Com a ajuda de seus parceiros da União Europeia e determinação renovada, o membro da zona do euro altamente endividado vai recuperar sua soberania fiscal (Aris Messinis/AFP)
Da Redação
Publicado em 4 de julho de 2011 às 19h35.
São Paulo - A Grécia vai escapar de um default não apenas em benefício próprio, mas porque sua sobrevivência é vital para a zona do euro e a economia global, disse em entrevista nesta segunda-feira o ministro de Finanças do país, Evangelos Venizelos.
Com a ajuda de seus parceiros da União Europeia e determinação renovada, o membro da zona do euro altamente endividado vai recuperar sua soberania fiscal assim que possível e quer retornar aos mercados na metade de 2014, como esperado, afirmou o ministro.
"Nós faremos isso, porque é vital não somente para a Grécia, mas para a estabilidade de toda a zona do euro e da economia global, porque na Grécia a força do sistema financeiro está sendo testada", disse à Reuters na segunda parte da entrevista.
Nomeado como ministro de Finanças na reestruturação do gabinete grego ocorrida em 17 de junho e falando após seus colegas da zona do euro terem aprovado no sábado a liberação da quinta parcela de um empréstimo de resgate para evitar uma moratória, Venizelos disse estar agradecido aos parceiros da UE e prometeu cumprir todas as obrigações.
Ele afirmou que redobrará os esforços para levantar 1,7 bilhão de euros via privatizações até setembro, conforme acertado com a UE e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que tiraram a Grécia da beira da falência com um resgate de 110 bilhões de euros um ano atrás.
A Grécia precisa arrecadar 50 bilhões de euros por meio da venda de ativos estatais problemáticos até 2015, dos quais 5 bilhões de euros apenas neste ano. Após 18 meses no poder, os socialistas ainda não fizeram nenhuma privatização.
Em meio à pior recessão em quase 40 anos, a boa notícia para a economia vem do setor turístico, que responde por cerca de 15% do Produto Interno Bruto (PIB). Espera-se que as receitas apresentem crescimento de 10% neste ano, após a queda de 25% no período 2009/2010, disse Venizelos. "Os dados que temos até agora do Ministério do Turismo e do Banco da Grécia estão nos dando confiança de que será um bom ano. As receitas vão crescer cerca de 10%", disse.
Venizelos, um rígido veterano político que já assumiu vários cargos e preparou o país para as Olimpíadas de 2004, comentou ainda declarações do presidente do Eurogroup, Jean-Claude Juncker, de que a soberania da Grécia precisa ser severamente limitada durante a vigência do programa de socorro. "O sr. Juncker é um grande 'philhellene' (amigo da Grécia)", disse.
"Ele sem dúvida quer sempre ajudar a Grécia e a zona do euro a superarem seus problemas e, principalmente, evitar perigos sistêmicos. Não há dúvidas de que temos limitações fiscais muito rígidas e precisamos restaurar nossa soberania fiscal assim que possível por meio da implementação com êxito de nosso programa", acrescentou.
Entenda a crise
A dívida pública da Grécia alcançou 340,227 bilhões de euros em 2010, o que corresponde a 148,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. O país se encontrou, então, com níveis de divida acima dos necessários para permanecer como membro da zona do euro. O governo tinha duas escolhas: sair do grupo e voltar a adotar moeda local ou apertar os cintos e pleitear um empréstimo internacional. Optou pela segunda.
No segundo semestre de 2010, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Central Europeu (BCE) concordaram em ceder um pacote de ajuda de 110 bilhões de euros, que seria liberado em parcelas, conforme o progresso do enxugamento das contas do país. O primeiro conjunto de cortes foi feito na entrega da primeira parcela. Sem os empréstimos, Atenas entraria em default (não pagamento temporário da dívida). O primeiro-ministro grego, George Papandreou, havia afirmado que, sem a ajuda, os cofres do país ficariam vazios "em questão de dias".
Pressionado, o governo grego aprovou um novo pacote de austeridade em 29 de junho para poder receber mais uma parcela - de 12 bilhões de euros (R$ 27 bilhões). O pacote inclui corte de gastos, de empregos, de salários, aumentos de impostos e vendas de ativos estatais. As medidas de austeridade são altamente impopulares entre os gregos. Sindicatos afirmam que a taxa de desemprego já ultrapassou os 16%. A polícia entrou em confronto com manifestantes em algumas ocasiões nas ruas próximas ao parlamento grego.