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Alex Cuadros: a imagem de Eike no exterior

Gian Kojikovski  O jornalista americano Alex Cuadros começou sua trajetória na América Latina em 2008, quando mudou-se para trabalhar em Bogotá. Em 2010, veio para o Brasil a convite da revista Bloomberg Businessweek para cobrir a classe de bilionários emergentes no país. Desse seleto grupo, um personagem especial ficou reconhecido mundialmente pela sua capacidade de chegar […]

ALEX CUADROS: se esse pedido de prisão não muda a percepção externa do ambiente de negócios no Brasil, muda muito a narrativa de quem é o Eike / Ted Alcorn/Divulgação

ALEX CUADROS: se esse pedido de prisão não muda a percepção externa do ambiente de negócios no Brasil, muda muito a narrativa de quem é o Eike / Ted Alcorn/Divulgação

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Gian Kojikovski

Publicado em 28 de janeiro de 2017 às 06h26.

Última atualização em 27 de junho de 2017 às 18h00.

Gian Kojikovski 

O jornalista americano Alex Cuadros começou sua trajetória na América Latina em 2008, quando mudou-se para trabalhar em Bogotá. Em 2010, veio para o Brasil a convite da revista Bloomberg Businessweek para cobrir a classe de bilionários emergentes no país. Desse seleto grupo, um personagem especial ficou reconhecido mundialmente pela sua capacidade de chegar ao topo – foi o sétimo homem mais rico do mundo em 2012 – e de cair de lá, quando entrou em bancarrota em 2014: Eike Batista. Cuadros, que em 2016 lançou o livro Brazillionaires: Wealth, Power, Decadence, and Hope in an American Country (Brazillionaires: riqueza, poder, decadência e esperança em um país americano, em tradução livre), viu essa história de perto, escrevendo inúmeras matérias sobre o empresário e o entrevistando em duas oportunidades. “Achei que seus pecados eram outros”, disse sobre a prisão do bilionário. Para EXAME Hoje, concedeu a seguinte entrevista. 

Como o pedido de prisão do empresário Eike Batista afeta a imagem do Brasil no exterior?

Francamente, acho que não muda nada na imagem do ambiente de negócios do Brasil no exterior. Esse é mais um detalhe que confirma uma tendência já estabelecida, não é uma novidade para quem está olhando de fora. A economia está no terceiro ano de recessão, tem o escândalo da Petrobras. Por outro lado, é um sinal de que as instituições de controle estão sendo fortalecidas.

Como a Lava-Jato está sendo vista fora do país? Se por um lado ela devassa um grande esquema de corrupção, também mostra que o país está investigando coisas antes não investigadas…

Quando alguém como o Marcelo Odebrecht ou o Eike Batista, que estavam entre os homens mais poderosos e ricos do país, pode enfrentar a Justiça, e vai preso, ou pode ir preso, eu acho que isso é positivo para as instituições e para a imagem do país. Quer dizer que existem consequências se alguém utiliza propinas ou corrupção para alavancar o seu negócio. Eu acho que isso só pode ser visto positivamente.

Mas existe uma parcela de pessoas que criticam os efeitos da Lava-Jato sobre o ambiente do país…

É lógico que desde 2014, quando se começou essa grande investigação, estamos no meio do escândalo e obviamente isso traz muita turbulência econômica e política, mas no médio e longo prazo a operação é importante parte de um processo de mudar as regras do jogo e dos negócios no Brasil. É cedo ainda para dizer que isso vai levar a uma mudança fundamental na forma que a política e os negócios funcionam no país, mas é um começo positivo, que pode levar a uma mudança no longo prazo.

E a imagem do próprio Eike, que já é uma figura controversa, como fica?

O império dele já colapsou, então não tem muito como mudar esse fato. Ele perdeu tudo, foi o sétimo homem mais rico do mundo e perdeu tudo. Por outro lado, vimos que, desde a queda, ele estava tentando empreender novos negócios, e até parecia que ele estava tendo algum sucesso, encontrando novos sócios (a última iniciativa de Eike foi a Clean World Technologies, que produziria de pastas de dente a protetores solar a base de carbono). Não sei se podemos subestimar a capacidade dos investidores de acreditarem em um bom vendedor de histórias como é o Eike. Então, não sei se é o fim da linha para ele como empresário. Claro, primeiro ele vai ter que enfrentar esse processo, e não sei como vai ser isso, mas se ele sair limpo dessa história, ainda pode tentar empreender.

Mas ele se vendia como alguém diferente e foi até chamado pelo ex-presidente Lula de “maior empresário do país”. É uma queda e tanto…

Sim. Se esse pedido de prisão não muda a percepção externa do ambiente de negócios no Brasil, muda muito a narrativa de quem é o Eike. Ele, obviamente, é um personagem muito problemático, que se colocou como um novo tipo de empreendedor, um meritocrata – mesmo sendo filho do Eliezer Batista, ex-presidente da Vale -, que criticava os empreiteiros por terem negócios que dependiam do governo, mas pegava empréstimos do BNDES. Ainda assim, eu achava que os pecados do Eike eram outros.

Quais?

A megalomania, uma capacidade patológica de exagero, talvez uma relação um pouco frouxa com as regras e leis, mas eu fiquei surpreso porque eu não achava que ele, mesmo com todas as contradições, tentaria dessa forma alavancar seus negócios. Então, acho que esse pedido de prisão e esse processo completam uma imagem contraditória e contrária da que ele tentou construir ao longo dos anos.

Existe uma crítica perene de que os grandes negócios no Brasil necessariamente têm dependência do governo. Quais outros negócios no país têm grande ligação histórica com políticos?

Bem, o Eike recebeu muito apoio do governo para diversos negócios, mas vale dizer que a OGX, por exemplo, foi um negócio que nunca recebeu nada do BNDES e levantou-se no mercado privado de capitais. Sobre essa ligação, acho que hoje está claro que as grandes empreiteiras também sempre tiveram essa ponte com a política, até porque o negócio é completamente dependente do governo.

Mas existe essa relação próxima com bilionários de outras áreas?

É interessante a imagem do Jorge Paulo Lemann no Brasil como exemplo de uma meritocracia pura, mas acho que às vezes parece que as pessoas esquecem – ou não sabem – que ele também foi subsidiado e os negócios também têm e tiveram ligações importantes com o governo. Os negócios dele – Ambev, B2W e Lojas Americanas – receberam muitos empréstimos do BNDES. Foram quatro bilhões de dólares entre 2002 a 2014. Hoje, a Ambev é uma doadora de campanha enorme, uma das maiores do país. E por quê? Não é sem importância o fato de que o negócio da cerveja é muito impactado pelos impostos que têm sobre o produto. Lógico que são coisas totalmente diferentes do que está acontecendo com os outros dois empresários que citei, mas acho que a percepção popular dos negócios dele subestima essas ligações diversas com o mundo político.

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