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Seis mortos na Nova Caledônia, onde Exército tenta retomar controle do território

Reforma eleitoral promulgada por Paris enfureceu o movimento independendista local e gerou os protestos mais graves já registrados na Nova Caledônia desde os anos 1980

Centenas de manifestantes ficaram feridos nos confrontos contra o exército (NurPhoto/Divulgação)

Centenas de manifestantes ficaram feridos nos confrontos contra o exército (NurPhoto/Divulgação)

AFP
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Agência de notícias

Publicado em 18 de maio de 2024 às 14h49.

Outra pessoa morreu neste sábado (18) e duas ficaram feridas na Nova Caledônia, arquipélago francês do Pacífico onde a polícia e o Exército tentam restabelecer a ordem após uma quinta noite de distúrbios e saques que já tiraram seis vidas. 

O general Nicolas Mattheos, comandante da gendarmaria na Nova Caledônia, informou à AFP que havia "um morto e dois feridos em Kaala-Gomen", município do norte da ilha.

O morto é um 'caldoche', nome que recebe a população local de origem europeia nesse território.

Esses distúrbios, os mais graves já registrados na Nova Caledônia desde os anos 1980, foram provocados por uma reforma eleitoral promulgada por Paris que enfureceu o movimento independendista local.

A deste sábado é a primeira vítima fora da área urbana de Noumea, capital do arquipélago. Os distúrbios vinham ocorrendo até agora principalmente nas áreas urbanas.

Além dos seis mortos - dois gendarmes e quatro civis, entre eles três kanaks -, centenas de pessoas ficaram feridas, segundo as autoridades.

Na sexta-feira, a chegada de outros 1.000 soldados, que se somaram aos 1.700 já mobilizados, mostrou a determinação das autoridades francesas em retomar o controle.

"Explosões maciças"

Centenas de militares e policiais franceses fortemente armados patrulhavam a capital neste sábado, cujas ruas estão repletas de escombros.

Os repórteres da AFP no bairro de Magenta viram veículos e prédios queimados e a polícia de choque tentando impor a ordem.

Durante a noite, os moradores relataram ter ouvido tiros, o zumbido de rotores de helicópteros e "explosões maciças", que pareciam ser botijões de gás explodindo dentro de um prédio incendiado.

Helene, 42 anos, vem erguendo e vigiando barricadas de proteção improvisadas com seus vizinhos em turnos de duas a três horas há dias, esperando que milhares de policiais franceses voem pelos 17.000 km que os separam da metrópole.

Os distúrbios foram atribuídos a problemas econômicos, tensões sociais e, acima de tudo, a uma luta política entre ativistas pró-independência, em sua maioria indígenas, e as autoridades de Paris.

As autoridades francesas acusaram um grupo separatista conhecido como CCAT de estar por trás dos tumultos.

Dez ativistas acusados de organizar a violência foram colocados em prisão domiciliar, segundo as autoridades.

O território embarcou em "um caminho de destruição", alertou o ministro local Vaimu'a Muliava neste sábado. "Vocês estão apenas se punindo", disse ele aos envolvidos.

Por sua vez, o CCAT pediu na sexta-feira "um período de calma para quebrar a espiral de violência".

Apesar desse apelo, Annie, de 81 anos, moradora de Noumea, também afirmou ter ouvido fortes explosões durante a noite.

Ela disse que a violência dos últimos seis dias foi pior do que a registrada durante a tumultuada década de 1980, uma era de assassinatos políticos e tomada de reféns conhecida eufemisticamente como "os eventos".

"É pior do que durante os eventos", disse ela. "Não havia tantas armas naquela época".

Os protestos eclodiram na segunda-feira em resposta a uma reforma do censo promovida pelo governo francês que, segundo os líderes do povo indígena kanak, diluirá sua influência nas instituições do arquipélago.

Os distúrbios, que incluem saques, incêndios criminosos e tiroteios, causou até agora um prejuízo estimado em US$ 217 milhões, de acordo com dados locais, e levou o governo francês a declarar estado de emergência.

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