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Sobreviver é uma questão de sorte no leste da Ucrânia

O dia a dia de quem resiste em Donbass nunca mais foi o mesmo desde 24 de fevereiro, quando a Rússia invadiu a Ucrânia

Ataque russo a Vinnytsia, no centro da Ucrânia, deixou pelo menos 23 mortos (AFP/AFP Photo)

Ataque russo a Vinnytsia, no centro da Ucrânia, deixou pelo menos 23 mortos (AFP/AFP Photo)

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AFP

Publicado em 14 de agosto de 2022 às 14h20.

Um soldado escapa ileso dos estilhaços de um foguete em seu veículo ou uma idosa que foi salva da explosão por uma parede de sua casa enquanto dormia. Estes são dois exemplos de que, no leste da Ucrânia, a sobrevivência é muitas vezes uma questão de sorte.

O Donbass se tornou o epicentro dos combates desde que as tropas russas se retiraram da região de Kiev no final de março, depois de não conseguirem tomar a capital ucraniana.

Nessa região, o conflito começou de fato em 2014, quando separatistas pró-russos apoiados militar e financeiramente pelo Kremlin tomaram parte das duas regiões que o compõem, Donetsk e Lugansk, incluindo suas capitais.

Desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro, as tropas de Moscou e seus apoiadores separatistas ganharam terreno, mas a resistência dos soldados ucranianos, experientes por oito anos de conflito, é tenaz.

Ambos os lados estão entrincheirados, com os combates diários reduzidos cada vez mais a uma guerra de artilharia, na qual as armas usadas, particularmente os antigos sistemas de artilharia soviéticos, são no mínimo imprecisas.

"Ficamos sentados nas trincheiras, o inimigo nos bombardeia e não conseguimos nem tirar a cabeça", diz Bogdan, um soldado ucraniano de 26 anos em Bakhmut, cidade contra a qual o exército russo está atualmente concentrando sua ofensiva.

"Não há mais tiroteios como antes. Hoje é uma batalha de artilharia. Então você pula em sua trincheira e espera", conta.

Não muito tempo atrás, um fragmento de um foguete que acabara de explodir perfurou a cabine do veículo de Bogdan.

A mão do jovem soldado ainda treme. Na parte de trás do veículo, mostra o pedaço de metal que quase o matou.

Kostiantinivka, uma grande cidade industrial mais ao norte e teoricamente distante da linha de frente, foi bombardeada há uma semana.

Sete pessoas ficaram feridas, de acordo com a administração militar regional, e um prédio de quatro andares foi destruído na explosão.

De uma janela, um homem abaixa uma máquina de costura com a ajuda de uma corda. Os habitantes tentam recuperar o que podem.

No topo da escada empoeirada repleta de detritos e metal retorcido, Yevgenia Yefimenko, de 82 anos, explica que cochilava quando as duas explosões ocorreram.

Uma destruiu o apartamento do vizinho, parando o despertador no momento da explosão: 00:24.

"Já houve explosões, mas muito longe, então eu me acostumei", explica com lágrimas nos olhos.

As que destruíram o prédio "me jogaram lá", diz ela, apontando para a parede que a salvou: "Não sei como furar parar lá".

Agora sem-teto, a aposentada pensa mais no destino que a espera do que na sorte: "Não tenho ninguém, estou sozinha, sozinha", diz, sem conter as lágrimas.

Em Soledar, uma pequena cidade na estrada para Bakhmut que está sendo fortemente bombardeada, o soldado Oleg Yashchuk relata quase com indiferença seu próprio milagre.

"Estava voltando da frente e tinha 3 ou 4 dias de folga, então fomos descansar no lago: churrasco, cerveja, boa companhia", começa.

"De repente, um tanque começou a atirar. Atirou na água, onde havia muitos soldados. Nós milagrosamente sobrevivemos, todos os estilhaços ficaram contidos na água, por isso ainda estamos vivos", sorri.

Ao longe, ressoam os sons de novos bombardeios; outros não terão a mesma sorte.

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