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Alexa, qual será o impacto da Amazon no varejo brasileiro?

O lançamento da Alexa não deve impactar drasticamente o varejo brasileiro, mas a aposta da Amazon é para o longo prazo, dizem especialistas

AMAZON ECHO: apesar de 100 milhões de dispositivos vendidos, a imprensa americana chegou a publicar que só 2% dos usuários da Alexa fazem compras com voz (Lucas Agrela/Exame)

AMAZON ECHO: apesar de 100 milhões de dispositivos vendidos, a imprensa americana chegou a publicar que só 2% dos usuários da Alexa fazem compras com voz (Lucas Agrela/Exame)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 3 de outubro de 2019 às 17h47.

Última atualização em 14 de junho de 2021 às 13h16.

A Amazon acaba de lançar uma nova aposta para entrar de vez na vida -- e na casa -- dos brasileiros. A gigante varejista anunciou nesta quinta-feira, 3, o lançamento da Alexa, sua assistente virtual por voz, e da linha de alto-falantes Echo no idioma português brasileiro.

De acordo com especialistas ouvidos por EXAME, a novidade pode mudar hábitos de consumo e compras online, mas também a forma como os usuários ouvem música, acompanham notícias ou pedem refeições. Assim, a empresa americana se faz mais presente no dia a dia do consumidor brasileiro e se torna um destino mais buscado para as compras online.

No curto prazo, o lançamento da Alexa não deve impactar drasticamente o cenário do varejo brasileiro. A operação online da Amazon ainda é pequena em relação a varejistas como Magazine Luiza, Via Varejo ou B2W. Além disso, as vendas online no Brasil representam menos de 5% do varejo. Apesar disso, o lançamento da Alexa pode impulsionar o impacto da varejista americana no mercado brasileiro. 

Pouco usado para compras

A Amazon já vendeu no mundo mais de 100 milhões de dispositivos compatíveis com a Alexa, segundo informou a empresa neste ano ao site americano The Verge. Os dispositivos podem ser tanto os alto-falantes Echo, da própria Amazon, quanto mais de 150 aparelhos de outros fabricantes adaptados para a assistente virtual. 

A Alexa tem mais de 90.000 "habilidades", de tocar uma música a fazer uma busca no Google. Comprar é apenas mais uma delas, e pode não ser a mais popular. 

Somente 2% das pessoas que têm equipamentos que funcionam com a Alexa já compraram algo usando a assistente, segundo uma reportagem de 2018 do site americano The Information que cita pessoas próximas à empresa. Dentre esses 2%, 90% só fizeram uma compra e nunca mais usaram a tecnologia para isso. 

A reportagem aponta que 20% dos usuários, por outro lado, usaram a Alexa com perguntas como "onde está meu pedido?" para acompanhar compras feitas, provavelmente, em outros aparelhos. É um uso interessante, mas, na prática, não necessariamente ajuda a aumentar as vendas do varejo da empresa. 

Em comunicado sobre os números do The Information, a Amazon afirma que "não concorda com os números" e que "milhões de consumidores usam a Alexa para compras porque é a forma mais conveniente de capturar as necessidades do momento". "Queremos fornecer aos consumidores a possibilidade de comprar da forma que for mais conveniente para eles", diz a empresa em nota enviada ao site de tecnologia americano Ars

Conversas com inteligência artificial

Ainda que as compras por voz ainda estejam engatinhando, podem ser um grande mercado no futuro. Um estudo da consultoria OC&C Strategy Consultants de 2018 estima que as compras por voz chegarão a cifras de 40 bilhões de dólares em 2022 nos Estados Unidos e no Reino Unido, ante 2 bilhões de dólares em 2017. Nos Estados Unidos, mais de 13% das famílias têm em casa um alto-falante inteligente, ante mais de 10% no Reino Unido, segundo o mesmo estudo. 

O estudo da OC&C é um pouco mais otimista do que os dados do The Information e aponta que mais de 60% das pessoas que têm um alto-falante nos Estados Unidos já haviam feito ao menos uma vez uma compra por voz. Outro estudo, da RBC Capital Markets, estimava que só a Amazon ganharia entre 10 e 11 bilhões de dólares com vendas feitas via Alexa em 2020.

As compras feitas apenas com a voz podem tornar a experiência mais acessível para aqueles que não têm familiaridade com a tecnologia por ser uma conversa com a assistente virtual, diz Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese Retail.

Além de fazer as compras por voz se tornarem uma realidade, outro desafio para a Alexa no Brasil será desbancar outros assistentes de voz já pré-instalados nos smartphones do Google (o Google Assistente) e da Apple (a Siri).

O principal concorrente no Brasil será o Google Assistente, disponível nos celulares Android -- que respondem por mais de 90% dos mais de 200 milhões de smartphones no Brasil. O Google também tem um alto-falante para casa, o Google Home. 

O próprio Google busca incentivar o uso de seu assistente de voz. O país é o terceiro maior mercado do Google Assistente e, neste ano, as startups escolhidas para o programa de residência no Google Campus em São Paulo tiveram como foco usar (e aprimorar) a tecnologia de voz. Uma a cada cinco pesquisas no mundo são feitas falando, e o Google espera que metade seja feita dessa forma até 2020.

Presença no cotidiano

Mais do que estar integrado ao sistema de comércio eletrônico da companhia, o assistente virtual é parceiro de diversas outras empresas. Com mais de 90 mil funções no Brasil, o aparelho pode tocar músicas através do Spotify, pedir um carro pelo Uber, acompanhar viagens pela Latam, encomendar refeições pelo iFood, entre outros. 

A assistente Alexa e o aparelho Echo envolvem o usuário cada vez mais no ecossistema da Amazon, dizem especialistas. Caio Camargo, sócio-diretor da consultoria de varejo GS& Up, testou a Alexa e o Echo para o português por cerca de quatro meses antes do lançamento e afirma que, mais do que realizar compras, os principais usos da assistente incluem controlar músicas, filmes e pequenas tarefas do dia a dia.

Ao participar do cotidiano do consumidor, a varejista ganha recorrência de compra, mesmo que através de outros dispositivos. Ao pensar em comprar algo, a tendência é que busque no site da Amazon, que já é o maior destino de buscas relacionado a compras nos Estados Unidos, à frente do Google.

Caminho longo, mas forte

"Em todos os países em que a Amazon entrou, ela primeiro entendeu o mercado, arredondou a operação e aí sim começou a investir agressivamente, afetando concorrentes", afirma Serrentino. Isso deve acontecer agora, apesar de a jornada da companhia no país ter sido mais lenta do que em outros mercados, por causa da complexidade tributária, logística e financeira do Brasil, diz.

Nos últimos anos a companhia deixou de ser apenas um site de vendas de livros. Investiu em conteúdo, com o Kindle, Amazon Prime Video e Prime Music, construiu seu próprio centro de distribuição em Cajamar (SP) e ampliou as categorias que atende pelo comércio eletrônico. 

Com o lançamento das assinaturas Prime, que por apenas R$ 9,90 oferece frete grátis e acesso aos aplicativos Amazon Prime Video e Prime Music, nas últimas semanas, a companhia pode dizer que, enfim, chegou ao Brasil.

Segundo Camargo, a novidade da Amazon chega no momento ideal do mercado brasileiro. Se antes a logística era um desafio colossal que impedia o avanço do comércio eletrônico no país, hoje há diversas empresas que estão tentando mudar esse cenário, como Rappi e Loggi. 

Outro grande desafio do comércio eletrônico é o baixo acesso dos brasileiros a cartão de crédito ou mesmo contas bancárias. Agora, novos produtos, voltados aos que não têm contas em banco, são criados por varejistas, fintechs e mesmo grandes bancos. "O momento no Brasil é muito favorável para a Amazon e para o lançamento dessas tecnologias", diz Camargo.

Ainda assim, não espere revoluções no curto prazo.

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