Com rápida propagação, variante Delta ameaça provocar nova onda mundial
Alguns países, como Indonésia, Portugal, Rússia e Israel, estão passando por uma alta de casos de covid, causada em parte pela variante Delta
AFP
Publicado em 25 de junho de 2021 às 11h11.
Última atualização em 25 de junho de 2021 às 11h16.
A variante Delta , responsável pela aceleração atual da epidemia no Reino Unido , pode provocar uma nova onda em escala mundial durante o verão (hemisfério norte), caso medidas de prevenção não sejam adotadas, alertam especialistas e autoridades de saúde.
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No momento, a pandemia da covid-19 está em desaceleração: o número de novos casos registrados é o menor desde fevereiro e as mortes também estão em queda, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Mas alguns países, como Indonésia, Portugal, Rússia e Israel, estão passando por uma alta epidemiológica, causada em parte pela variante Delta.
Identificada pela primeira vez na Índia, onde começou a propagar-se em abril, a variante do SARS-CoV-2 está presente em pelo menos 85 países, com percentuais díspares.
Na Europa, a variante se propagou rapidamente no Reino Unido e substituiu em poucas semanas a variante Alpha, detectada no fim de 2020 no sudeste da Inglaterra.
O mesmo acontecerá no restante da Europa, segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC), que calcula que a variante representará 70% das novas infecções na UE no início de agosto e 90% no fim do mês.
Nos Estados Unidos, sua presença entre os casos positivos disparou de 10% no início de junho, a 35% na semana passada, um percentual similar ao de Israel.
Mais contagiosa
A rápida propagação se deve ao fato de que a variante Delta é entre 40-60% mais transmissível que a Alpha, que por sua vez é mais contagiosa que a cepa que dominou a Europa durante a primeira onda.
Uma equipe de cientistas franceses calcula, inclusive, uma transmissão superior, entre 50-80%, em um estudo ainda não publicado com base em dados da região de Paris.
"Em caso de relaxamento das medidas durante o verão (hemisfério norte) (...) pode acontecer um aumento rápido e significativo do número de casos diários em todas as faixas etárias", advertiu o ECDC durante a semana.
O avanço provocaria um aumento das internações e mortes, que "poderiam atingir os mesmos níveis que durante o outono (hemisfério norte) de 2020, caso nenhuma medida adicional seja adotada", afirmou o organismo.
Nos Estados Unidos, o conselheiro científico da Casa Branca, Anthony Fauci, também prevê "novos surtos da epidemia", mas acredita que serão "localizados" e menos importantes que durante as ondas anteriores.
A importância das duas doses
As autoridades de vários países pediram à população ainda não vacinada que procure os centros de imunização.
De acordo com vários estudos, as vacinas são menos eficazes contra a variante Delta que contra a Alpha e a cepa original, mas continuam funcionando, desde que a pessoa tome as duas doses.
Em função da vacina, a proteção contra a variante Delta é de entre 92% e 96% contra o risco de hospitalização e de entre 60% e 88% contra a forma sintomática da doença, de acordo com os dados divulgados pelas autoridades britânicas.
Apenas uma dose oferece uma proteção muito menor contra a doença (33%).
"Por isto é necessária a vacinação completa para proteger os mais vulneráveis", afirmou o ECDC.
Mas a vacinação pode não ser suficiente, alerta o epidemiologista Antoine Flahault.
No Reino Unido, o surto é "registrado essencialmente entre as pessoas não vacinadas". Mas como o percentual mínimo de vacinados para frear a epidemia "tem que ser mais elevado do que se acreditava a princípio" e que há muitas pessoas, sobretudo jovens, que não se vacinam, esta estratégia é "insuficiente", afirma à AFP.
E quanto mais contagioso um vírus, maior deve ser o nível de vacinação entre a população para adquirir a imunidade coletiva, explica Samuel Alizon, biólogo especialista em cálculos sobre doenças infecciosas.
Com a variante Delta, os cientistas concordam que será necessário vacinar mais de 80% da população, também porque esta é capaz de escapar em parte da "imunidade natural" das pessoas que já contraíram covid, segundo Alizon.
"Até que a maioria das pessoas vulneráveis estejam protegidas, devemos manter a circulação da variante Delta em um nível baixo, respeitando as medidas de saúde pública que funcionaram para controlar o impacto de outras variantes", afirmou a diretora do ECDC, Andrea Ammon.
Países como Israel anunciaram o retorno de algumas restrições, como a obrigatoriedade do uso de máscaras em locais públicos fechados.