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A JAL precisa de uma companhia de baixo custo; o Japão também. Mas e daí?

Dúvidas sobre a saúde financeira da Japan Airlines e a criação de duas concorrentes colocam a sua recém-criada Jetstar Japan na berlinda

Avião da Japan Airlines: a Jetstar, sua empresa de baixo custo, veio tarde demais? (Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 16 de agosto de 2011 às 16h58.

São Paulo – Parece o cenário ideal. O Japão é um dos países da Ásia com menor presença de companhias áreas de baixo custo – apenas 9,10% dos voos domésticos são feitos por elas, contra mais de 60% nas Filipinas, por exemplo. Já a Japan Airlines aposta na criação de uma empresa dessas – a Jetstar Japan – para sair da concordata. Mas, na prática, isso vai dar certo?

Um ponto a favor da Jetstar Japan é que, grosso modo, ela é apenas o desdobramento de uma empresa que já existe – a australiana Jetstar, controlada pela Qanta. A Jetstar já efetua voos de baixo custo do e para o Japão há anos. Por isso, conta com a experiência e é conhecida pelos passageiros japoneses. Inicialmente, a Jetstar Japan vai operar voos domésticos. Depois, vai estender sua malha para países da Ásia, como China e Coréia do Sul.

A Japan Airlines e a Qanta terão, cada uma, um terço do capital votante e 42% do capital total da nova empresa. O terceiro sócio, o grupo Mitsubishi, também é estratégico. Com 16% de capital total e um terço do votante, o grupo será responsável por arrendar as aeronaves para a Jetstar Japan, por meio da Mitsubishi Aircraft Corporation – espera-se, claro, que em condições camaradas. E não serão poucos. A empresa vai começar a operar com três Airbus A 320, mas quer chegar a 24 em poucos anos.

Corrida de 20 milhões

Por fim, há mercado. Recentemente, o governo japonês assinou uma série de tratados para liberação do espaço aéreo com os Estados Unidos e países asiáticos. Apenas no triângulo Japão, Coréia e Norte da China, esses acordos abrirão mercado para mais 20 milhões de passageiros por ano.

Além disso, ao contrário do Brasil, o Japão não vive um apagão aéreo. Lá, há investimentos reais em infraestrutura. Tanto que o aeroporto internacional de Narita, em Tóquio, acabou de ganhar um novo terminal – e espera ocupá-lo, em sua maior parte, com empresas de baixo custo.


Tudo isso é a parte boa da história. Mas a Jetstar Japan vai levantar voo em um céu nublado. Primeiro, porque ela é a terceira companhia aérea de baixo custo lançada no Japão em um intervalo de apenas 15 dias.

Concorrentes decolam

No mês passado, a All Nippon Airways (Ana) anunciou a criação não de uma, mas de duas empresas para atuar nesse mercado: a Peach, que vai controlar sozinha, e a AirAsia Japan, cujo controle dividirá com a AirAsia, da Malásia.

Não bastasse isso, os novos filhotes da Ana vão começar a voar bem antes da Jetstar Japan. A Peach em março, com dez Airbus A 320; a AirAsia Japan, em agosto. Não se sabe, ainda, qual será sua frota, mas a AirAsia fechou uma encomenda de 200 aviões recentemente  - um dos maiores contratos da região.

Já a nova empresa da Japan Airlines só sairá do chão em dezembro do ano que vem - e com apenas três aparelhos.

Discórdia na cabine

Outra dúvida é a própria capacidade de a Japan Airlines bancar o projeto. A empresa pediu recuperação judicial em 2010, depois de ver seu caixa sangrar por dois anos. Desde então, cortou rotas e funcionários. Uma de suas tarefas, no último ano, tem sido recuperar o prestígio de sua marca, abalada pela concordata.

A própria direção da companhia ficou dividida, por algum tempo, sobre a importância de se lançar a Jetstar. O presidente do conselho de administração, Kazuo Inamori, chegou a citar os Estados Unidos, onde muitas empresas de baixo custo tiveram vida breve, para mostrar suas ressalvas sobre o projeto.

Alguns especialistas chegam, inclusive, a dizer que a empresa pode ser um tiro no pé, porque geraria concorrência para a própria Japan Airlines, no momento em que ela mais precisa de receitas. Já o CEO da Japan Airlines, Masaru Onishi, sempre foi um entusiasta da proposta e via nela muitas oportunidades.

Essa divergência foi o principal motivo para o atraso no lançamento da Jetstar Japan. Desde que a Japan Airlines pediu concordata, a Qanta ofereceu-se para ajudá-la. O projeto já era discutido desde meados do ano passado. Agora, será o último a ir para o ar, com meses de atraso em relação à Peach e à AirAsia – e, assim como os passageiros, o mundo dos negócios não costuma apreciar atrasos.

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São Paulo – Parece o cenário ideal. O Japão é um dos países da Ásia com menor presença de companhias áreas de baixo custo – apenas 9,10% dos voos domésticos são feitos por elas, contra mais de 60% nas Filipinas, por exemplo. Já a Japan Airlines aposta na criação de uma empresa dessas – a Jetstar Japan – para sair da concordata. Mas, na prática, isso vai dar certo?

Um ponto a favor da Jetstar Japan é que, grosso modo, ela é apenas o desdobramento de uma empresa que já existe – a australiana Jetstar, controlada pela Qanta. A Jetstar já efetua voos de baixo custo do e para o Japão há anos. Por isso, conta com a experiência e é conhecida pelos passageiros japoneses. Inicialmente, a Jetstar Japan vai operar voos domésticos. Depois, vai estender sua malha para países da Ásia, como China e Coréia do Sul.

A Japan Airlines e a Qanta terão, cada uma, um terço do capital votante e 42% do capital total da nova empresa. O terceiro sócio, o grupo Mitsubishi, também é estratégico. Com 16% de capital total e um terço do votante, o grupo será responsável por arrendar as aeronaves para a Jetstar Japan, por meio da Mitsubishi Aircraft Corporation – espera-se, claro, que em condições camaradas. E não serão poucos. A empresa vai começar a operar com três Airbus A 320, mas quer chegar a 24 em poucos anos.

Corrida de 20 milhões

Por fim, há mercado. Recentemente, o governo japonês assinou uma série de tratados para liberação do espaço aéreo com os Estados Unidos e países asiáticos. Apenas no triângulo Japão, Coréia e Norte da China, esses acordos abrirão mercado para mais 20 milhões de passageiros por ano.

Além disso, ao contrário do Brasil, o Japão não vive um apagão aéreo. Lá, há investimentos reais em infraestrutura. Tanto que o aeroporto internacional de Narita, em Tóquio, acabou de ganhar um novo terminal – e espera ocupá-lo, em sua maior parte, com empresas de baixo custo.


Tudo isso é a parte boa da história. Mas a Jetstar Japan vai levantar voo em um céu nublado. Primeiro, porque ela é a terceira companhia aérea de baixo custo lançada no Japão em um intervalo de apenas 15 dias.

Concorrentes decolam

No mês passado, a All Nippon Airways (Ana) anunciou a criação não de uma, mas de duas empresas para atuar nesse mercado: a Peach, que vai controlar sozinha, e a AirAsia Japan, cujo controle dividirá com a AirAsia, da Malásia.

Não bastasse isso, os novos filhotes da Ana vão começar a voar bem antes da Jetstar Japan. A Peach em março, com dez Airbus A 320; a AirAsia Japan, em agosto. Não se sabe, ainda, qual será sua frota, mas a AirAsia fechou uma encomenda de 200 aviões recentemente  - um dos maiores contratos da região.

Já a nova empresa da Japan Airlines só sairá do chão em dezembro do ano que vem - e com apenas três aparelhos.

Discórdia na cabine

Outra dúvida é a própria capacidade de a Japan Airlines bancar o projeto. A empresa pediu recuperação judicial em 2010, depois de ver seu caixa sangrar por dois anos. Desde então, cortou rotas e funcionários. Uma de suas tarefas, no último ano, tem sido recuperar o prestígio de sua marca, abalada pela concordata.

A própria direção da companhia ficou dividida, por algum tempo, sobre a importância de se lançar a Jetstar. O presidente do conselho de administração, Kazuo Inamori, chegou a citar os Estados Unidos, onde muitas empresas de baixo custo tiveram vida breve, para mostrar suas ressalvas sobre o projeto.

Alguns especialistas chegam, inclusive, a dizer que a empresa pode ser um tiro no pé, porque geraria concorrência para a própria Japan Airlines, no momento em que ela mais precisa de receitas. Já o CEO da Japan Airlines, Masaru Onishi, sempre foi um entusiasta da proposta e via nela muitas oportunidades.

Essa divergência foi o principal motivo para o atraso no lançamento da Jetstar Japan. Desde que a Japan Airlines pediu concordata, a Qanta ofereceu-se para ajudá-la. O projeto já era discutido desde meados do ano passado. Agora, será o último a ir para o ar, com meses de atraso em relação à Peach e à AirAsia – e, assim como os passageiros, o mundo dos negócios não costuma apreciar atrasos.

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