Vítimas de abusos aguardam visita do Papa ao México
Para enfrentar os escândalos, Bento XVI decidiu, em maio de 2010, retomar o controle da congregação dos Legionários de Cristo, presente em 22 países
Da Redação
Publicado em 22 de março de 2012 às 18h23.
Leon - As vítimas de padres pedófilos no México esperam a visita do Papa ao país para pedir que seja feita justiça, em particular em relação ao fundador da congregação dos Legionários de Cristo, já falecido e acusado de abusos.
Há tempos, o Papa Bento XVI vem se encontrando inúmeras vezes com vítimas, principalmente durante as visitas ao exterior, mas nada está previsto, por enquanto, na viagem que fará ao México (de 23 a 26 de março) e a Cuba (até o dia 28).
Para enfrentar os escândalos, Bento XVI decidiu, em maio de 2010, retomar o controle da congregação dos Legionários de Cristo, presente em 22 países.
A igreja deve entregar todos esses agressores à justiça civil", disse à AFP Joaquin Aguilar, porta-voz de um grupo que representa 129 pessoas que solicitaram, sem sucesso, uma audiência com Bento XVI durante a visita.
"Sua visita me faz mergulhar numa tristeza infinita", afirmou à AFP Saul Barrales, que durante a adolescência foi testemunha impotente dos abusos cometidos por Marcial Maciel.
Maciel foi obrigado a abandonar todas suas funções religiosas em 2006, tendo falecido nos Estados Unidos em janeiro de 2008, aos 87 anos, em meio a acusações de ter tido uma filha nascida de uma relação que manteve oculta e de abuso de oito ex-seminaristas.
As queixas contra ele se multiplicaram de 1981 a 2005, quando Joseph Ratzinger respondia pela Congregação para a Doutrina da Fé.
As primeiras denúncias foram feitas ao Vaticano em 1998, mas foi só em 2004 que as autoridades católicas lançaram o processo que levou Maciel a renunciar "a todo o ministério público religioso" e a "viver uma vida retirada na prece e na penitência".
Vários especialistas confirmam que Joseph Ratzinger sabia de todas as denúncias antes de 2004, mas desmentem qualquer intenção de "dar cobertura" aos atos do ex-padre mexicano.
Segundo o especialista do Vaticano Bernard Lecompte, foram religiosos ligados a João Paulo II, como o cardeal Angelo Sodano, secretário de Estado, ou Stanislaw Dziwisz, seu secretário pessoal, que se recusaram "obstinamente a acreditar, a princípio, nas acusações" contra Maciel.
Joseph Ratzinger chegou até a nomear, em 2002, o padre maltês Charles Sciluna para presidir uma comissão de investigação, apesar das opiniões contrárias de sacerdotes mexicanos, lembra Lecompte.
Maciel fundou a Legionários de Cristo, em 1941, no México.
Hoje, a ordem é formada por 800 padres, 2.500 seminaristas, 70.000 religiosos leigos e administra 12 universidades.
Num dos encontros com as vítimas, em sua visita em 2010 a Malta, o Papa Bento XVI disse que compartilhou do seu sofrimento e prometeu publicamente lidar com as alegações. Na época, durante a audiência pública semanal na Praça de São Pedro, em Roma, Bento XVI falou do encontro.
"Quis ouvir algumas pessoas vítimas de abusos por parte de expoentes do clero. Compartilhei com elas o sofrimento e, com comoção, rezei com elas, assegurando a ação da Igreja", disse.
Alegações de abusos sexuais cometidos por sacerdotes começaram a surgir em 2002 nos Estados Unidos, mas desde então têm sido registradas em vários outros países.
A hierarquia do Vaticano está sendo acusada de não ter denunciado os padres que cometeram abusos às autoridades civis e de tê-los acobertado, apenas mudando os clérigos para outras dioceses.
Em 2010, a Santa Sé anunciou a demissão do monsenhor John C. Favalora, arcebispo de Miami, cuja diocese teve 45 religiosos acusados de terem cometido abusos sexuais em 2002.
Na época, o bispo foi criticado por ter acobertado alguns sacerdotes.