Na Algar, marido e mulher de herdeiros não mandam
Como uma das maiores empresas de tecnologia do país evita saia-justas com cônjuges dos controladores
Da Redação
Publicado em 25 de fevereiro de 2011 às 17h16.
São Paulo - Como o próprio nome diz, empresas familiares são um ambiente propício para confundir assuntos pessoais e profissionais. Uma situação comum - e que rende muita dor de cabeça - é o poder concedido aos agregados dos herdeiros, como cônjuges e namorados. Para evitar que esses conflitos contaminem o desempenho e os lucros, a Algar, que também atua nos setores de telecom, agro e turismo, adotou uma medida radical: cônjuges e namorados dos herdeiros não podem trabalhar e, nem sequer, ser acionistas da companhia.
"Família é família; empresa é empresa", costumava dizer o seu fundador, Alexandrino Garcia. Por mais óbvia que seja, a frase só começou a ser seguida à risca a partir de 1989, quando a Algar iniciou a profissionalização de sua gestão - 35 anos após a sua fundação. Dois anos depois, quando o primeiro executivo externo à companhia foi contratado para presidi-la, os conflitos com cônjuges e agregados vieram à tona. A necessidade de substituir administradores que chegaram ao cargo por seus vínculos familiares por gestores profissionais colocou a nova direção em rota de colisão com os agregados.
Resistência
"Alguns disseram que só eu tinha o direito de demiti-los", afirma Luiz Alberto Garcia, presidente do conselho de administração e filho de Alexandrino. Para evitar novos constrangimentos, ficou determinado que cônjuges ou namorados não podem trabalhar ou ter ações na empresa. Mas isso não os exclui dos eventos de integração, encontros e programas de formação de herdeiros da Algar. A regra está registrada na Constituição da Família, documento redigido em 2001 que estabelece as normas de conduta da família, empresa, propriedade.
"Só evitamos o vínculo de emprego; os agregados não são excluídos de tudo", diz Eleusa Garcia Melgaço, neta de Alexandrino e presidente do conselho de família, órgão existente desde 2002, que representa o interesse dos herdeiros. Ela considera que é importante os agregados terem o contato com a companhia, mas acha que a postura adotada protege a família de situações embaraçosas.
"Em outras empresas, os cônjuges ocupam até a presidência, mas nós acreditamos que é melhor que o controle se mantenha apenas entre os descendentes diretos do meu avô", afirma Eleusa. Desde, é claro, que os herdeiros continuem seguindo o princípio de Alexandrino - o de que família e negócios não se misturam.