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Uruguai deixa crise no passado

O economista Roberto Horta Berro conta como o país, que esteve prestes a quebrar, consegue crescer a uma taxa de 7% ao ano

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2010 às 18h39.

Um dos maiores especialistas em Uruguai, o economista Roberto Horta Berro, diretor da Faculdade de Ciências Empresariais da Universidade Católica do Uruguai, falou à EXAME sobre a virada do país vizinho, que saiu de uma crise que o assolou no final dos anos 90. Na época, o Uruguai vivia dias de pesadelo. País com uma economia extremamente atrelada a do Brasil e da Argentina, ele não suportou os momentos de crise dos vizinhos. O primeiro choque veio do lado brasileiro. A desvalorização do real em 1999 afetou as exportações uruguaias, muito dependentes do país. Em 2001, foi a vez da bancarrota argentina ter sobre ele um impacto arrasador. Entre 1999 e 2002, seu PIB encolheu quase 20%, o desemprego atingiu recordes 19% da população economicamente ativa e a pobreza aumentou de 18% em 2001 para assustadores 31% em 2004. Passados os solavancos que atingiram o Uruguai com toda a força, hoje o cenário da economia do Uruguai é muito diferente. A pequena nação com pouco mais de três milhões de habitantes - a mesma população do Estado brasileiro do Espírito Santo - conseguiu se recuperar com êxito da crise e vem prosperando desde 2003. Em 2006, seu PIB aumentou 7% e a estimativa para 2007, de acordo com o Ministério de Economia e Finanças, é ainda mais otimista: espera-se que a economia uruguaia gere 23 bilhões de dólares, um crescimento de 7,3%. O especialista falou a EXAME sobre essa virada.

Como o senhor avalia a situação atual da economia do Uruguai?
O Uruguai sofreu uma crise econômica muito forte no ano de 2002 e nos anos prévios. Houve uma recessão muito grande entre 1999 e 2002. Mas, a partir de 2003, começou uma etapa de crescimento que tem se consolidado nos últimos anos. Entre 2003 e 2007, tivemos quatro anos de forte crescimento, muito superiores a media da história econômica uruguaia.

A que o senhor atribui este bom momento econômico?
Evidentemente, o bom cenário internacional tem ajudado muito, em especial a recuperação do preço das commodities. Houve ainda uma melhora dos ingressos e dos empregos com um incremento da produção agropecuária, florestal, o setor público tem um resultado equilibrado, além de uma expansão forte do comércio exterior. E eu acho que estamos em um momento bastante positivo para atrair investimentos do exterior. O clima de negócios melhorou muito e está bastante propício para isso. A chegada mais notória foi a da fábrica de celulose Botnia, um investimento da ordem de 1 bilhão de dólares, o que para o Uruguai é uma cifra muito importante.

A onda de progresso coloca o Uruguai no caminho do bem-sucedido Chile?
Estamos caminhando nessa linha, mas falta um pouco ainda. Primeiramente, temos que ver como a recessão dos Estados Unidos irá impactar em nosso país, porque o Uruguai é um grande exportador de matérias primas agropecuárias. E um esfriamento agora da economia americana pode ter um efeito negativo. Outro tema negativo é a alta dos preços do petróleo, pois o Uruguai depende do petróleo externo, ele é todo importado. Com o preço do petróleo do barril chegando a 100 dólares, pode gerar um problema no futuro.

Mas há pontos semelhantes entre a economia chilena e a uruguaia?
Há pontos parecidos, sim. O Uruguai é uma economia que tem se aberto muito. Não tanto como a Chilena, mas ele tem se esforçado para manter um clima apropriado para os investimentos. Além disso, assim como o Chile o Uruguai tem poucos problemas sociais. Há ainda a tradição democrática do Uruguai. O nosso país é a nação da América latina com mais tradição democrática. Somos um país de partidos políticos estáveis, com muita tradição, o que dá certa estabilidade externa. Além disso, o Uruguai sempre cumpriu os seus compromissos externos, nunca tivemos problema de não cumprimento de dívida externa, razão pela qual o país não tem problemas de financiamento hoje.

E como o senhor avalia o atual governo do Uruguai, o esquerdista Tabaré Vázquez, médico que assumiu a presidência em 2005?
Quando Vázquez assumiu, no primeiro momento existiu certa cautela por parte dos empresários, que não sabiam ao certo o que ia acontecer, já que a política anunciada em sua campanha era de medidas mais populistas. Mas, o que se viu desde então foi uma continuidade em matéria econômica, a política econômica que o governo de esquerda está aplicando é praticamente uma continuidade das linhas econômicas anteriores. Nesse sentido, os empresários sentiram que se a economia está estável, está crescendo, o cenário é positivo.

Antigamente, a economia uruguaia era muito dependente da brasileira e da Argentina, razão pela qual o país entrou em recessão quando os seus dois vizinhos entraram em crise. Como uma crise no Brasil ou na Argentina impactaria no Uruguai hoje?
Digo claramente que estamos mais separados da Argentina e do Brasil. Realmente, há alguns anos o Uruguai dependia muito do Mercosul e ficava suscetível às suas crises. Quando Argentina e Brasil viviam bem, o Uruguai ia bem, quando tinham dificuldades, o Uruguai sofria. Mas com a maior abertura econômica, com o crescimento de uma diversificação, as dificuldades nos países vizinhos já não nos afetam tão diretamente quanto antes.

Em janeiro do ano passado, o Uruguai fechou um acordo de cooperação comercial com os Estados Unidos, um passo importante para um tratado de livre-comércio, que dependeria da aprovação dos seus parceiros do Mercosul. Qual, em sua opinião, deve ser o foco da política de comércio exterior do país?
 Do ponto de vista do Uruguai, eu penso que quanto mais mercados ele puder ter para a sua produção, mais positivo isso é para a sua economia. Acho que o Uruguai deve apostar sim para além do Mercosul, em acordos comerciais com o mundo. Tudo aquilo que amplie as possibilidades de um país pequeno como o Uruguai se colocar no exterior deve ser considerado. É por isso que o Uruguai tem que convencer Argentina e Brasil de que como país pequeno não pode ter barreiras.

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