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Adriano Caldas, da Johnson: rumo a uma saúde integrada

Em 1ª entrevista exclusiva desde março, o executivo diz que é preciso mudar o modelo de negócios do setor de saúde para priorizar o atendimento ao paciente

Adriano Caldas: "é preciso propor que a remuneração seja feita com base em performance dos tratamentos" (Germano Lüders/Exame Hoje)

Adriano Caldas: "é preciso propor que a remuneração seja feita com base em performance dos tratamentos" (Germano Lüders/Exame Hoje)

NB

Naiara Bertão

Publicado em 8 de setembro de 2017 às 13h23.

Última atualização em 8 de setembro de 2017 às 13h23.

Depois de passar três anos como líder na América Latina (exceto Brasil) da Johnson & Johnson Medical Devices – divisão de dispositivos médicos da companhia –, o engenheiro paulista Adriano Caldas assumiu em março a presidência da área no Brasil. Em sua primeira entrevista exclusiva desde então, o executivo diz que é preciso mudar o modelo de negócios do setor de saúde para que o atendimento ao paciente tenha prioridade sobre os custos.

Antes do Brasil, o senhor comandou a mesma área em outros países na América Latina. Qual é sua missão aqui?

Meu principal desafio no Brasil é promover mais integração entre a indústria, da qual a J&J é uma representante, com diferentes atores do setor de saúde: médicos, hospitais, clínicas e planos de saúde. O dilema do mercado de saúde hoje é que estamos vivendo mais, o que é uma boa notícia, mas, isso traz também mais desafios, como o aumento da incidência de doenças crônicas. Há uma demanda crescente pelos serviços de saúde. Ao mesmo tempo, a disponibilidade de recursos dos hospitais é limitada.

Qual a saída? Usar melhor os recursos que já existem?

Sim. O modelo de negócios predominante no setor hoje é o seguinte: a indústria vende o produto ao hospital, o hospital vende o serviço ao paciente ou plano de saúde. A cobrança é feita por evento – a utilização da sala, as diárias hospitalares, honorários médicos, o uso de produtos e medicamentos. É uma relação de ganha/perde e nem sempre o melhor atendimento ao paciente é o centro da tomada de decisão, mas sim os custos. Esse modelo deve ser aprimorado.

Como fazer isso?

É preciso trazer mais eficiência a essa cadeia e propor que a remuneração seja feita com base em performance dos tratamentos. Dessa forma, os bons resultados seriam mais bem remunerados, mas os riscos também são compartilhados entre todos.

Como a J&J pode ajudar a mudar essa situação?

Apesar de o nosso foco principal ter sido até agora a venda de produtos, nós ajudamos os hospitais a melhorar a gestão e ajudamos os planos de saúde a ter custos mais previsíveis. Na América Latina, fizemos 129 projetos desse tipo nos últimos cinco anos, sendo 43 no Brasil. Até agora esse trabalho foi feito de forma pontual, quando o cliente pedia. Agora vamos oferecê-lo a todos por meio de um programa de consultoria global, chamado Care Advantage. Ele inclui serviços personalizados para 11 áreas, como pronto-atendimento, gestão de leitos e protocolos de atendimento em ortopedia e cardiologia. Levamos em conta necessidades de cada área e país.

Quais serviços existem no exterior e poderão ser oferecidos no Brasil?

Um deles é uma solução para atender idosos que fraturam o fêmur, desenvolvida pela equipe dos Estados Unidos. Pensamos no melhor protocolo desde a entrada no hospital até o pós-operatório. Garantir a recuperação mais rápida do paciente é importante para que ele não perca as habilidades motoras. Idosos que não fazem atividade física usam mais o sistema de saúde, e todos são onerados. Um exemplo que já aplicamos no Brasil e que está na plataforma é o gerenciamento de centros cirúrgicos. Muitas salas ficam ociosas por longos períodos entre cirurgias apenas por falta de gestão adequada. No Brasil já fizemos 12 projetos do tipo e conseguimos liberar 50.000 horas adicionais por ano, o que daria para fazer 15.000 cirurgias adicionais sem necessidade de construir novas salas. Também temos na Care Advantage procedimentos em gestão de leitos, centros de excelência para tratamento de pacientes bariátricos, entre outros.

O faturamento da área de dispositivos médicos caiu no mundo em 2016 e se recuperou neste ano. Como são os resultados no Brasil?

A área se manteve estável nos últimos anos. Somos líderes em nove das dez plataformas-chave de produtos, como suturas, agulhas, cateteres e próteses de joelho e quadris. Mas é inegável que o cenário econômico traz desafios para todos. No momento em que o desemprego aumenta, as pessoas perdem o plano de saúde e voltam a buscar o setor público. A eficiência é essencial quando pensamos que a demanda cresce e os recursos são escassos. Todos são pressionados a buscar soluções criativas.

A empresa está investindo mais no Brasil?

Sim. Aumentamos a equipe e dobramos os investimentos neste ano na área de dispositivos médicos. Recebemos ainda investimentos indiretos de outros departamentos que querem se conectar com nossos clientes para oferecer serviços adicionais, como logística, finanças, marketing e até a gestão de suprimentos. Antes, esses departamentos só atendiam a própria Johnson & Johnson. Agora, eles ajudam os clientes a melhorar sua eficiência.

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