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A pasta de amendoim agora é fitness. E lucrativa

Consumo de amendoins e gorduras boas cresceu entre adeptos de estilo de vida saudável e fitness no Brasil, e atrai gente disposta a investir nesse segmento

Manoela Braghini, do Holy Nuts: investimentos em segmento que cresceu nos últimos anos

Foto:  (Germano Lüders/Exame Hoje)

Manoela Braghini, do Holy Nuts: investimentos em segmento que cresceu nos últimos anos Foto: (Germano Lüders/Exame Hoje)

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Da Redação

Publicado em 30 de março de 2018 às 07h08.

Última atualização em 30 de março de 2018 às 11h09.

O que o nadador Ryan Lochte, a ginasta Simone Biles e a triatleta Gwen Jorgensen têm em comum? Além de serem todos americanos e medalhistas de ouro nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, eles têm um gosto em comum por pasta de amendoim. Biles prefere sua pasta de amendoim com banana, Lochte come em formato de barra de proteína, e Jorgensen mistura com mel no sanduíche.

A pasta de amendoim é tradicional na alimentação dos Estados Unidos, onde está presente em mais de 90% das residências, com vendas anuais casa de 1,85 bilhão de dólares no ano passado. O alimento, que já foi até parte da estratégia de racionamento do governo durante as guerras mundiais para diversificar o consumo de proteína, agora, ganha cada vez mais força no Brasil. Por aqui, angariou adeptos nos últimos cinco anos, em um movimento que aliou o amendoim e seus derivados — antes vistos como gordurosos e pouco nutritivos — a um estilo de vida fitness e saudável, com consumo entre atletas e praticantes de esportes.

Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab) o setor cresceu 3,2% em 2015 em relação ao ano anterior. No total, 207.000 toneladas de amendoim foram consumidas em 2015. Mas esse número não dá a dimensão da febre por trás da tal pasta de amendoim, sobretudo entre praticantes de crossfit e a turma que leva a academia mais a sério.

Uma vez vilã, a pasta de amendoim passou a ser vista como um alimento com alto valor proteico. A gordura é avaliada hoje por nutricionistas como de boa qualidade, rica em ômega-6, ajudando a reduzir problemas como colesterol alto e a manter a saciedade por mais tempo. Foi nesse sentido que uma líder desse setor, a fabricante de alimentos Santa Helena, viu uma oportunidade.

Em 2014, a Santa Helena transformou a Amendoíssima, pasta utilizada inicialmente em culinária, na First, uma marca focada em atletas. “Percebemos que nosso consumidor estava mudando e então resolvemos fazer uma mudança na marca, focando praticantes de esporte”, afirma Luis Roberto Bertella, diretor comercial da Santa Helena, que na mesma época lançou a Paçoquita Cremosa, com um apelo diferente, muito mais doce, essa sim para quem queria apenas uma docinho cremoso, e nada mais.

Além da mudança de foco dos grandes fabricantes, a pasta de amendoim deu origem a um insólito nicho de mercado. A empreendedora Manoela Braghini começou seu negócio, a Holy Nuts, justamente nessa época, em 2013. Depois de trabalhar em uma companhia de venture capital em Porto Alegre, ela decidiu que era hora de ter o próprio negócio. Inicialmente abriu uma cervejaria artesanal. Já com alguma experiência, investiu no mercado de alimentos com sua sócia, Luiza Vortmann. As duas apostaram na fabricação de pastas de amendoim em casa, vendendo para consumidores finais.

“Em pouco tempo, fomos abordadas por uma franquia das lojas Mundo Verde e uma padaria local que quiseram revender os produtos. Percebemos que havia uma chance de crescer e decidimos investir”, diz Braghini. Utilizando mídia espontânea e influenciadores digitais, a marca ganhou público numa época que o mercado para pastas de amendoim era bastante incipiente. Com a entrada de novos competidores, a empresa percebeu a necessidade de um diferencial e apostou nas pastas integrais, saudáveis e sem aditivos. No ano passado, faturaram 1,5 milhão de reais, o dobro do ano anterior com produtos em mais de 300 lojas parceiras.

A Holy Nuts terceirizou a produção e a logística para ganhar escala, investiu em amendoins e castanhas de alto nível e se mudou para São Paulo, onde abriu um café especializado em castanhas e amendoins, o primeiro do tipo no Brasil. No ano passado, a Holy Nuts vendeu cerca de 8 toneladas de pastas vendidas, além de 3 toneladas de farinhas, 1,5 tonelada de lascas de coco e 2 toneladas de misturas para pão — todos contendo algum tipo de castanha. “ Os custos de entrada no mercado são baixos, a validade é alta, o que facilita muito para quem fabrica e pra quem consome”, diz.

Entre o saudável e o gostoso

Aficionados por pastas de amendoim, os empresários Thiago Sinisgalli e Vinicius Rittes tinham dificuldade em encontrar uma pasta de que gostassem: só encontravam as pastas integrais de amendoim ou importadas das grandes marcas americanas. Depois de quebrar alguns liquidificadores, passaram a fazer pastas para consumo próprio com consistência e sabor parecidos com as que só conseguiram encontrar no exterior. Entre a produção para consumo e para amigos e familiares, surgiu a ideia de transformar a pasta em um negócio. Se juntaram a Alan Chusid, diretor comercial do banco Neon, e pensaram no conceito de marca. Surgiu a Naked Nuts, que tenta equilibrar um produto saudável, com ingredientes naturais e sem conservantes, mas com sabor. Entre as opções de pasta de amendoim, por exemplo, há misturas com chocolate branco, ou com mel e proteína isolada do tipo whey, além da opção de pasta de castanha de caju.

“Nós queríamos ir devagar e não dar um passo muito grande. Fizemos uma produção inicial de 600 potes. O objetivo era vender em 3 meses, mas tudo se esgotou em 25 dias”, afirma Sinisgalli. Em 2017, primeiro ano completo da operação, a Naked Nuts vendeu 10 toneladas de pastas, faturando 500.000 reais. Este ano, a ideia é crescer entre 5 ou 6 vezes o resultado do ano passado.

A Naked Nuts preferiu focar na fabricação própria: os sócios investiram em maquinário e numa central de produção em São Paulo, onde têm capacidade de fabricar 20 toneladas por mês em pastas — e também testar novas receitas e garantir controle total das atuais. O objetivo é atingir não só o público fitness ou atletas, mas também consumidores de outros tipos de produtos, como os cremes de avelã e chocolate, por exemplo. “Tentamos não focar somente no público fitness. A ideia é desmistificar o produto saudável e levar algo novo para todo mundo que se preocupa um pouco com saúde, mas também quer comer algo gostoso”, diz Sinisgalli.

Para competir com os novatos, a Santa Helena não ficou pra trás. Além da First, a empresa lançou em 2016 a Cuida Bem, uma linha com produtos para pessoas com estilo de vida saudável, que inclui também pastas e cremes. Fora do mercado fitness, a empresa lança ainda este ano uma pasta inspirada nas tradicionais americanas, com menos açúcar do que a Paçoquita Cremosa e um toque salgado. “Queremos crescer 10% em 2018, focando em novos produtos”, afirma Bertella.

Os crosfiteiros agradecem.

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