Scholz toma posse nesta semana na Alemanha; entenda os próximos passos
A nomeação do social democrata Olaf Scholz como chanceler deve acontecer no Parlamento alemão na quarta-feira, 8, após partidos da coalizão terem obtido aval dos membros
Carolina Riveira
Publicado em 6 de dezembro de 2021 às 06h00.
Última atualização em 6 de dezembro de 2021 às 14h40.
A semana que começa será um marco na história da Alemanha. O chanceler designado, Olaf Scholz , deve ser oficializado no cargo nos próximos dias, após costurar uma coalizão liderada por seu Partido Social Democrata (SPD), ao lado de liberais do FDP e Verdes.
A chegada de Scholz marcará o retorno de um governo de esquerda ao poder e o fim de 16 anos sob comando da chanceler Angela Merkel, que assumiu em 2005 e governou por quatro mandatos.
No fim de semana, dois dos três partidos da coalizão (o próprio SPD e os liberais econômicos do FDP) aprovaram entre seus membros o plano de governo acordado. Os Verdes, única legenda que faltava, também aprovaram a coalizão nesta segunda-feira, 6.
A consulta aos membros era o último passo formal para bater o martelo no acordo da coalizão - batizada de "semáforo" pelas cores dos partidos. Com tudo confirmado, o novo governo será levado para chancela no Parlamento na quarta-feira, 8.
A votação, no entanto, é quase simbólica, uma vez que os partidos da coalizão, por definição, precisam possuir a maioria das cadeiras do Parlamento. Nesta mesma data, Merkel deve deixar o cargo e Scholz se torna o novo chanceler alemão.
“Este é um acordo de coalizão para políticas de centro, que não vai levar nosso país para a esquerda, mas quer movê-lo para frente”, disse o líder dos liberais do FDP, Christian Lindner, após ver o acordo aprovado na convenção partidária deste fim de semana.
A expectativa é que a coalizão, que inclui esquerda, centristas e liberais econômicos, não traga mudanças amplas em relação ao governo Merkel - embora seja liderada por um partido rival ao da chanceler ( veja abaixo quais são os partidos da Alemanha ).
A coalizão de SPD, Verdes e FDP é inédita. Em 2017, quando Merkel (do partido de centro-direita CDU) tentava formar um governo e se reeleger, a chanceler buscou negociar aliança parecida. Mas o FDP, à época, não quis governar ao lado dos Verdes por incompatibilidade ideológica.
Desta vez, a história foi outra, e o trio SPD-Verdes-FDP chegou a um acordo de forma relativamente rápida, uma vez que esperava-se que as conversas poderiam durar até o começo de 2022.
O que promete o novo governo alemão
O programa de governo divulgado pelos partidos na semana passada buscou um meio-termo entre as três legendas.
Há pontos como aumento de salário mínimo e políticas de moradia, defendidos pelo SPD, transição energética, defendida pelos Verdes, e não aumento de impostos e rigidez nas contas públicas, pauta do FDP.
Os três concordaram também em incentivar a regularização de imigrantes, em meio à queda na natalidade alemã e necessidade de atrair jovens. "A Alemanha precisa desesperadamente de imigração, a população está envelhecendo", disse à EXAME o cientista político alemão Kai Enno Lehmann, da USP ( leia a entrevista aqui ).
"Dos planos de mudanças que a coalizão tem, esse me parece o mais profundo e o mais radical. Se der certo, será muito importante."
Na disputa de forças dentro do novo governo, enquanto os social democratas do SPD terão o chanceler, o FDP terá o importante Ministério das Finanças, no qual deve defender maior controle nas contas públicas. Os Verdes terão, entre outros, o Ministério das Relações Exteriores e o responsável pela transição energética.
A Alemanha teve eleições em setembro, as primeiras nas quais Merkel não concorreu a chanceler desde 2005. Embora o SPD tenha sido o mais votado, o partido não dispunha, sozinho, da maioria das 736 cadeiras do Parlamento (o SPD obteve 206 assentos), por isso a necessidade de coalizão, que é comum no modelo parlamentarista.
Os próximos dias serão agitados e de muita expectativa na Alemanha. Mas uma vez firmado o acordo, os desafios principais virão mesmo depois da posse de Scholz. Um dos principais é a nova onda da covid-19: o país lida neste momento com alta de casos e a necessidade de aumentar o número de vacinados. O novo governo já divulgou restrições mais duras para quem não se vacinar, e não descarta medidas como a obrigatoriedade da vacinação.
*A matéria foi atualizada para incluir a aprovação da coalizão pelos Verdes.