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Turquia recebe primeiro carregamento de mísseis da Rússia

Os Estados Unidos criticam a compra de mísseis russos por considerar que eles não são compatíveis com os dispositivos da Otan

Rússia: a Turquia deve receber mais 120 mísseis de diferentes tipos (Tatyana Makeyeva/Reuters)

Rússia: a Turquia deve receber mais 120 mísseis de diferentes tipos (Tatyana Makeyeva/Reuters)

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AFP

Publicado em 12 de julho de 2019 às 09h59.

A Rússia começou a entregar nesta sexta-feira à Turquia mísseis S-400, apesar da oposição do governo dos Estados Unidos à compra por parte de Ancara deste sistema de defesa antiaérea, anunciou o ministério turco da Defesa.

"A entrega da primeira carga de equipamentos de defesa antiaérea S-400 começou em 12 de julho na base aérea Murted de Ancara", afirma um comunicado ministerial.

A informação foi confirmada por fontes oficiais em Moscou.

De acordo com uma fonte citada pela agência pública TASS, outro avião com outros elementos do S-400 deve decolar "em breve" e uma terceira entrega de mais de 120 mísseis de diferentes tipos será enviada "no final do verão por via marítima".

Além disso, uma outra fonte informou à TASS que cerca de 20 militares turcos foram formados entre maio e junho na Rússia para a utilização dos S-400, e 80 a outros devem receber formação entre julho e agosto.

A base de Murted, que antes era chamada Akinci, é considerada o quartel-general dos oficiais que tentaram um golpe de Estado contra o presidente turco Recep Tayyip Erdogan em julho de 2016.

A entrega deste sofisticado sistema de defesa aérea é um marco na aproximação de relações entre Rússia e Turquia, que se distanciou do campo ocidental desde a tentativa de golpe de Estado.

O terceiro aniversário do golpe de Estado frustrado acontecerá na segunda-feira.

Após o anúncio oficial, um responsável da Otan se disse "preocupado" com a entrega à Turquia, um peso pesado da Aliança Atlântica, dos mísseis russos S-400.

"A interoperabilidade de nossas Forças Armadas é essencial na condução de nossas operações e missões", disse o responsável, que pediu anonimato, instando Ancara a continuar desenvolvendo sistemas de defesa aérea com aliados da Otan.

Advertências americanas

Na quarta-feira, a Turquia rejeitou uma última advertência americana sobre a compra dos mísseis russos.

"Pedimos à parte americana que não adote medidas prejudiciais para as relações entre os dois países", afirma um comunicado do ministério turco das Relações Exteriores, em resposta a uma declaração da porta-voz do Departamento de Estado americano.

"A Turquia ficará exposta a consequências reais e nefastas se aceitar os S-400", declarou a porta-voz, Morgan Ortagus.

O governo dos Estados Unidos é contrário à compra dos S-400 por parte da Turquia porque considera que estes mísseis não são compatíveis com os dispositivos da Otan, aliança de defesa que tem a presença da Turquia.

Washington também menciona o risco de que os militares russos que treinarão os turcos para o uso dos mísseis possam ter acesso aos segredos tecnológicos do novo caça americano F-35, que a Turquia deseja comprar.

No início de junho, o Pentágono lançou um ultimato a Ancara, dando o prazo até 31 de julho para desistir dos mísseis russos, sob o risco de ser excluída do programa F-35.

Mas Erdogan disse no final de junho, depois de se encontrar com Donald Trump no Japão, que não temia expor seu país a sanções.

De acordo com Nick Heras, do Center for a New American Security, o sistema S-400 "muda as regras do jogo com relação à estratégia de defesa aérea da Turquia".

"Do ponto de vista de segurança nacional, a Turquia precisa de um sistema de defesa aérea eficaz e de amplo alcance para cobrir todo o país, e os S-400 são perfeitamente adequados a essa necessidade", disse à AFP.

"Não é nenhum segredo que Erdogan quer fazer da Turquia uma potência, o que supõe encontrar um equilíbrio entre as relações com a Rússia e a China, por um lado, e com os Estados Unidos, por outro", apontou.

Para Nicholas Danforth, do German Marshall Fund, a compra desses mísseis reflete o desejo de Ancara de adotar "uma política externa independente e passar a limpo os termos de seu relacionamento com os Estados Unidos".

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