Baixo crescimento russo põe em perigo estado social de Putin
Governo começou o ano com previsão de crescimento de 3,7%, mas fechou 2013 com apenas 1,4%
Da Redação
Publicado em 3 de janeiro de 2014 às 07h08.
Moscou - O ano que terminou será lembrado na Rússia como "o ano das oportunidades perdidas", quando a economia cresceu quase três vezes menos do que o previsto e que termina com o modelo social da Rússia de Vladimir Putin , baseado em subsídios para amplas camadas da população.
Alheio ao repicar dos sinos que já avisavam de uma mudança de ciclo na segunda metade do ano passado, o governo russo entrou em 2013 com uma previsão otimista de que a economia cresceria 3,7%.
Com a passagem dos meses, com a mudança na liderança do Ministério da Economia, a previsão foi diminuindo, primeiro para 2,4%, depois para 1,8% e finalmente, já à beira de dezembro, para 1,4% do resultado final.
Na fábula em que dois ratos caem em um copo de leite e enquanto um se afoga o outro não deixa de espernear até transformar o líquido em manteiga e salvar a própria vida, a Rússia seria seguramente o roedor mais infeliz, preguiçoso e fatalista.
Já não são só os analistas estrangeiros que recomendam à Rússia reformas estruturais e diversificadoras, mas também a maioria dos analistas próprios, que lamentam a manifesta incapacidade de políticos e empresas de aproveitarem a ainda persistente bonança nos mercados da energia que o país exporta para meia Europa.
E enquanto essa Europa já dá sinais de recuperação, conseguida em parte graças a dolorosas, muito discutidas (e duvidosas) reformas, a Rússia não vislumbra nenhuma melhoria para 2014, algo que faz perigar o frágil e ilusório Estado social construído pelo presidente russo, Vladimir Putin, graças à abundância dos petrodólares na última década.
O próprio Putin e também seu sempre débil e criticado afilhado político, o primeiro-ministro Dmitri Medvedev, pediram no começo do ano aos seus ministros para que endireitassem o barco, achando ser ainda possível superar a inércia sem enfrentar reformas impopulares, e principalmente repudiadas pelo líder do Kremlin.
Reformas como as que defendia o ex-ministro de Finanças Alexei Kudrin, hoje transformado em um fardo para o chefe do governo que, ainda sendo presidente, no final de 2012, pediu que renunciasse ao cargo por criticar, entre outras coisas, os estratosféricos investimentos russos em Defesa.
Da mesma forma que a maioria dos analistas econômicos, Kudrin considera um despropósito o programa de rearmamento russo, orçado em mais de US$ 700 bilhões, previsto para os próximos dez anos.
Já em abril, quem foi um dos mais estreitos colaboradores de Putin desde que ele chegou ao poder há 13 anos, atacou duramente o Executivo de Medvedev ao comentar o arrefecimento da economia, mas também não se esqueceu da política social impulsionada pelo próprio presidente, baseada nas subvenções e no aumento dos salários.
Mas Putin, que chegou ao poder em um momento de caos e pobreza, sabe bem que a chave de seu sucesso é a aura de "presidente dos operários e aposentados", como disse este ano com todas as letras uma jornalista da televisão pública.
O bom desempenho da economia e a constante melhora do nível de vida de uma grande parte dos russos diminuíram, por enquanto, as demandas democratizadoras da classe média que cresceu no calor da prosperidade das grandes cidades.
O "presidente dos aposentados", que criou um regime paternalista que subvenciona muitos de seus eleitores, aguenta bem as críticas dos ativistas de direitos humanos e de seus protetores ocidentais, mas não lida bem com as más notícias econômicas, porque a abundância é o sustento de seu poder.
Passado o ano das oportunidades perdidas, o presidente russo parece ter assumido parte dos argumentos de seu colega, o ex-ministro de Finanças, como pôde se ver na última reunião com os ministros do governo, aos que disse que o arrefecimento econômico "se deve mais a fatores internos".
Mas fiel a sua política populista, Putin deixou claro que a má conjuntura econômica "não é desculpa para rever" as custosíssimas promessas sociais que ele mesmo realizou durante a campanha eleitoral em 2012 e que contemplam fortes altas de salários e subsídios que muitos analistas consideraram que ameaçava a estabilidade orçamentária.
Para 2014 a maioria dos analistas russos, inclusive os mais famosos, acreditam que a economia crescerá cerca de 1,4%, embora os mais pessimistas cogitem inclusive uma recessão de até 2%.
Moscou - O ano que terminou será lembrado na Rússia como "o ano das oportunidades perdidas", quando a economia cresceu quase três vezes menos do que o previsto e que termina com o modelo social da Rússia de Vladimir Putin , baseado em subsídios para amplas camadas da população.
Alheio ao repicar dos sinos que já avisavam de uma mudança de ciclo na segunda metade do ano passado, o governo russo entrou em 2013 com uma previsão otimista de que a economia cresceria 3,7%.
Com a passagem dos meses, com a mudança na liderança do Ministério da Economia, a previsão foi diminuindo, primeiro para 2,4%, depois para 1,8% e finalmente, já à beira de dezembro, para 1,4% do resultado final.
Na fábula em que dois ratos caem em um copo de leite e enquanto um se afoga o outro não deixa de espernear até transformar o líquido em manteiga e salvar a própria vida, a Rússia seria seguramente o roedor mais infeliz, preguiçoso e fatalista.
Já não são só os analistas estrangeiros que recomendam à Rússia reformas estruturais e diversificadoras, mas também a maioria dos analistas próprios, que lamentam a manifesta incapacidade de políticos e empresas de aproveitarem a ainda persistente bonança nos mercados da energia que o país exporta para meia Europa.
E enquanto essa Europa já dá sinais de recuperação, conseguida em parte graças a dolorosas, muito discutidas (e duvidosas) reformas, a Rússia não vislumbra nenhuma melhoria para 2014, algo que faz perigar o frágil e ilusório Estado social construído pelo presidente russo, Vladimir Putin, graças à abundância dos petrodólares na última década.
O próprio Putin e também seu sempre débil e criticado afilhado político, o primeiro-ministro Dmitri Medvedev, pediram no começo do ano aos seus ministros para que endireitassem o barco, achando ser ainda possível superar a inércia sem enfrentar reformas impopulares, e principalmente repudiadas pelo líder do Kremlin.
Reformas como as que defendia o ex-ministro de Finanças Alexei Kudrin, hoje transformado em um fardo para o chefe do governo que, ainda sendo presidente, no final de 2012, pediu que renunciasse ao cargo por criticar, entre outras coisas, os estratosféricos investimentos russos em Defesa.
Da mesma forma que a maioria dos analistas econômicos, Kudrin considera um despropósito o programa de rearmamento russo, orçado em mais de US$ 700 bilhões, previsto para os próximos dez anos.
Já em abril, quem foi um dos mais estreitos colaboradores de Putin desde que ele chegou ao poder há 13 anos, atacou duramente o Executivo de Medvedev ao comentar o arrefecimento da economia, mas também não se esqueceu da política social impulsionada pelo próprio presidente, baseada nas subvenções e no aumento dos salários.
Mas Putin, que chegou ao poder em um momento de caos e pobreza, sabe bem que a chave de seu sucesso é a aura de "presidente dos operários e aposentados", como disse este ano com todas as letras uma jornalista da televisão pública.
O bom desempenho da economia e a constante melhora do nível de vida de uma grande parte dos russos diminuíram, por enquanto, as demandas democratizadoras da classe média que cresceu no calor da prosperidade das grandes cidades.
O "presidente dos aposentados", que criou um regime paternalista que subvenciona muitos de seus eleitores, aguenta bem as críticas dos ativistas de direitos humanos e de seus protetores ocidentais, mas não lida bem com as más notícias econômicas, porque a abundância é o sustento de seu poder.
Passado o ano das oportunidades perdidas, o presidente russo parece ter assumido parte dos argumentos de seu colega, o ex-ministro de Finanças, como pôde se ver na última reunião com os ministros do governo, aos que disse que o arrefecimento econômico "se deve mais a fatores internos".
Mas fiel a sua política populista, Putin deixou claro que a má conjuntura econômica "não é desculpa para rever" as custosíssimas promessas sociais que ele mesmo realizou durante a campanha eleitoral em 2012 e que contemplam fortes altas de salários e subsídios que muitos analistas consideraram que ameaçava a estabilidade orçamentária.
Para 2014 a maioria dos analistas russos, inclusive os mais famosos, acreditam que a economia crescerá cerca de 1,4%, embora os mais pessimistas cogitem inclusive uma recessão de até 2%.