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Refugiados afegãos pagam até US$ 10 mil por "sonho europeu"

Em meio ao aumento da violência, muitos tiveram que pagar US$ 10 mil aos traficantes de pessoas para viajar para a Europa


	Refugiados afegãos: o governo afegão lançou campanhas para tentar convencer a população a ficar no país, utilizando outdoors e anúncios na TV
 (Yannis Behrakis / Reuters)

Refugiados afegãos: o governo afegão lançou campanhas para tentar convencer a população a ficar no país, utilizando outdoors e anúncios na TV (Yannis Behrakis / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 16 de dezembro de 2015 às 09h34.

Cabul - Mais de 146 mil afegãos deixaram o país neste ano com destino à Europa após a saída das tropas da Otan em janeiro e, em meio ao aumento da violência, muitos tiveram que pagar US$ 10 mil aos traficantes de pessoas para alcançar esse "sonho".

Sabawoon Baqizowy, de 16 anos, prepara-se para abandonar sua casa na província de Laghman, no leste do país, em busca do "sonho europeu".

É o filho mais velho e, como tal, deve tentar fornecer sustento aos dez membros de sua família.

Diferentemente do ano passado, a colheita de 2015 não cobriu sequer as despesas do cultivo.

E Baqizowy se consola com o fato de que o Velho Continente permitirá que ele envie algum dinheiro para atender as necessidades básicas de seus familiares.

"Parece como se tudo tivesse ido embora com os estrangeiros. Após sua saída, a segurança está piorando, as fontes de renda diminuindo. Os talibãs avançam em direção às cidades e estão surgindo novas calamidades", lamentou o jovem em entrevista à Agência Efe.

O pai de Baqizowy, Shir Agha, tem consciência dos riscos da viagem do filho, mas está convencido que a simples possibilidade de ele conseguir asilo na Europa é melhor do que o "futuro incerto e cinza sob a sombra do terrorismo e da pobreza no Afeganistão".

Ele pediu um empréstimo de US$ 10 mil para pagar a aventura de Baqizowy rumo ao Velho Continente. Primeiro, chegará à Turquia via Irã, como parte de um grupo de seis pessoas. Depois, será levado por outras pessoas até o destino final.

Como Baqizowy, 40% da população do Afeganistão, segundo colocado no ranking de 51 países "exportadores" de refugiados com 6,1 milhões de pessoas, deixariam para trás sua terra natal se tivesse oportunidade, segundo uma recente pesquisa da Fundação Ásia.

Não é difícil encontrar traficantes de pessoas no Afeganistão.

O contato é feito diretamente ou por meio dos chamados "agentes", intermediários que em algum momento enviaram familiares à Europa e agora colaboram escolhendo "clientes" para evitar ameaças à rede.

Os traficantes normalmente se encontram com seus clientes em barbearias ou cafeterias.

Um restaurante com salões reservados no oeste de Cabul é escolhido por Mama, pseudônimo que significa "tio" em pashtun, para se reunir com a Efe.

Mama aparenta ter 50 anos e, ao ser perguntado sobre seus serviços, quebra o gelo ao afirmar que sua rota é mais segura e cômoda que as utilizadas pela concorrência.

Ele oferece duas opções de viagem com tudo incluído.

Uma por estrada, com custo de US$ 6,5 mil, e outra mista, com o primeiro trecho de avião até o Irã ou a Turquia, o que eleva o preço até US$ 10 mil e acrescenta a necessidade de ter um passaporte válido.

"Antes de embarcar, você deve deixar o dinheiro nas mãos de um intermediário. Assim que chegar ao destino, ele repassa o dinheiro ao traficante", explicou Mama, garantindo que o sistema é confiável.

Prova disso, disse ele, é que seus três filhos e dois primos chegaram à Europa pela rota terrestre.

"É uma rota familiar segura, não há risco para sua vida e você viajará com outras famílias, incluindo mulheres e crianças", assegurou o traficante afegão.

A viagem tem um trecho em transporte público até a fronteira com o Irã. Depois, os refugiados seguem a pé até entrar na Turquia.

A partir de então, o caminho não é planejado com antecedência e varia dependendo da situação.

Os traficantes preferem, porém, optar por Grécia e Bulgária, as alternativas mais comuns.

O governo afegão lançou diversas campanhas para tentar convencer a população a ficar no país, utilizando outdoors e anúncios na TV.

E também tenta criar oportunidades de emprego e melhorar a segurança, principais fatores para a fuga em massa, explicou à Efe o porta-voz do Ministério de Refugiados, Islamuddin Jurat.

Jurat ressaltou que, apesar de as autoridades estarem trabalhando em soluções de curto e médio prazo em colaboração com os aliados internacionais, "levará um tempo para combateremos este problema".

Antes de se despedir no restaurante de Cabul, Mama começou a rir e concluiu com um sorriso no rosto: "Não se preocupe, hoje em dia é normal e comum planejar uma viagem à Europa. Sei que é muito fácil chegar lá".

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