Último ditador da Europa é ameaçado por multidão na rua; veja vídeos
População desconfia de resultado das eleições e se revolta contra a má gestão da crise do coronavírus; governo disse que há vodca para combater covid-19
Carla Aranha
Publicado em 10 de agosto de 2020 às 18h52.
Última atualização em 10 de agosto de 2020 às 20h56.
O clima na Bielorrússia, governada pelo ditador Alexander Lukashenko há 26 anos, segue cada vez mais tenso. Nesta segunda, 10, a polícia bloqueou o centro de Minsk, a capital, e as forças armas estão revistando as pessoas que transitam pelas ruas da cidade. Mesmo assim, os protestos continuam. Há milhares de pessoas nas ruas.
Os manifestantes refutam o resultado das eleições presidenciais de domingo, 9 – Lukashenko afirma que teve uma vitória esmagadora, a despeito do grande apoio popular de sua principal oponente, a professora Svetlana Tikhanovskaya, de 36 anos.
Neste domingo, 9, 60.000 pessoas saíram às ruas em mais de 30 cidades do país para protestar contra a autodeclarada vitória de Lukashenko, que governa o país desde 1994. A contagem de votos não pôde ser verificada.
Cerca de 3.000 manifestantes foram presos no domingo. Há relatos de que pelo menos uma pessoa morreu. Milhares de policiais, tanques de guerra e tropas do exército foram enviadas para a capital, Minsk, para reprimir os protestos.
As mídias sociais foram bloqueadas durante o dia e o acesso à internet se tornou mais precário desde domingo, como parte da estratégia do governo de abafar as críticas e os protestos, além de limitar a comunicação da população local com o mundo exterior.
Os bielorrussos dizem que têm diversos motivos para se revoltarem. Além da suspeita de fraude nas eleições, há um descontentamento geral com o modo como o governo vem conduzindo a crise do coronavírus . Lukashenko aconselhou a população a tomar vodca, ir para o interior e dirigir tratores para escapar da doença. A Bielorrússia registra 68.000 casos da covid-19, bem mais do que a vizinha Polônia, que tem o quadruplo de habitantes.
Na Bielorrússia, uma ex-república soviética, desafiar o presidente é um ato de coragem. O ex-banqueiro Viktor Babaryko, o oponente mais forte de Lukashenko na campanha presidencial, foi preso em junho acusado de “fraude”. Outra opositora, Maria Kolesnikova, foi presa no sábado.
A candidata da oposição que sobrou, a professora Svetlana Tikhanovskaya, rejeitou os resultados oficiais da votação de domingo e exigiu que o presidente Alexander Lukashenko ceda o poder no país. “As autoridades devem refletir sobre como transferir o poder. Me considero vencedora da eleição”, afirmou Tikhanovskaya, que contava com amplo apoio popular. Ela entrou na campanha porque seu marido, um conhecido blogueiro crítico ao governo, também foi preso.