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Tinha acordo em qualquer lugar do mundo, diz delator da Odebrecht

Ex-diretor que cuidava do setor de Operações Estruturadas contou que articulava todos os pagamentos de propina da Odebrecht no mundo

Odebrecht: "setor de propina" chegou a movimentar US$ 3,370 bilhões entre 2006 e 2014 (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 24 de março de 2017 às 10h09.

Brasília - Em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-executivo da Odebrecht Hilberto Mascarenhas disse que "sempre tinha acordo" de pagamento de propina, em "qualquer lugar do mundo", ao explicar sua função no Setor de Operações Estruturadas da empreiteira.

A área operacionalizava todos os pagamentos não oficiais da Odebrecht e chegou a movimentar, segundo ele, US$ 3,370 bilhões entre 2006 e 2014.

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Ao explicar que o caixa do setor variava de acordo com a conquista de obras no exterior e da realização de eleições em diversos países, o delator foi questionado pelo juiz auxiliar do TSE Bruno Lorencini: "Mas impactava porque havia acordos de pagamento de propina?".

"Desculpe, qual o nome do senhor?", perguntou o delator.

"Bruno", respondeu o magistrado.

"Juiz Bruno, sempre tinha acordo."

"Sempre tinha acordo?", voltou a questionar o juiz.

"Sempre, em qualquer lugar do mundo", disse Mascarenhas.

O delator se definiu como o "pagão" - aquele que apenas operacionalizava o pagamento. "Eu, Hilberto Mascarenha Alves da Silva Filho, nunca corrompi ninguém", disse o ex-executivo.

De acordo com ele, a conta do Setor de Operações Estruturadas tinha US$ 70 milhões em 2006, ano em que ele assumiu a área, e cresceu para US$ 730 milhões em 2013. "E 2014, já com o início da Lava Jato, baixou para US$ 450 (milhões)", disse o delator. Os valores não são cumulativos, são referentes a cada ano.

"Acumulado, deu de 2006 a 2014 US$ 3,370 bilhões. É um absurdo, mas é verdade. (...) Em função desse aumento, comecei a sentir que eu precisava ter algum controle", disse Mascarenhas.

A partir daí ele desenvolveu o sistema de informática da empreiteira. O sistema identificava os valores pagos aos codinomes dados pelos executivos da empresa para esconder a real identidade dos beneficiários dos pagamentos.

Ele disse ainda que a entrega do dinheiro no Brasil era feita em espécie e narrou formas de pagamento. "Se fossem valores pequenos, encontravam num bar. Em todos os lugares. Você não tem ideia dos lugares absurdos se encontra, no cabaré...Ele encontrava a pessoa, o preposto ia lá e pegava", afirmou.

Em repasses mais volumosos, segundo Mascarenhas, era possível que algum representante da empresa se hospedasse em um mesmo hotel que um preposto de quem iria receber o dinheiro e, no meio da noite, a entrega fosse feita no quarto.

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