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Sem perspectivas, Portugal se aproxima de resgate financeiro

País não consegue formar um novo governo e ainda viu os juros de sua dívida disparar

José Sócrates: a renúncia do primeiro-ministro aumentou a crise no país (Antonio Cruz/AGÊNCIA BRASIL)
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Da Redação

Publicado em 30 de março de 2011 às 14h22.

Lisboa - Portugal recebeu nesta quarta-feira mais um motivo para solicitar o resgate financeiro internacional, após a disparada dos juros da dívida pública nacional, que em alguns casos já ultrapassam 9%, influenciados pelas incertezas de uma crise política que se mostra sem perspectivas de acabar.

O presidente de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, que ainda não aceitou a renúncia apresentada pelo primeiro-ministro José Sócrates no último dia 23, suspendeu na segunda-feira suas gestões sobre a crise de Governo até esta quinta-feira, em meio a uma acirrada semana de atos oficiais com visitantes de destaque, incluindo a presidente Dilma Rousseff e o ex-líder Luiz Inácio Lula da Silva.

Os partidários socialistas, com Sócrates à frente, e a oposição conservadora que forçou a queda do premiê, liderada por Pedro Passos Coelho, travam uma guerra de reproves sobre a responsabilidade da crise política e econômica. O resultado mais claro é que ninguém quer ser o responsável a solicitar auxílio financeiro do exterior.

Tanto as decisões de Cavaco quanto as ações dos dois grandes partidos - o Socialista (PS) e o Social Democrata (PSD) que se revezam no poder desde a Revolução dos Cravos de 1974 - indicam que o fim da crise só virá em junho com a realização de eleições, antecipadas em dois anos e meio.

Mas muitos analistas, dentro e fora de Portugal, citados insistentemente nesta quarta-feira pela imprensa local, consideram que o país está quase sem margem de manobra para fazer frente a cerca de 9 bilhões de euros da dívida pública que vencem em abril e maio.

Diante das constantes especulações de que Portugal será obrigado a solicitar resgate financeiro a curto prazo, Sócrates reiterou nas últimas horas que não está disposto a fazê-lo, apesar de reconhecer o agravamento da situação financeira.

"(A situação) simplesmente está pior", sentenciou o primeiro-ministro demissionário, pouco antes de Passos Coelho divergir da possível responsabilidade de pedir ajuda externa, ao afirmar que, se o Governo não considerá-la necessário, os políticos do PSD não vão contestar.

O anúncio dos conservadores, que já elaboram um programa eleitoral, e a indignação dos socialistas, que culpam os opositores pela crise portuguesa, multiplicaram também os atritos entre dirigentes do segundo escalão.

Nesta quarta-feira, o porta-voz do PS, Fernando Medina, acusou Passos Coelho de enfraquecer o país com as opiniões do líder do PSD expressas no jornal americano "The Wall Street Journal", onde o oposicionista critica os erros do Governo e põe em dúvida o cumprimento dos compromissos fiscais.

Embora os empresários e os bancos portugueses tenham se alinhado com as críticas do PSD aos seis anos de Governo socialista, algumas vozes, como a de Ricardo Salgado, presidente do Banco Espírito Santo (BES) e dono de uma das maiores fortunas do país, já advertem sobre o custo da crise política.

Pedro Santana Lopes, que foi primeiro-ministro de Portugal pelo PSD entre 2004 e 2005 - outro agitado período de crise políticas - recomendou ao companheiro de partido Cavaco a "dar um murro na mesa" e fazer prevalecer os interesses do país, porque a situação "não está para eleições", seja com Sócrates dentro ou fora do Governo.

Na quinta-feira, Cavaco convocou o Conselho de Estado, um organismo assessor de consulta prévia antes de dissolver o Parlamento, após uma semana muito agitada com as visitas do príncipe Charles e de sua esposa, Camilla Parker-Bowles, da presidente Dilma Rousseff e do ex-líder Luis Inácio Lula da Silva.

As principais autoridades portuguesas participaram de duas homenagens solenes - uma em Lisboa e outra em Coimbra - a Lula, que jantou com seu amigo Sócrates e recomendou a Portugal não solicitar em hipótese alguma ajuda financeira ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Dilma antecipou nesta quarta-feira sua viagem de retorno ao Brasil para comparecer ao velório do ex-vice-presidente José Alencar, que morreu nesta terça-feira após uma luta de quase 15 anos contra um câncer, e suspendeu as reuniões com Cavaco e Sócrates, além de um jantar oficial, deixando mais tempo livre aos líderes portugueses para abordar a crise político-econômica.

Em entrevista à imprensa portuguesa, a presidente admitiu que o Brasil poderia comprar de títulos da dívida de Portugal, mas o primeiro-ministro Sócrates, quando perguntado a respeito, desconversou.

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Lisboa - Portugal recebeu nesta quarta-feira mais um motivo para solicitar o resgate financeiro internacional, após a disparada dos juros da dívida pública nacional, que em alguns casos já ultrapassam 9%, influenciados pelas incertezas de uma crise política que se mostra sem perspectivas de acabar.

O presidente de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, que ainda não aceitou a renúncia apresentada pelo primeiro-ministro José Sócrates no último dia 23, suspendeu na segunda-feira suas gestões sobre a crise de Governo até esta quinta-feira, em meio a uma acirrada semana de atos oficiais com visitantes de destaque, incluindo a presidente Dilma Rousseff e o ex-líder Luiz Inácio Lula da Silva.

Os partidários socialistas, com Sócrates à frente, e a oposição conservadora que forçou a queda do premiê, liderada por Pedro Passos Coelho, travam uma guerra de reproves sobre a responsabilidade da crise política e econômica. O resultado mais claro é que ninguém quer ser o responsável a solicitar auxílio financeiro do exterior.

Tanto as decisões de Cavaco quanto as ações dos dois grandes partidos - o Socialista (PS) e o Social Democrata (PSD) que se revezam no poder desde a Revolução dos Cravos de 1974 - indicam que o fim da crise só virá em junho com a realização de eleições, antecipadas em dois anos e meio.

Mas muitos analistas, dentro e fora de Portugal, citados insistentemente nesta quarta-feira pela imprensa local, consideram que o país está quase sem margem de manobra para fazer frente a cerca de 9 bilhões de euros da dívida pública que vencem em abril e maio.

Diante das constantes especulações de que Portugal será obrigado a solicitar resgate financeiro a curto prazo, Sócrates reiterou nas últimas horas que não está disposto a fazê-lo, apesar de reconhecer o agravamento da situação financeira.

"(A situação) simplesmente está pior", sentenciou o primeiro-ministro demissionário, pouco antes de Passos Coelho divergir da possível responsabilidade de pedir ajuda externa, ao afirmar que, se o Governo não considerá-la necessário, os políticos do PSD não vão contestar.

O anúncio dos conservadores, que já elaboram um programa eleitoral, e a indignação dos socialistas, que culpam os opositores pela crise portuguesa, multiplicaram também os atritos entre dirigentes do segundo escalão.

Nesta quarta-feira, o porta-voz do PS, Fernando Medina, acusou Passos Coelho de enfraquecer o país com as opiniões do líder do PSD expressas no jornal americano "The Wall Street Journal", onde o oposicionista critica os erros do Governo e põe em dúvida o cumprimento dos compromissos fiscais.

Embora os empresários e os bancos portugueses tenham se alinhado com as críticas do PSD aos seis anos de Governo socialista, algumas vozes, como a de Ricardo Salgado, presidente do Banco Espírito Santo (BES) e dono de uma das maiores fortunas do país, já advertem sobre o custo da crise política.

Pedro Santana Lopes, que foi primeiro-ministro de Portugal pelo PSD entre 2004 e 2005 - outro agitado período de crise políticas - recomendou ao companheiro de partido Cavaco a "dar um murro na mesa" e fazer prevalecer os interesses do país, porque a situação "não está para eleições", seja com Sócrates dentro ou fora do Governo.

Na quinta-feira, Cavaco convocou o Conselho de Estado, um organismo assessor de consulta prévia antes de dissolver o Parlamento, após uma semana muito agitada com as visitas do príncipe Charles e de sua esposa, Camilla Parker-Bowles, da presidente Dilma Rousseff e do ex-líder Luis Inácio Lula da Silva.

As principais autoridades portuguesas participaram de duas homenagens solenes - uma em Lisboa e outra em Coimbra - a Lula, que jantou com seu amigo Sócrates e recomendou a Portugal não solicitar em hipótese alguma ajuda financeira ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Dilma antecipou nesta quarta-feira sua viagem de retorno ao Brasil para comparecer ao velório do ex-vice-presidente José Alencar, que morreu nesta terça-feira após uma luta de quase 15 anos contra um câncer, e suspendeu as reuniões com Cavaco e Sócrates, além de um jantar oficial, deixando mais tempo livre aos líderes portugueses para abordar a crise político-econômica.

Em entrevista à imprensa portuguesa, a presidente admitiu que o Brasil poderia comprar de títulos da dívida de Portugal, mas o primeiro-ministro Sócrates, quando perguntado a respeito, desconversou.

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