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Para sair da crise, Espanha deve deixar UE

Para economista da UNB, desemprego e empobrecimento da população podem crescer caso país continue no bloco e siga exigências do FMI

Bolsa de Madri: crise está longe de ser resolvida, segundo professor (.)

Bolsa de Madri: crise está longe de ser resolvida, segundo professor (.)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

Brasília - A crise na Europa é seríssima e a única saída para a Espanha é deixar imediatamente a União Europeia, afirma o economista Decio Munhoz. Professor da Universidade de Brasília (UnB), Munhoz diz que, se a Espanha permanecer no bloco, será obrigada a "engolir o remédio amargo" do Fundo Monetário Internacional (FMI), que pode levar o desemprego e o empobrecimento ao país.

Entre os países do Continente Europeu que a adotaram o euro como moeda comum, a situação é mais preocupante atualmente na Espanha, em Portugal e na Grécia. A crise, que parecia ser passageira, tem abalado os mercados financeiros de todo o mundo, provocando queda nas bolsas de valores e aumentando a aversão dos investidores ao risco.

Para Munhoz, a crise está longe de ser resolvida, já que os países ricos da Europa só admitiram a Espanha, Portugal e a Grécia no bloco econômico "porque não podiam conviver com nações pobres ao lado", deixando de levar em consideração as diferenças culturais, políticas e econômicas. "Pressionaram para que eles [Espanha, Portugal e Grécia] mudassem para o grupo dos países ricos, com um patamar de vida mais alto, mas agora dizem a eles que terão que tomar o remédio amargo do FMI e empobrecer. Que contradição!"

O professor lembrou que, com o fim da União Soviética, os países que estavam em sua órbita, foram atraídos para a zona da euro mais por questões políticas do que econômicas. Segundo ele, o objetivo foi muito mais de ocupar espaços e, estrategicamente, manter a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que reúne, entre outros, os Estados Unidos, a França, a Alemanha e a Grã-Bretanha, nas "barbas" da Rússia.

    <hr>                                     <p class="pagina">"Ou seja, ampliou-se o leque de nações completamente diferentes em tudo.  E agora, o mínimo que poderá acontecer é ter um monte de países fora da  zona do euro e um núcleo central muito pequeno na zona do euro",  afirmou Munhoz.<br> <br> Para ele, o "germe da desintegração" está ligado a esse problema da  moeda ter paridades fixas e, paralelamente a isso, imaginar que se teria  inflação e déficits orçamentários iguais, em torno de 3% em países tão  desiguais. Ele explicou que, à medida que são realidades diferentes,  quem tem mais problemas, como a inflação, começa a ficar mais fraco,  passa a ter dificuldade para exportar e aí aumentam as importações, já  que o câmbio também foi valorizado. Segundo o professor, foram impostas  regras no sistema muito duras para um grupo grande de países com  economias heterogêneas.<br> <br> Munhoz ressaltou que o problema parece não ser tão localizado e tem  consequências “imprevisíveis, tendendo a se agravar”. Isso porque o  atual crescimento da economia tem sido muito estimulado pela China,  muito integrada à economia norte-americana. Mas a China, mesmo com o  crescimento extraordinário, é uma grande economia exportadora que, por  outro lado, convive com uma distorção interna brutal que é a  distribuição de renda.<br> <br> "É o país voltando a 1945, à Grande Caminhada de Mao Tsé-Tung [fundador e  dirigente da República Popular da China, morto em 1976], em que muitos  morrem de frio à noite e outros estão em apartamentos de luxo  refrigerados."<br> <br> Para ele, no entanto, será muito difícil manter esse modelo na China e o  país se integrar à economia americana, tendo-a como mercado. Os Estados  Unidos terão dificuldade de encontrar na Europa parceiros comerciais  como é a China na Ásia.<br> <br> Munhoz acredita que se a China se abrir ao mercado haverá recuperação,  com todos exportando bastante para aquele país, incluindo os Estados  Unidos que conseguiriam "colocar sua economia nos trilhos". O nó, porém,  que precisa ser desatado é: se a China abrir seu mercado perde a  produção destinada à exportação, agrava o problema do emprego e aumenta  as distorções internas.<br> <br> "Então, a coisa não está definida e está muito difícil. Além do mais, a  questão econômica tem transcendência política também. Os Estados Unidos,  tudo indica, para saírem desta crise têm que reacender a guerra fria,  exportar canhões, e não manteiga. Porque manteiga as pessoas não têm  dinheiro para comprar."<br> <br> Nessa situação, o professor avalia que não há muita diferença entre o  atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o antecessor dele,  George Bush. "Se você colocar o corpo do Obama com a cara do Bush, não  altera nada."<br> <br> Para o Brasil, a saída seria o fortalecimento interno. No entanto, diz  Munhoz, o mercado financeiro não ajuda por querer concentrar renda e  poder. Ele acredita que o país tem condições de se vacinar contra esse  tipo de problema, mas existe uma armadilha preparada pelo próprio  mercado financeiro, a tomada de decisões.<br> <br> Munhoz lembrou que a entrada líquida de capital estrangeiro para aplicar  em papéis no Brasil, desde o início do governo passado, ficou em cerca  de US$ 40 bilhões (o que entrou e saiu). Foram trazidos aproximadamente  de US$ 600 bilhões a US$ 700 bilhões, mas como houve forte remessa de  lucros e dividendos, sobraram US$ 350 em papéis no Brasil. "Nós estamos  na mão deles e por isso jogam a bolsa para baixo, jogam o dólar para  cima. Então, a nossa situação também é frágil."</p>        
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