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Rússia diz que exército da Síria suspendeu ataques em Aleppo

Foi anunciado, ainda, que no sábado serão celebrados diálogos militares e diplomáticos entre a Rússia e os EUA

Aleppo: serão estudados os planos de evacuação de combatentes rebeldes e dos civis (Ammar Abdullah/Reuters)

Aleppo: serão estudados os planos de evacuação de combatentes rebeldes e dos civis (Ammar Abdullah/Reuters)

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AFP

Publicado em 8 de dezembro de 2016 às 21h36.

Última atualização em 9 de dezembro de 2016 às 08h56.

A Rússia, aliada-chave do governo do presidente sírio Bashar al-Assad, anunciou nesta quinta-feira a suspensão dos ataques aéreos e disparos de artilharia do Exército sírio contra os bairros de Aleppo, uma medida que assegura a retirada de milhares de civis presos em meio a violência.

Após o anúncio surpresa de Moscou, que não foi comentado pelo regime sírio, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) informou uma interrupção dos ataques da aviação síria e a diminuição dos disparos de artilharia nos últimos setores onde os rebeldes estão entrincheirados.

Mas pouco depois, o OSDH citou combates esporádicos e bombardeios em vários rebeldes da zona leste da cidade, onde 18 civis morreram na quinta-feira.

"Posso lhes dizer que, hoje, as operações de combate do Exército sírio foram interrompidas no leste de Aleppo, porque há uma grande operação em curso para a evacuação de civis", declarou em Hamburgo o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, em paralelo à reunião da OSCE na Alemanha, citado pelas agências russas de notícias.

"Haverá uma coluna de evacuação de oito mil pessoas, cujo itinerário é de quilômetros", detalhou Lavrov.

Questionado por jornalistas, o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, considerou que a notícia é "indicativa de que algo positivo pode acontecer".

Lavrov anunciou, ainda, que no sábado serão celebrados diálogos militares e diplomáticos entre a Rússia e os Estados Unidos, em genebra, "para terminar o trabalho (...) e definir os meios de resolução dos problemas do leste de Aleppo".

Nesses diálogos serão estudados os planos de evacuação de combatentes rebeldes e dos civis que os apoiam, segundo o chefe da diplomacia russa.

Serguei Lavrov e seu contraparte americano, John Kerry, se reuniram brevemente nesta quinta-feira à margem da reunião de Hamburgo, mas uma autoridade americana destacou que não houve "avanços, nem conclusões sobre Aleppo".

Os dois já tinham se reunido na véspera em Hamburgo, sem conseguir nenhum avanço real sobre um projeto para a cessação dos combates e a evacuação de civis de Aleppo, onde os rebeldes estão prestes a perder seus últimos redutos diante do avanço das tropas do regime sírio, apoiadas por Irã e Rússia.

O anúncio de Lavrov ocorreu um dia depois de seis países ocidentais, inclusive os Estados Unidos, pedirem na quarta-feira um "cessar-fogo imediato" diante da "catástrofe humanitária" e solicitarem à Rússia e ao Irã que aproveitem sua influência sobre o regime de Assad para consegui-lo.

Cessar de bombardeios e disparos de artilharia

Após o anúncio surpresa de Moscou, que não foi comentado pelo governo sírio em Damasco, o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) registrou um cessar dos ataques da aviação síria e uma diminuição dos disparos de artilharia nos últimos setores onde os rebeldes estão escondidos.

"Está mais calmo. Inclusive os disparos de armas ligeiras diminuíram, o que não havia acontecido até agora", confirmou o correspondente da AFP no leste de Aleppo.

Posteriormente, o OSDH relatou combates esporádicos e bombardeios contra vários bairros rebeldes do leste, onde nesta quinta-feira morreram 18 civis.

Um responsável do grupo rebelde Nuredin al-Zinki, Yasser Youssef, expressou suas dúvidas sobre o anúncio russo. "Não se pode considerar essa declaração como séria, a não ser em caso de haver medidas concretas garantidas pela ONU", disse à AFP.

Fortalecido pelo avanço das tropas nos bairros rebeldes do leste de Aleppo, o presidente Bashar al-Assad rejeitou até agora os chamados para um cessar-fogo, tentando controlar de todas as formas essa segunda cidade do país.

Os rebeldes estão entrincheirados em alguns setores do sul de Aleppo-Leste com dezenas de milhares de civis presos, enquanto o Exército, apoiado por combatentes iranianos e do Hezbollah libanês, controla agora mais de 85% da parte que os insurgentes conquistaram em 2012, segundo o OSDH.

O enviado da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, pediu nesta quinta-feira que sejam retomadas o mais rápido possível as conversas para pôr fim a uma guerra de quase seis anos.

"Agora é realmente o momento de considerar seriamente a possível retomada das discussões políticas", disse De Mistura à imprensa, depois de uma reunião a portas fechadas do Conselho de Segurança da ONU.

Ele também anunciou que se reunirá na próxima semana com a equipe do presidente eleito americano, Donald Trump.

A assembleia da ONU deve votar nesta sexta-feira um projeto de resolução que exige um cessar-fogo imediato na Síria e o acesso à ajuda humanitária.

A Assembleia Geral deve aprovar o testo não vinculante que demanda um "completo fim a todos os ataques sobre civis" e a suspensão de todos os cercos.

Apelo dos Capacetes Brancos

Os Capacetes Brancos, socorristas que operam nas partes rebeldes do leste de Aleppo, lançaram um apelo desesperado às organizações internacionais para que os protejam permitindo que os civis façam uma passagem segura.

"Se não forem retirados, nossos voluntários podem sofrer torturas ou execuções nas prisões do regime", acrescentaram dirigindo-se ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha, à ONU e ao Conselho de Segurança.

A intensidade dos combates aumentou o êxodo da população e 80 mil pessoas fugiram do leste de Aleppo desde o dia 15 de novembro, segundo o OSDH.

A reconquista de Aleppo seria, para o governo, sua mais importante vitória desde o início da guerra em 2011.

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