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Accor vai abrir 100 hotéis Formule 1 no Brasil com franquias

Rede francesa procura investidores interessados em construir hotéis econômicos, que cobram diárias de cerca de 75 reais

Formule 1, da Accor: modelo de franquias facilita chegada a cidades menores (Divulgação/EXAME.com)

Formule 1, da Accor: modelo de franquias facilita chegada a cidades menores (Divulgação/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 18 de novembro de 2010 às 05h00.

São Paulo - Chegou a vez da classe C também na hotelaria. A francesa Accor, maior rede de hotéis do Brasil, já procura interessados em investir na construção de 100 empreendimentos super econômicos no Brasil com a bandeira Formule 1. Todos os hotéis terão custos baixíssimos de construção e operação para que as diárias cobradas dos clientes fiquem próximas a 75 reais. A maior parte dos empreendimentos será erguida em cidades secundárias, de 100.000 a 500.000 habitantes. Já foi criado um projeto padrão, que será apenas adaptado às características do terreno e às especificidades de cada localidade. Haverá financiamento subsidiado para a construção de alguns hotéis, que serão comercializados no modelo de franquia e operados pelos próprios investidores. Tudo isso para se chegar a um custo de construção por hotel de 5 milhões de reais e a despesas administrativas bastante baixas após a abertura.

O plano marca uma profunda reviravolta na atuação do grupo francês no Brasil. Hoje a Accor administra 142 hotéis no país, a maioria nos segmentos de quatro e cinco estrelas. Mas essa realidade vai mudar nos próximos anos. Com o crescimento da renda e a ascensão da classe C, o foco sai da bandeira Mercure para as duas marcas econômicas da rede: Ibis e Formule 1. No caso do Ibis, a expansão já está em curso. Existem 53 hotéis em funcionamento sob a bandeira e outros 43 estão com contrato assinado para a construção. Dentro de dois ou três anos, a bandeira Ibis se tornará a principal do grupo hoteleiro no Brasil.

Os planos para a marca Formule 1 não estão em um estágio tão avançado no país, mas são igualmente ambiciosos. A bandeira engloba 11 hotéis em funcionamento e outros sete em construção. Na fase inicial de desenvolvimento, a rede apostou em hotéis grandes, com 200 a 300 quartos, localizados em cidades com mais de 1 milhão de habitantes, em pontos bastante valorizados. Os projetos foram bem-sucedidos. A bandeira trabalha com taxas de ocupação superiores a 80%.


Para levar a marca a cidades menores, no entanto, será preciso fazer adaptações ao modelo de negócios. Em primeiro lugar, a rede decidiu adotar o modelo de franquia. Estão sendo procurados investidores interessados em construir lotes de cinco hotéis em diversos estados brasileiros. As unidades foram oferecidas inicialmente para investidores que construíram alguns dos hotéis operados pela Accor. Três deles já assinaram cartas de intenção para construir 15 hotéis Formule 1 no Sul e no Sudeste. Os prédios começam a ser construídos no próximo ano e ficarão prontos em 2012. As demais unidades serão oferecidas ao mercado. O primeiro road show acontecerá na próxima semana em quatro capitais nordestinas: Salvador, Recife, Natal e Fortaleza.

A expectativa é encontrar dois ou três parceiros locais para levar adiante o plano de expansão no Nordeste. O momento econômico é bastante favorável para isso. A região tem liderado o forte crescimento da economia brasileira nos últimos anos. A Accor conta também com outro trunfo para atrair interessados. O Banco do Nordeste já concordou em liberar empréstimos com juros baixos para a construção de hotéis. "No mundo todo, a atividade hoteleira é subsidiada porque a geração de emprego é elevada, mas os retornos vêm apenas no longo prazo", diz Abel Castro, diretor de desenvolvimento da Accor no Brasil.

Características dos hotéis

Com exceção do tamanho, os hotéis franqueados terão as mesmas características que as unidades de Formule 1 já construídas. Os hotéis costumam ter quartos bem pequenos, de apenas 12 metros quadrados. Para economizar espaço, a pia fica no quarto ao invés de dentro do banheiro. A cama extra do apartamento de casal é um beliche. As áreas públicas também são bastante reduzidas. Não há área de lazer, academia nem piscina. Da mesma forma, os serviços são limitados. O hotel não disponibiliza concierge, carregador de bagagens nem serviço de quarto. Quando o hóspede deseja comer ou beber algo, tem que descer até o lobby e comprar na loja de conveniência - não existe restaurante. Café de manhã e estacionamento não estão incluídos na diária e são pagos à parte.

E não são apenas os serviços que serão espartanos para se chegar a uma diária mais baixa. A tecnologia de construção também possibilitará a redução dos custos. A Accor está construindo em Piracicaba, no interior de São Paulo, um hotel de 88 quartos que servirá de padrão para todas as franquias. O projeto é o molde para todos os hotéis franqueados e só precisará ser adaptado às características do terreno e às dimensões desejadas quando for replicado em outras cidades. O acabamento e a decoração também são simples e foram pensadas para reduzir os custos e o tempo de construção. A Accor afirma que, excluído o custo do terreno, o hotel de Piracicaba exigirá um investimento de 4,8 milhões de reais - ou apenas 55.000 reais por quarto.


Além da construção barata, os hotéis também terão despesas de operação reduzidas com o uso do sistema de franquias. Para administrar hotéis de investidores parceiros, hoje a Accor cobra um percentual da receita e uma parte do lucro do negócio. Já no sistema de franquia, o próprio investidor recebe da Accor todo o treinamento e as ferramentas necessárias para operar sozinho o empreendimento. Por outro lado, o valor pago à rede francesa pelo uso da bandeira e pelo know-how acaba sendo bem mais baixo. A mudança é importante porque os hotéis Formule 1 já construídos só conseguem diluir esse custo com a operação de centenas de quartos. A maioria das novas unidades, no entanto, terá apenas 60 a 100 apartamentos.

Sinergias

Outra forma de reduzir as despesas será com a administração de lotes de cinco hotéis. Cada investidor terá de construir unidades próximas umas das outras para que haja ganho de escala e sinergias. "Os custos administrativos e de compras serão menores se o mesmo investidor que construir em Florianópolis também estiver à frente de hotéis em outras quatro cidades de Santa Catarina", diz Castro, da Accor.

Com todas essas adaptações, a rede espera chegar a um hotel de baixo custo que possa ser atraente tanto para as pessoas que viajam a negócios durante a semana quanto para os turistas de classe média aos sábados e domingos. Para quem planeja passar pouco tempo dentro do quarto, o Formule 1 apresenta um excelente custo-benefício. O desafio é vencer o hábito das famílias de classe C de se hospedar em casas de parentes ou amigos durante viagens. A conjuntura econômica brasileira favorece a mudança cultural. A expansão do crédito e da renda deixaram bens antes inalcançáveis para os brasileiros como casas e carros bem mais acessíveis. Não resta dúvida que a hospedagem em hotéis com bandeira possa ser uma das próximas conquistas da classe C - principalmente se as diárias cobradas forem tão baixas quanto o prometido.

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