12 dos maiores imbróglios de empresários de todos os tempos
Abilio e Casino formam o embate mais recente entre empresários e sócios no Brasil. Conheça outras histórias de impasses que fizeram história
Tatiana Vaz
Publicado em 10 de abril de 2013 às 12h00.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 15h39.
No fim da tarde de ontem, o empresário Abilio Diniz foi eleito presidente do conselho de administração da BRF – um passo que deve abrir um novo capítulo no imbróglio que o empresário mantém com o sócio Casino. O grupo francês controlador da varejista Pão de Açúcar já havia deixado clara sua posição sobre o assunto. Para ele, Abilio deveria renunciar à cadeira que ainda possui no conselho de administração da companhia, caso assumisse o mesmo cargo na BRF. Ficar nas duas posições geraria conflito de interesse, segundo o Casino, já que a BRF é uma importante fornecedora da varejista e vice-versa. Por outro lado, o empresário argumenta que o próprio Casino está na posição de fornecedor e acionista do Pão de Açúcar e que ele teria direito vitalício ao cargo, conforme acordo de acionistas. Com Abilio na BRF, duas alternativas do Casino são aguardadas pelo mercado: a abertura de um novo processo de arbitragem contra Abilio ou a pressão para a sua destituição do conselho do grupo.
O maior grupo de varejo do país, o Pão de Açúcar foi fundado em 1948 com uma pequena doceria aberta no centro de São Paulo pelo pai de Abílio. Cresceu muito até que, na década de 80, possuía mais de 45 mil funcionários, 22 tipos de negócios diferentes e uma dívida milionária. Foi quando o patriarca distribuiu aos filhos ações de acordo com o desempenho de cada um. Seu braço direito, Abílio, recebeu 16% dos papéis. Alcides e Arnaldo receberam 8% cada e as três filhas, que não atuavam na empresa, ficaram com 2% cada uma. Foi o estopim para uma briga familiar – e uma reforma na empresa, que estava entupida de negócios que nada tinham a ver com seu principal. A disputa, que incluiu inúmeros processos, declarações na imprensa e o envolvimento da mãe da família contra o filho mais velho, terminou anos e anos depois quando os irmãos resolveram vender suas ações ao empresário. Coube a Abilio, já no controle, fazer a “faxina” da empresa. Nela, onze membros da diretoria foram substituídos, inclusive amigos da família, negócios foram vendidos, lojas improdutivas fechadas e mais de 20.000 funcionários demitidos. A família, segundo boatos, ainda guarda rusgas do imbróglio – ainda senta em bancos separados nas missas de domingo no Morumbi.
As três famílias donas do Laboratório Aché , Syaulis, Baptista e Depieri, estão hoje em um imbróglio em relação à proposta que receberam pela venda da companhia, avaliada em 11 bilhões de reais. Trata-se da maior oferta já feita a uma empresa do ramo, mas não o remédio para apaziguar o ânimo das partes que, por anos, seguem em desalinho. Enquanto um sócio acha a quantia suficiente, outro discorda e um terceiro faz as contas para cobrir a oferta pelas ações dos demais. Descordos não são novidades na empresa, que já foi alvo de uma disputa que extrapolou as salas de reunião e foi parar nos tribunais. As desavenças entre os sócios começaram em 1997, quando ficou decidido reunir os acionistas em holdings de controle, em desacordo a opinião dos Baptistas. Em 2001, uma das famílias acusou a outra de falsificar a ata de uma reunião do conselho e foi aberto um inquérito policial. Naquele ano, 22 processos foram abertos entre os sócios no espaço de 90 dias. As acusações incluiam subtração de livros e arrombamento. Depois de muita discussão, os acionistas optaram por uma gestão profissionalizada, onde cada família tem um representante.
Na década de 20, Jacob Safra fundou o primeiro banco da família Safra, em Beirute, e seus filhos - filhos Edmond, Joseph (foto) e Moise - seguiram a profissão e, naturalizados brasileiros, tornaram-se banqueiros de renome internacional, conhecidos pela forma extremamente conservadora de administrar os negócios. Primogênito, Edmond trabalhou no banco do pai desde os 16 anos e vendeu sua parte aos irmãos para abrir outros bancos sozinhos. Virou um dos homens mais ricos do mundo até ter uma morte trágica, em Mônaco, em 1999, onde vivia com a esposa Lily Safra. Desde então, a briga dos irmãos por sua fortuna fez com que a harmonia das famílias virasse cinzas.
Donos do banco Safra no Brasil, Joseph queria comprar a parte de Moise, mas eles não chegavam a um consenso sobre o valor do negócio. Na época do impasse, em 2004, eles criaram o J. Safra, comandado por Alberto, filho de Joseph, um banco com sediado no lado oposto ao Banco Safra na Avenida Paulista e com filiais pelo mundo afora. José, como gosta de ser chamado, tem uma fortuna maior que a de todos os outros banqueiros do país.
Donos do banco Safra no Brasil, Joseph queria comprar a parte de Moise, mas eles não chegavam a um consenso sobre o valor do negócio. Na época do impasse, em 2004, eles criaram o J. Safra, comandado por Alberto, filho de Joseph, um banco com sediado no lado oposto ao Banco Safra na Avenida Paulista e com filiais pelo mundo afora. José, como gosta de ser chamado, tem uma fortuna maior que a de todos os outros banqueiros do país.
O impasse no gigante de negócios brasileiro Odebrecht é, teoricamente, simples. Um sócio quer comprar a parte do outro, que não quer vender. Mas não é bem assim, dado o tamanho da empresa e os anos e anos de convivência entre as duas partes. A família Gradin, o patriarca Victor e seus três filhos, Ana Maria, Bernardo e Miguel, é sócia do grupo há quarenta anos, com cerca de 20% das ações. E, pelo acordo de acionistas, Victor teria de vender suas ações ao completar 70 anos ( e ele está com quase 80). Só que, além do patriarca e família quererem continuar no grupo, eles não concordam com o quanto o sócio, representado por Marcelo Odebrecht (foto), quer pagar pela participação - na verdade, a família pensa que merecia pelo menos o dobro dos 1,5 bilhão de dólares que Marcelo estaria disposto a pagar. A história segue sem desfecho.
Quando fundou a então pequena Companhia Müller de Bebida, em 1959, o brasileiro de origem alemã Guilherme Müller Filho não tinha ideia de que inventaria a Cachaça 51, um produto que seria um marco nacional na indústria de bebidas do Brasil. A empresa mudou e cresceu muito até a morte do empresário, em 2005, fato que acabou desencadeando uma disputa entre os filhos do fundador, Luiz e Benedito, pela herança. Os dois passaram, desde então, a se enfrentar na Justiça em processos que determinaram que eles se afastassem da direção e do conselho de administração da companhia. O imbróglio já rendeu o despejo do caçula Luiz Augusto de seu apartamento luxuoso no bairro paulistano de Higienópolis e uma dívida milionária de Benedito com advogados em processos contra o irmão (os dois ficaram sem salário e sem receber dividendos por conta do impasse).
O empresário João de Castro Marques já era dono da União Química quando perguntou aos seis filhos quem gostaria de tocar seus negócios na área farmacêutica. Fernando, o mais velho, demonstrou interesse e assumiu a companhia aos 19 anos. Seu irmão Cleiton ficou com a área administrativa e finanças e, Paulo, assumiu a área industrial. Em 1997, a família criou a Biolab, empresa independente de estrutura parecida a da União Química. Até ai tudo bem, uma bela divisão entre irmãos de duas empresas bem sucedidas do pai. Os problemas apareceram apenas quando o patriarca morreu, em 2008, e veio à tona a ideia de unificar as companhias. Além de não chegarem a um acordo sobre os cargos e poder de decisão de cada irmão em cada empresa, os três também discordavam sobre o quanto cada um deveria ter de participação nas companhias. O último episódio do imbróglio culminou com a saída de Fernando da Biolab, pedido por meio do acordo de acionistas da empresa e validado pela Justiça de São Paulo, em setembro do ano passado. Mas nada que tenha chegado ao fim – Fernando deve recorrer.
Para ficar no controle da Cosan , maior exportadora de açúcar e de álcool do mundo, o empresário Rubens Ometto Silveira Mello (foto) enfrentou sozinho, por uma década, um duelo com a própria família. Os negócios com a cana-de-açúcar estão com os Ometto há quatro gerações. Começaram com os bisavós de Rubens, um casal de italianos que desembarcou no Brasil em 1887. O empresário só assumiu a empresa da família em 1986, aos 36 anos. Logo se mostrou apto ao cargo e à responsabilidade de perpetuar o patrimônio construído por seus ancestrais. Os problemas começaram quando ele quis mudar a maneira como a gestão era feita. Ele acreditava, ao contrário da família, que era preciso reunir os vários negócios em um grande grupo – uma holding que não teria parentes, gestão profissional e Ometto no comando. Descontentes, seus irmãos Celso, Mara e Celina, junto com a mãe, Isaldina, moveram um processo contra o empresário, uma pendenga que durou dez anos até Ometto sair vitorioso, em 1996.
O engenheiro Jayme Garfinkel começou a trabalhar, aos 26 anos, na Porto Seguro como assistente do pai, Abrahão Garfinkel, então dono da empresa. Assumiu o comando anos depois e fez da seguradora uma das líderes no segmento. Em 1999, quando decidiu que a empresa havia crescido o suficiente para fazer um IPO e crescer ainda mais, Jayme propôs a idéia ao cunhado, Jaime Blay, dono de 20% das ações, que não concordou com a ideia. O impasse de anos levou os dois à Justiça e foi resolvido em um acordo em 2008, quando a empresa finalmente abriu seu capital e Blay foi destituído do conselho. Nas mãos de Jayme, a seguradora deu ainda mais lucro e se associou, em 2009, ao Itaú Unibanco.
Os engenheiros Hugo Marques da Rosa e Victor Foroni eram estudantes quando começaram a traçar os primeiros projetos da Método Engenharia, nos anos 70. A empresa viria a ser uma das mais inovadoras do setor, com canteiros de obras sempre limpos, trabalhadores alfabetizados e marmitas controladas por nutricionistas, além de trazer ao país tecnologias internas. Mas com o tempo e sucesso a crescente divergência entre os sócios, de personalidades distintas, começou a abalar suas relações. O mais extrovertido, Rosa, atraia os holofotes, enquanto que o discreto Foroni preferia os bastidores – diferença que acabava por dividir a equipe entre partidários de um e outro sócio. Em 2005, Rosa comprou a parte de Foroni na Método e, desde então, a comanda sozinho.
Rogério Fasano viajou à Itália, em abril de 2006, com um grupo de 20 funcionários para conhecer vinícolas e restaurantes por conta de suas onze casas paulistanas (Fasano, Gero, Parigi, Gero Caffè, Armani Caffè, Forneria San Paolo, Nonno Ruggero, Baretto, Enoteca Fasano, Casa Fasano e Buffet Fasano). Até ai, tudo bem. A questão foi que todos os restaurantes ficaram sem chef e sem maître no período, o que teria irritado o sócio João Paulo Diniz. Os dois passaram a conversar, a partir de então, apenas por emissários e, depois de se desfazer de sua parte o negócio para a JHSF, Diniz continuou sócio de Fasano apenas no hotel do grupo.
Herdeira direta do fundador da L´Oréal, Liliane Bettencourt é hoje a mulher mais rica da França e uma das mais polêmicas. Beirando os 90 anos, ela fez uma doação de 2,2 bilhões de reais ao fotógrafo François-Marie, seu amante, em 2010 – e deu a início de uma das maiores encrencas corporativas de todos os tempos. Isso porque segundo sua filha, Françoise Bettencourt-Meyers, Liliane fez a doação depois de ter perdido suas faculdades mentais. Para os advogados de Liliane, a história é outra. A filha de Bettencourt estaria na verdade de olho no patrimônio da mãe para que, com o controle da empresa em seu poder, pudesse vender as ações para uma concorrente. A versão é, claro, negada por Françoise e a história ainda não teve fim.
Mais lidas
Mais de Negócios
Ele criou um tênis que se calça sozinho. E esta marca tem tudo para ser o novo fenômeno dos calçados30 franquias baratas a partir de R$ 4.900 com desconto na Black FridayEla transformou um podcast sobre namoro em um negócio de R$ 650 milhõesEles criaram um negócio milionário para médicos que odeiam a burocracia