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"Somos todos franceses": mundo condena ataque à liberdade

O mundo condenou, nas redes sociais e em pronunciamentos, o ataque ao jornal Charlie Hebdo, denunciando-o como um ato contra a liberdade de expressão


	Protesto em Paris após ataque ao jornal Charlie Hebdo
 (Stephane Mahe/Reuters)

Protesto em Paris após ataque ao jornal Charlie Hebdo (Stephane Mahe/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 7 de janeiro de 2015 às 19h48.

Washington - "Somos todos franceses" e #EuSouCharlie (do francês #JeSuisCharlie): o mundo condenou, nesta quarta-feira, nas redes sociais e em pronunciamentos de diferentes líderes, o ataque ao semanário francês Charlie Hebdo, em Paris, denunciando-o como um ato de terrorismo contra a liberdade de expressão.

Doze pessoas morreram e 11 ficaram feridas na sede da publicação, onde homens armados realizaram o ataque, antes de fugir.

O atentado foi condenado de forma unânime por líderes mundiais, como o presidente americano, Barack Obama, e vítimas da intolerância, como o escritor britânico Salman Rushdie, suscitando gestos de solidariedade de inúmeros veículos de comunicação e manifestações espontâneas. Somente na França, mais de 100 mil pessoas foram às ruas, de acordo com a polícia local.

O semanário já havia recebido ameaças por reproduzir as polêmicas charges do profeta Maomé, publicadas na Dinamarca em 2005, e que causaram grande revolta no mundo muçulmano. Os agressores concluíram o ataque de hoje aos gritos de que Maomé havia sido vingado.

"As religiões, assim como todas as outras ideias, merecem críticas, sátiras e, sim, nossa falta de respeito sem medo", defendeu em nota o escritor Rushdie, autor de "Os versos satânicos" (1988), livro que o forçou a viver anos escondido.

Na época, o líder iraniano Aiatolá Khomeini colocou sua cabeça a prêmio.

"Esse totalitarismo religioso provocou uma mutação fatal no coração do Islã, cujas consequências se viram hoje em Paris", avaliou Rushdie, que aderiu no Twitter à hashtag #jeSuisCharlie, em solidariedade à revista francesa.

Vários jornais reproduziram algumas das controversas charges, além de imagens de seus cartunistas apontando seus lápis, em apoio aos colegas da "Charlie Hebdo".

"Atacar uma redação com armas pesadas é o tipo de violência que vemos no Iraque, Somália, ou Paquistão", declarou o secretário-geral da organização internacional de defesa da imprensa Repórteres Sem Fronteiras, Christophe Deloire, diante da sede da revista.

"Mas podíamos esperar viver este horror na França? Este pesadelo se tornou real. Este ataque terrorista é um dia negro na história do nosso país", acrescentou Deloire.

O presidente francês, François Hollande, decretou a quinta-feira "dia de luto nacional" na França e renovou seu apelo à união do país.

"Nossa melhor arma é nossa união. Nada pode nos dividir, nada deve nos separar", declarou o chefe de Estado, durante discurso curto e solene à Nação, transmitido por emissoras de televisão.

EUA condenam ataque covarde e assassino

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, não demorou a condenar energicamente o ataque.

"Nosso pensamento e orações estão com as vítimas deste ataque terrorista e com o povo da França neste momento difícil", afirmou o presidente em nota oficial, lembrando que "a França é um dos nossos mais antigos e fortes aliados".

"Para nós, ver o tipo de ataque do mal, covarde, que aconteceu hoje, eu acho, reforça, mais uma vez, por que é tão importante sermos solidários com eles, assim como eles são solidários conosco", acrescentou.

"O fato de que tenha sido um ataque contra jornalistas, um ataque contra nossa liberdade de imprensa, também destaca o grau em que esses terroristas temem a liberdade - de expressão e liberdade de imprensa", insistiu Obama.

"Mas a coisa sobre a qual eu tenho muita confiança é que os valores que compartilhamos com o povo francês - a crença, uma crença universal na liberdade de expressão - é algo que não pode ser silenciado pela violência sem sentido da minoria", afirmou o presidente americano.

Obama ofereceu, ainda, toda ajuda necessária para a investigação dos ataques desta quarta-feira.

Em francês, o secretário de Estado americano, John Kerry, dirigiu-se ao povo da França para falar desse "ataque assassino", declarando: "todos os americanos estão do seu lado".

"A caneta é um instrumento de liberdade, não de medo", lembrou Kerry, acrescentando que "a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa são valores centrais, princípios que podem ser atacados, mas nunca erradicados".

Os autores do ataque "se atreveram a dizer que 'Charlie Hebdo' morreu", disse o secretário.

"Não se enganem: hoje e amanhã, na França e em todo o mundo, a liberdade de expressão que essa revista representou, além dos sentimentos de cada um sobre ela, não pode ser apagada", sentenciou Kerry.

Já o primeiro-ministro canadense, Stephen Harper, disse estar "horrorizado com este bárbaro ato terrorista cometido na França", em declarações em sua conta no Twitter.

Mundo fica em choque

Primeiro a se manifestar, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, reagiu com revolta à notícia e expressou solidariedade com a França na luta contra o terrorismo.

"Os assassinatos em Paris são revoltantes. Estamos ao lado do povo francês na luta contra o terrorismo e na defesa da liberdade de imprensa", declarou Cameron, em sua conta no Twitter.

A rainha da Inglaterra, Elizabeth II, transmitiu seus pêsames.

"Enviamos nossas mais sinceras condolências às famílias dos mortos e dos feridos no atentado desta manhã em Paris", disse a monarca, em nota divulgada em seu nome e de seu marido, o príncipe Philip.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, criticou o que chamou de "um ato intolerável, uma barbárie".

"Estou profundamente consternado com o ataque brutal e desumano contra a redação da Charlie Hebdo. É um ato intolerável, uma barbárie que questiona todos nós como seres humanos e europeus", afirmou Juncker, em um comunicado.

A chanceler alemã, Angela Merkel, definiu o atentado como abominável.

"Um ataque que ninguém pode justificar contra a liberdade de imprensa e de opinião, um fundamento de nossa cultura livre e democrática", criticou, em um comunicado.

O jornal dinamarquês que publicou as charges, "Jyllands-Posten", anunciou que reforçará sua segurança, temendo represálias, enquanto a primeira-ministra dinamarquesa, Helle Thorning-Schmidt, uniu-se ao coro dos que condenaram o ataque.

"A sociedade francesa, como a nossa, é aberta, democrática e se baseia em uma imprensa livre e crítica. São valores enraizados em todos nós que precisam ser protegidos", defendeu.

O presidente russo, Vladimir Putin, condenou "energicamente o terrorismo em todas as suas formas", de acordo com seu porta-voz, Dmitry Peskov, citado pela agência russa de notícias TASS, acrescentando que Putin expressou suas condolências aos franceses.

Segundo nota do Kremlin, o presidente russo "condenou duramente este crime cínico e confirmou sua disposição a seguir com a cooperação ativa na batalha contra a ameaça do terrorismo".

O governo da Espanha, através do Ministério das Relações Exteriores, manifestou sua mais "enérgica condenação".

"A Espanha aposta hoje com mais força do que nunca na liberdade de imprensa como um direito fundamental e irrenunciável", declarou, acrescentando que Madri "reitera sua repulsa categórica frente a qualquer tipo de ato terrorista".

Já o chefe do governo italiano, Matteo Renzi, escreveu no Twitter: "horror e consternação pelo massacre de Paris, proximidade total com (o presidente francês François) Hollande neste momento terrível, a violência sempre perderá para a liberdade".

Evocando a França como "símbolo da liberdade", Renzi disse, em francês: "somos todos franceses, porque pensamos em que a liberdade é a única razão de ser da Europa e dos cidadãos europeus".

A diretora geral da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), Irina Bokova, também disse estar horrorizada.

"Meu pensamento está com as famílias das vítimas e dos feridos. Também é um ataque contra a imprensa e contra a liberdade de expressão", afirmou.

"A comunidade internacional não pode deixar que os extremistas semeiem o terror e impeçam a livre circulação das opiniões e ideias", acrescentou Bokova.

O papa Francisco expressou "sua firme condenação do horrível atentado". No comunicado divulgado pela assessoria do Vaticano, o sumo pontífice manifesta ainda "sua proximidade e solidariedade espiritual" a todos os afetados pelo atentado e frisou que "nenhuma razão" justifica "a violência abominável".

"O Santo Padre manifesta sua firme condenação pelo horrível atentado que afetou a cidade de Paris com um alto número de vítimas, semeando a morte, deixando a sociedade francesa inteira consternada", destacou a nota.

"O papa participa com a oração no sofrimento dos feridos e no das famílias dos falecidos e pede a todos que se oponham, com todos os meios, à propagação do ódio e de toda forma de violência, física e moral, que destrói a vida humana, viola a dignidade das pessoas e mina a convivência pacífica entre pessoas e povos", completou a nota.

A presidente Dilma Rousseff classificou o ato de barbárie intolerável e expressou sua solidariedade para com o presidente e o povo franceses. Também criticou o "inaceitável ataque à liberdade de imprensa".

No mesmo tom, o presidente colombiano, José Manuel Santos, lembrou que "a liberdade de expressão e de imprensa são direitos universais invioláveis".

O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, enviou hoje uma mensagem de pêsames à França e pediu unidade na luta contra "o terrorismo islamita".

"Em nome do povo israelense, expresso meus pêsames ao presidente francês, às famílias em luto e a todo o povo francês", declarou Netanyahu.

"O terrorismo islamita não tem fronteiras e não aponta para Israel em primeiro lugar. Aponta para destruir todas as sociedades dos países livres [...] busca desarraigar toda cultura humanista para impor a tirania em seu lugar", acrescentou Netanyahu.

O Irã também denunciou o atentado, afirmando que "todo ato terrorista contra inocentes é estranho ao pensamento e aos ensinamentos do Islã".

Esses atos são "a continuidade de uma onda de radicalismo e de uma violência física e mental sem precedentes", que "se difundiram no mundo nesses últimos dez anos", declarou a porta-voz da Diplomacia iraniana, Marzieh Afkham, citada pela agência oficial de notícias Irna.

Segundo ela, esses atos foram provocados "pelas políticas ruins e de dois pesos e duas medidas frente à violência e ao extremismo".

Adotando um tom crítico, a porta-voz evocou o caso das charges de Maomé publicadas em diferentes jornais europeus em 2005-2006, que provocou manifestações em massa em Teerã, com ataques às embaixadas desses países.

"Servir-se da liberdade de expressão e de ideias radicais (...) e humilhar as religiões, assim como seus valores e símbolos, é inaceitável", frisou.

Mundo muçulmano se solidariza

A Liga Árabe e a Universidade Al Azhar, principal autoridade do Islã sunita, condenaram igualmente o massacre.

Al Azhar lamentou o ataque, que classificou de "criminoso", e destacou que "o Islã denuncia qualquer tipo de violência", enquanto a organização árabe condenou o que chamou de "ato terrorista".

A Arábia Saudita condenou o ato "covarde, que é rejeitado pelo Islã, assim como é rejeitado pelas outras religiões" e manifestou suas condolências.

Em entrevista à CNN-Türk, o ministro turco da Cultura, Omer Celik, disse que "é um atentado contra a humanidade" e tem como objetivo aumentar a islamofobia.

"Rejeito qualquer identificação do Islã com esse ato covarde. Não podemos defender o Islã com este massacre. O ataque tem por objetivo reforçar a percepção negativa que pesa sobre estrangeiros e muçulmanos no clima que reina na Europa, onde a islamofobia e o racismo aumentam", prosseguiu.

O governo do Catar, em geral acusado de dar apoio a grupos jihadistas da Líbia e da Síria, considerou que um ataque a "civis desarmados contradiz todos os princípios morais e os valores humanos".

O presidente palestino, Mahmud Abbas, lamentou "um ato horrível, que vai de encontro a princípios da religião e da moral".

Em mensagem de pêsames à França, o presidente da Argélia, Abdelaziz Buteflika, ressaltou que "o povo argelino, que sofreu durante longos anos os horrores do terrorismo, entende a emoção do povo francês amigo".

Na Tunísia, o presidente do partido islâmico Ennahda, Rached Ghannuchi, disse estar "horrorizado e indignado com o ato covarde e criminoso".

"Condenamos, nos termos mais duros, esses atos terroristas, seus autores, seus instigadores e todos os que os apoiam", completou, na nota divulgada em francês.

No Marrocos, o rei Mohammed VI disse ter tomado conhecimento com "profunda emoção da triste notícia do covarde atentado terrorista" e condenou "duramente esse ato odioso".

Na Turquia, o governo islâmico de tendência conservadora de Recep Tayyip Erdogan condenou duramente o ataque e alertou contra o risco de islamofobia.

"Apresentamos nossas condolências à França, nossa amiga e nossa aliada, nesse dia de tristeza, e esperamos que os autores desse ataque sejam capturados e apresentados à Justiça o mais rápido possível", declarou o presidente.

Cercado de vários de seus ministros, o premiê turco, Ahmet Davutoglu, defendeu que "nenhuma relação pode ser estabelecida entre este ataque e o Islã".

A União Internacional dos Ulemás Muçulmanos, situada em Doha, classificou o ataque de "pecado, quaisquer que sejam os culpados e os que os apoiam". Liderada pelo influente pregador islâmico Yussef al-Qaradaui, considerado a eminência parda da Irmandade Muçulmana, a organização convoca "as autoridades e o povo francês a se unirem contra o extremismo".

Da mesma forma, o Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM) condenou o atentado de inspiração islâmica.

"Este ato bárbaro de uma extrema gravidade também é um ataque contra a democracia e a liberdade de imprensa", afirma, em nome dos "muçulmanos da França", esta instância representativa da comunidade muçulmana mais numerosa da Europa, formada por entre 3,5 milhões e 5 milhões de pessoas.

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