Suécia assume a presidência da UE, que busca se posicionar ante os EUA
O novo governo sueco também terá de esclarecer as questões levantadas pela entrada na coligação governista do partido de extrema direita Democratas Suecos (SD)
AFP
Publicado em 30 de dezembro de 2022 às 13h28.
Última atualização em 30 de dezembro de 2022 às 14h41.
A Suécia assume a presidência semestral da União Europeia (UE) em 1º de janeiro com o desejo de conter qualquer impulso protecionista, mas esse programa pode aumentar as tensões internas em um momento em que Alemanha e França querem endurecer o tom em relação aos Estados Unidos por seu plano de subsídios maciços.
O novo governo sueco também terá de esclarecer as questões levantadas pela entrada na coligação governista do partido de extrema direita Democratas Suecos (SD), o grande vencedor das eleições legislativas de setembro.
Essa coalizão, que pôs fim a oito anos de governos de esquerda, elevou o primeiro-ministro Ulf Kristersson, do partido dos Moderados, a uma posição de aliança com os democratas-cristãos e também com os liberais.
O SD, agora parte da maioria parlamentar, deixou de exigir a saída da Suécia da UE, mas o atrito parece inevitável em algumas questões delicadas — a começar pela imigração.
"Há muitas palavras bonitas no artigo do primeiro-ministro sobre as prioridades da presidência sueca da UE. Mas há uma grande preocupação, pois, na prática, o SD tem o controle", diz a eurodeputada social-democrata Helene Fritzon.
O acordo de Tidö (o castelo onde foi negociado) entre os quatro aliados da maioria determina que os parlamentares do SD devem ser informados de todas as decisões do Executivo relacionadas à UE.
"Mas, em geral, as questões da UE não fazem parte do acordo", ressalta o diretor do Instituto Sueco de Estudos Europeus (Sieps), Göran von Sydow.
O especialista disse se preocupar com o fato de "a maioria dos ministros e de seus colaboradores mais próximos ter pouca experiência em reuniões europeias".
Além de promover a "competitividade econômica", a Suécia procurará manter a unidade dos 27 países da UE contra a invasão russa na Ucrânia e defender "valores fundamentais" ante as polêmicas medidas adotadas por Hungria e Polônia.
"Uma relação distante com a Europa"
A Suécia, que não faz parte da zona do euro, "tem uma relação bastante distante com a Europa", comenta o diretor do Instituto Jacques Delors, Sébastien Maillard, prevendo uma presidência de seis meses que "vai cumprir seu dever", mas "sem muito zelo" e sem novos impulsos.
Ao contrário das últimas duas presidências rotativas (da França e da República Tcheca), quando duas cúpulas da UE foram realizadas em Versalhes e em Praga, nenhuma reunião desse tipo é esperada nos próximos seis meses.
E as reuniões ministeriais serão realizadas em um modesto centro de conferências perto do principal aeroporto de Estocolmo.
A disposição da Suécia de reavivar as negociações de livre-comércio com outros países e regiões pode ser limitada pela ação da Alemanha e da França, as duas maiores economias do bloco, para apresentar uma resposta comum à Lei de Redução da Inflação (IRA) dos Estados Unidos.
Dedicado, principalmente, à proteção contra a mudança climática e com financiamento de US$ 420 bilhões, o plano prevê reformas e subsídios para estimular empresas sediadas nos Estados Unidos.
O presidente francês, Emmanuel Macron, denunciou seu caráter protecionista durante uma recente visita a Washington.
O comissário do Mercado Interno da UE, Thierry Breton, alertou que o programa IRA causará "distorções da concorrência em detrimento das empresas da UE".
"A presidência sueca se encontrará, provavelmente, em contradição com as negociações franco-alemãs que estão sendo preparadas", diz Sébastien Maillard.
A Suécia aderiu à UE em 1995. Esta será a terceira vez que ocupará a presidência semestral do bloco. As anteriores foram em 2001 e 2009.
Os partidos políticos suecos mantêm uma postura pró-europeia, mas o entusiasmo inicial diminuiu nos últimos anos.
Em 2003, o país nórdico se recusou a aderir à zona do euro por referendo e, hoje, dois em cada três suecos ainda preferem manter sua moeda, a coroa sueca, segundo as pesquisas de opinião.
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