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Rússia pedirá explicações a Tillerson por bombardeio contra Síria

Desde o ataque químico de 4 de abril, Tillerson não deixou de acusar a Rússia de ser a responsável "moral" pela morte de mais de 80 pessoas em Idlib

Rex Tillerson: o porta-voz do Kremlin afirmou que "não está na agenda" uma reunião entre Putin e o secretário de Estado dos EUA (Joe Skipper/Reuters)

Rex Tillerson: o porta-voz do Kremlin afirmou que "não está na agenda" uma reunião entre Putin e o secretário de Estado dos EUA (Joe Skipper/Reuters)

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EFE

Publicado em 10 de abril de 2017 às 13h46.

Moscou - O secretário de Estado dos Estados Unidos, Rex Tillerson, iniciará nesta terça-feira sua primeira visita à Rússia, na qual pressionará o Kremlin para que retire seu apoio ao regime da Síria, enquanto os russos lhe pedirão explicações sobre o bombardeio contra o país árabe.

"Os Estados Unidos demonstraram uma completa falta de vontade de cooperar na Síria e de levar em conta os interesses e as preocupações" da Rússia, disse nesta segunda-feira Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, à imprensa local.

O ataque com mísseis Tomahawk contra uma base aérea síria foi um golpe baixo para o Kremlin, que não hesitou em tachá-lo de "agressão contra um aliado da Rússia" e de flagrante violação do direito internacional, ao não pedir autorização à ONU, como aconteceu no Iraque em 2003.

Além disso, o governo russo assegurou que o bombardeio representa um revés tanto para a luta contra o terrorismo internacional como para o processo de paz e o cessar-fogo no país árabe, cujos garantidores são Rússia, Turquia e Irã.

Os presidentes de Rússia, Vladimir Putin, e Irã, Hassan Rohani, condenaram durante o fim de semana o bombardeio e se posicionaram em favor de uma investigação objetiva e imparcial do suposto ataque químico na Síria, ao qual as forças americanas responderam com o bombardeio de mísseis Tomahawk.

Não obstante, com o passar dos dias, a Rússia foi moderando sua resposta e, de fato, não chegou a cogitar o cancelamento da visita de Tillerson, mas suspendeu o acordo para evitar incidentes aéreos.

"Eu chamaria o que vemos hoje de 'Game of Thrones' à americana. É uma guerra de clãs internos, entre estruturas militares e políticas que não conseguem aceitar o resultado das eleições", disse Maria Zakharova, porta-voz da Diplomacia russa.

Vários políticos americanos pediram que Tillerson adiasse a visita, ao considerar que esta representa o reconhecimento do peso da Rússia no cenário internacional, mas este não os levou em consideração.

O Kremlin hoje se desvinculou do suposto comunicado emitido pelo centro de comando conjunto de Rússia e Irã na Síria, no qual estes ameaçaram "responder com a força" aos EUA se os americanos cruzassem novas "linhas vermelhas".

Tillerson chega a Moscou com uma agenda complexa, já que, além da questão síria, tinha em mente abordar com o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, a suposta ingerência do Kremlin nas eleições americanas.

Contudo, a Síria monopolizará quase toda a atenção, ainda mais quando o apoio incondicional do governo russo ao regime de Bashar al Assad levou vários países a defenderem uma nova rodada de sanções contra o Kremlin.

Desde o ataque químico de 4 de abril, Tillerson não deixou de acusar a Rússia de ser a responsável "moral" pela morte de mais de 80 pessoas na província de Idlib, uma ação da qual os países do Ocidente responsabilizam Assad.

Para Washington, Moscou descumpriu sua parte no acordo de eliminação de armas químicas na Síria, que evitou a invasão americana em 2013, e que foi forjado praticamente em sigilo por Putin e Assad.

"Acreditamos que chegou a hora de os russos planejarem seriamente seu contínuo apoio ao regime de Assad", disse Tillerson.

Moscou está praticamente sozinha em sua defesa a qualquer custo do regime sírio, já que somente o Irã rejeitou as acusações de que Damasco seria responsável pelo ataque químico, enquanto a China preferiu manter-se à margem da controvérsia durante a visita do presidente chinês Xi Jinping aos EUA.

Até mesmo a Turquia, país-chave na implementação do cessar-fogo que está em vigor desde dezembro, abandonou sua prudência dos últimos meses e voltou a insistir em seus pedidos para que a Rússia aceite a saída de Assad.

Sobre essa questão, o Kremlin rejeitou "o mantra 'Assad deve sair'" ao considerar que o mesmo é contraproducente e insistiu que "a única alternativa é continuar o árduo trabalho" dentro das negociações de Genebra (Suíça) e as consultas de Astana (Cazaquistão).

Quanto a possíveis sanções, Peskov ignorou as claras advertências da embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, e assegurou que, por enquanto, não ouviu declarações da Casa Branca.

O que está no ar é uma possível reunião entre Putin e Tillerson, já que ambos os países estão preparando há várias semanas o encontro entre o líder russo e Donald Trump.

O porta-voz do Kremlin insistiu hoje que "não está na agenda" uma reunião entre Putin e o secretário de Estado dos EUA.

Tillerson participou hoje na Itália da reunião de ministros e representantes das Relações Exteriores dos países do G7 (Estados Unidos, França, Reino Unido, Japão, Alemanha, Itália e Canadá), a versão reduzida do G8 desde a expulsão da Rússia pela anexação da Criméia.

Enquanto Tillerson está a ponto de viajar para Moscou, o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Boris Jonhson, cancelou sua visita após "deplorar" a defesa russa do regime de Assad, inclusive depois do ataque químico em Idlib.

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