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2006 é o ano para empresários e a sociedade repensarem o Brasil

Presidente do Grupo Abril, Roberto Civita, afirmou que 2006 é um ano especial. É quando "abre-se uma oportunidade especial para revisitar os grandes temas nacionais". Leia íntegra do discurso de Roberto Civita na festa de premiação de Melhores e Maiores 2

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Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 12h59.

Leia a íntegra do discurso do presidente do Grupo Abril, Roberto Civita, na maior premiação brasileira do mundo dos negócios: a cerimônia de premiação do Anuário Melhores e Maiores 2006, publicado por EXAME, revista da Editora Abril.  

"Várias vezes, ao longos das últimas três décadas, subi neste palco e fiz considerações sobre a economia brasileira, o ambiente de negócios no Brasil e as reformas necessárias para que o país avance rumo ao grupo de nações desenvolvidas. Nessas ocasiões, tenho falado insistentemente sobre a urgência de uma reforma tributária, a necessidade da reforma trabalhista e a inevitabilidade de ajustes na Previdência Social. 

Mas este ano é diferente dos demais - e não me refiro aqui às nossas chances na Copa do Mundo. Estamos a poucos meses da escolha democrática do próximo presidente da República. Em momentos como este, abre-se uma oportunidade especial para revisitar os grandes temas nacionais. Digo "especial" porque a eleição deste ano tem um caráter diferente das demais. Em outubro, nós, eleitores, não escolheremos apenas o próximo presidente da República. Por meio de voto de mais de 100 milhões de brasileiros, definiremos também (e acho que de uma vez por todas) que tipo de país teremos no futuro.

Na minha visão, serão anos decisivos para a trajetória do Brasil. O presidente eleito terá a missão de conduzir o país num momento-chave de sua história: o momento em que vamos escolher entre a inserção definitiva como um participante de peso na economia global ou a eterna condição de país em desenvolvimento.

O potencial para dar esse salto existe - e a Abril já está fazendo a sua parte. Em parceria com a consultoria McKinsey, finalizamos recentemente um grande estudo que indica os caminhos para remover as principais barreiras ao crescimento brasileiro. Trata-se de um dos mais completos diagnósticos de nossa economia já realizados, um trabalho que esperamos seja estudado e aproveitado pelos postulantes à presidência da República, aos governos de Estado e ao Congresso Nacional. Um resumo deste estudo foi publicado no ano passado em VEJA e, nos próximas meses, vamos apresentá-lo em detalhe em cinco edições consecutivas de EXAME. Em resumo, a conclusão nada surpreendente deste extenso levantamento é que, para competir em igualdade de condições aos nossos concorrentes, o Brasil precisa melhorar a sua eficiência em um amplo conjunto de fatores - da qualidade dos serviços públicos ao combate incansável do aperto tributário que leva à informalidade; da estabilidade na condução da economia (com mais crédito e menos imprevisibilidade) a investimentos em infra-estrutura. O Brasil precisa reduzir impostos. Precisa exportar mais. E tem que tratar melhor os seus empresários e, conseqüentemente, seus cidadãos.  Pois - ao contrário do que pensam os renitentes da nossa esquerda - o lucro das empresas significa também mais conforto e melhores perspectivas de vida para milhões de cidadãos em todo o país. 


O estudo da McKinsey tem ainda outro grande mérito. Ele mensura o prejuízo que a inação nessas áreas traz à economia brasileira. De acordo com este trabalho, poderíamos triplicar o PIB nacional se removêssemos essas barreiras (repito: tri-pli-car). Poderíamos crescer como a Índia ou quase como a China, países que monopolizam as atenções mundiais nos últimos tempos como modelos de sucesso. Como os senhores também já sabem, estamos perdendo (e por uma boa distância) a corrida para outras nações consideradas emergentes. Eis alguns dados que ilustram o que estou dizendo. Em 1996, o Brasil atraiu 20% dos investimentos externos diretos que foram destinados aos países que compõem os chamados BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China). Em 2000, chegamos perto de 45% do total investido. No ano passado, nossa participação nesse bolo caiu para 13%. Por que isso? Porque o capital, o dinheiro, tem reações que fazem lembrar a de um cachorro. Se bem tratado, ele vem, lambe sua mão e te afaga. Caso contrário, foge em disparada.

Felizmente ainda não é tarde demais para o Brasil. Tenho a convicção de que com a adoção de menos de meia dúzia de medidas fundamentais, nosso país conseguirá soltar as amarras que têm atrasado o seu desenvolvimento. Livres da burocracia desnecessária, da informalidade que resulta do custo excessivo das exigências existentes, de desvios macroeconômicos e com um Estado bem mais enxuto, poderemos crescer à taxas condizentes com um país que deseja ser grande não apenas na geografia, mas também em poder econômico e desenvolvimento social.

Meu otimismo se baseia em duas razões. A primeira é a que nos traz aqui hoje. Apesar de todas as dificuldades, há magníficos exemplos de sucesso Brasil afora. Muitos dos que subirão neste palco daqui a pouco e serão homenageados justamente pelo bom desempenho que vêm tendo - inclusive no exterior - constituem uma prova eloqüente de que temos condições de competir internacionalmente. A segunda razão é que, analisado sob uma perspectiva histórica, o país tem melhorado significativamente, especialmente na última década. Já não temos mais os 80% de inflação ao mês, já não se troca de moeda como no passado e, ao que tudo indica, não se muda mais o caminho de bom senso e equilíbrio adotado na condução da política econômica. O Brasil de hoje é o Brasil da lei da responsabilidade fiscal e o país com 97% de crianças na escola. O que temos de fazer é avançar mais nesse bom caminho. Isto significa perseverar na tarefa inicialmente ingrata - mas a médio prazo extraordinariamente compensadora - de remoção de obstáculos ao desenvolvimento econômico para permitir que a energia e competência dos brasileiros faça o resto.
 
Senhoras e senhores, há conquistas na história de uma nação que não são vitórias deste ou daquele governo. São conquistas de um povo. Todos os países que arrancaram nos últimos anos entenderam que, independentemente de quem está no poder, é preciso construir uma agenda acima das diferenças políticas do momento. Precisamos estabelecer um conjunto de prioridades que seja um compromisso permanente de Estado - e não deste ou daquele partido durante este ou aquele mandato. Foi assim na Espanha, na Coréia do Sul, na Irlanda e num punhado de outros países. Assim pode e deve ser no Brasil também. É só querer. Pois está demonstrado que dá para fazer.

Muito obrigado."

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