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Tunísia anuncia anistia geral, mas protestos prosseguem

Manifestantes querem membros do antigo regime saiam do novo governo; militares pedem que protestos sejam pacíficos

Manifestantes protestam nas ruas de Sidi Bouzid, na Tunísia (Fred Dufour/AFP)

Manifestantes protestam nas ruas de Sidi Bouzid, na Tunísia (Fred Dufour/AFP)

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Da Redação

Publicado em 14 de junho de 2011 às 19h54.

Túnis - O governo de transição tunisiano, cuja renúncia é pedida a gritos pelos manifestantes, por incluir membros do antigo regime, adotou nesta quinta-feira um projeto de lei de anistia geral e decretou um luto de três dias "em memória das vítimas" da Revolução do Jasmim.

Nas ruas, os manifestantes, temerosos de que seja despojada de seu sentido original a Revolução do Jasmim, reprimida violentamente pela polícia do ex-presidente Zine El Abidine Ben Alí e com um saldo de pelo menos 100 mortos, segundo a ONU, não dão trégua em seus protestos.

Queixam-se da presença de diversos ministros do regime deposto de Ben Alí, que, após 23 anos no poder, fugiu do país no dia 14 de janeiro sob a pressão da revolta.

Durante este primeiro Conselho de Ministros após a queda de Ben Alí, o governo provisório também decidiu que o Estado tomará posse dos "bens móveis e imóveis da Assembleia Constitucional Democrática" (RCD), o partido do presidente deposto.

"Um projeto de lei de anistia geral foi adotado pelo Conselho de Ministros, que decidiu submetê-lo ao parlamento", declarou à AFP o ministro de Desenvolvimento, Ahmed Nejib Chebi.

"O movimento Ennahdha está incluido na anistia geral", informou o ministro de Educação Superior, Ahmed Ibrahim.

Proibido sob o regime de Ben Alí, o partido islamita Ennahdha anunciou na terça-feira que pedirá sua legalização.

Além disso, como sinal revelador de uma volta à normalidade, o governo decidiu pela retomada das aulas nas escolas e universidades "na próxima semana".

Dando mostras de democratização, o governo aboliu a polícia política das universidades, tradicionais focos de agitação.

"A partir de amanhã, a comissão responsável por preparar as eleições começará a trabalhar. Há leis por escrever, outras para revisar, em um espírito de cooperação com todas as tendências e todas as sensibilidades, sem exceção alguma", declarou Ahmed Ibrahim, chefe do partido Etajdid (ex-comunistas).

Segundo a constituição tunisiana, as eleições presidenciais e legislativas devem ser realizadas em um prazo de dois meses, em caso de vazio de poder. Mas o primeiro-ministro já anunciou que serão "em seis meses".

Na capital tunisiana, mil manifestantes foram autorizados pela primeira vez a protestar perante a sede do antigo partido no poder.

"O povo quer que o governo renuncie", gritavam os manifestantes, que exibiam cartazes com frases como "Traidores, já não temos medo".

"Estamos com vocês. Não vamos disparar, o essencial é que a concentração seja pacífica", respondeu um coronel do Exército.

Os manifestantes aplaudiram, alguns coletaram flores, que depositaram na boca dos canhões dos tanques, ante os olhares de militares sorridentes.

Para tentar desativar a crise de confiança, todos os ministros da RDC anunciaram ter abandonado o partido, que por sua vez informou a dissolução de seu gabinete político.

Um dos ministros, Zuheir M'dhafer, que era ministro do Desenvolvimento Administrativo, apresentou o pedido de demissão do cargo, segundo ele para "preservar o interesse supremo da nação e favorecer a transformação democrática do país".

M'dhafer é considerado o idealizador da reforma constitucional aprovada em 2002 por referendo, que permitiu a Ben Ali ter mais dois mandatos consecutivos.

Por sua vez, a televisão estatal, que cita uma "fonte oficial" não identificada, anunciou a detenção de 33 familiares de Ben Ali, mostrando imagens de jóias e cartões de crédito apreendidos.

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