Mundo

Venezuelanos feridos em protestos têm recuperação difícil

Quase 2 mil pessoas ficaram feridas durante 4 meses de manifestações de rua contra Maduro, de acordo com dados da Procuradoria-Geral

Jesus Ibarra: o estudante de engenharia foi ferido durante protesto (Ueslei Marcelino/Reuters)

Jesus Ibarra: o estudante de engenharia foi ferido durante protesto (Ueslei Marcelino/Reuters)

R

Reuters

Publicado em 24 de agosto de 2017 às 16h06.

Última atualização em 24 de agosto de 2017 às 16h06.

Caracas - Jesús Ibarra, estudante de engenharia de 19 anos, mal tem conseguido andar ou falar desde que um cilindro de gás lacrimogêneo afundou parte de seu crânio durante um protesto contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e ele caiu desmaiado em um rio poluído.

A escassez crônica de remédios no país obrigou sua família a pedir doações de medicamentos para que Ibarra pudesse passar por cinco cirurgias no crânio e receber tratamento para as infecções contraídas no rio Guaire.

Ibarra, que não poderá voltar aos estudos tão cedo, precisa de uma sexta operação e de terapia. Não está claro se ele conseguirá se recuperar totalmente.

"Converso muito com meu filho, e às vezes ele dá a entender que não valeu a pena sofrer isso, que ele se arrepende, que foi um erro", disse seu pai, José, na pequena casa da família, localizada na grande favela de Petare, em Caracas.

"Mas outras vezes ele me diz claramente que valeu a pena lutar por uma mudança na qual acredita".

Ibarra é uma das quase 2 mil pessoas feridas durante quatro meses de intensas manifestações de rua contra Maduro, de acordo com dados da Procuradoria-Geral. Grupos de direitos humanos acreditam que o número provavelmente é maior.

A Venezuela está sendo assolada por uma crise política e econômica grave que está provocando uma escassez crônica de alimentos e remédios, uma inflação esmagadora e o colapso da moeda nacional. Já a Assembleia Constituinte empossada neste mês vem sendo acusada de instaurar uma ditadura.

Balas de borracha disparadas à queima-roupa, pedras e cilindros de gás lacrimogêneo causaram a maior parte dos ferimentos, dizem médicos e grupos de direitos humanos. A maioria dos feridos parece ser de manifestantes da oposição, mas apoiadores de Maduro, forças de segurança e transeuntes também se feriram.

Mais de 125 pessoas morreram nos tumultos desde abril, e milhares foram presas.

O impopular presidente de esquerda disse estar enfrentando uma insurgência armada determinada a depô-lo.

Políticos de oposição dizem que foram forçados a ir às ruas depois que as autoridades restringiram os meios democráticos de se obter mudanças. Eles também acusaram as forças de segurança de usarem força excessiva contra os manifestantes.

O estudante de culinária Brian Dalati, de 22 anos, contou que em julho estava a caminho das aulas e passou por uma barricada de rua montada por opositores quando a polícia o confundiu com um manifestante. Eles o golpearam e dispararam tiros de chumbo grosso em suas pernas, fraturando suas duas tíbias.

"Dependo de meus irmãos para ir ao banheiro, tomar banho, escovar os dentes, comer, tudo. É revoltante", afirmou.

O governo diz que a mídia de direita dá atenção excessiva aos ferimentos dos manifestantes.

Acompanhe tudo sobre:Crises em empresasProtestosProtestos no mundoVenezuela

Mais de Mundo

Yamandú Orsi, da coalizão de esquerda, vence eleições no Uruguai, segundo projeções

Mercosul precisa de "injeção de dinamismo", diz opositor Orsi após votar no Uruguai

Governista Álvaro Delgado diz querer unidade nacional no Uruguai: "Presidente de todos"

Equipe de Trump já quer começar a trabalhar em 'acordo' sobre a Ucrânia