com produtos melhores e preços mais adequados", afirmou Utsch.
Sem mudar o valor dos calçados básicos, a companhia acrescentou produtos de maior valor agregado em seu portfólio, o que fez o preço médio crescer.
Ainda que a receita líquida e o lucro bruto tenham crescido, a companhia viu seu resultado final, o lucro líquido, cair 37,2%, para 112,8 milhões de reais. O diretor explica que a mudança veio de dois eventos não recorrentes.
O primeiro foi a venda de um imóvel na Argentina, que gerou uma receita de 45,5 milhões de reais no trimestre. O segundo evento foi a reversão de provisão tributária sobre a exclusão do ICMS da base de cálculo da COFINS, no ano passado. Esses dois eventos fizeram diferença nos números da empresa: o lucro líquido recorrente aumentou 10,8%.