Greta Thunberg: jovem ativista está enfrentando e silenciando líderes globais sobre crise climática (Lucas Jackson/Reuters)
Vanessa Barbosa
Publicado em 19 de março de 2019 às 16h16.
Última atualização em 27 de setembro de 2019 às 15h35.
São Paulo – Na manhã do dia 20 de agosto de 2018, a estudante Greta Thunberg, de 16 anos, faltou à escola e seguiu sozinha para a frente do prédio que abriga o parlamento da Suécia, carregando um cartaz em que se lia skolstrejk för klimatet! (greve escolar pelo clima, em sueco) e panfletos com dados científicos sobre o aquecimento do Planeta.
Ela estava decidida a chamar a atenção dos políticos do seu país para a gravidade da crise climática mundial e seus riscos para as gerações futuras. Oito meses depois, seu protesto solitário daria lugar a uma marcha histórica pelo clima, o #schoolstrike4climate, que levou às ruas mais de 1,5 milhão de estudantes de mais de 100 países, na última sexta-feira (15).
Da ação local, a jovem vem ganhando cada vez mais visibilidade até discursar, nesta semana, durnte a Cúpula do Clima da ONU, diante de centenas de líderes globais.
Há algum tempo, no entanto, ela vem atuando publicamente pelas falas duras sobre o clima. Em 2018, durante a COP 24, a Conferência do Clima da ONU, Thunberg criticou o fracasso das nações em se comprometerem com a proteção das futuras gerações. Ela não se conteve:
“No ano de 2078, vou celebrar meu 75º aniversário. Se eu tiver filhos, talvez eles passarão esse dia comigo. Talvez eles perguntem sobre vocês, talvez eles perguntem por que vocês não fizeram nada enquanto ainda havia tempo para agir. Vocês dizem que amam seus filhos acima de todo o resto, mesmo assim estão roubando o futuro deles bem na frente de seus olhos. Até vocês focarem no que precisa ser feito ao invés do que é politicamente possível, não há esperança”, disse.
Para a estudante e ativista, sobram palavras, mas faltam ações concretas por parte dos países para reduzir as emissões de gases efeito estufa associadas, principalmente, à queima de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão.
“Não podemos resolver uma crise sem tratá-la como uma crise. Nós temos que manter os combustíveis fósseis embaixo da terra e precisamos focar em igualdade (...) Nós não viemos aqui para implorar para os líderes mundiais se importarem. Vocês nos ignoraram no passado, e vocês vão nos ignorar novamente. Estamos ficando sem desculpas e estamos ficando sem tempo. Nós viemos aqui para informá-los de que a mudança está chegando, quer vocês queiram ou não”, cravou.
https://www.youtube.com/watch?v=kQcaOAgIEkc&t=8s
Filha do ator sueco Svante Thunberg e da cantora de ópera Malena Ernman, a jovem é portadora da Síndrome de Asperger, considerada por muitos um autismo leve, condição que ela faz questão de exibir na descrição de seu perfil no Twitter que soma mais de 300 mil seguidores, ao lado de “ativista do clima”.
Aos 11 anos, desenvolveu um quadro de depressão, parou de falar e até de comer. Em dois meses, perdeu dez quilos. Pouco tempo depois, a jovem foi diagnosticada com transtorno obsessivo-compulsivo e mutismo seletivo (DSM-IV), um transtorno psicológico caracterizado pela recusa em falar em determinadas situações, mas em que a pessoa consegue falar em outras.
“Basicamente, isso significa que só falo quando julgo necessário”, explicou a menina durante palestra do TEDx em Estocolmo no ano passado. E isso inclui seu alerta sobre a crise climática. “Para nós autistas, quase tudo é preto e branco. Normalmente não mentimos e não gostamos de participar de jogos sociais, que parecem tão atraente a maioria de vocês”, disse em tom de crítica. Ela se mostra indignada com o fato das pessoas considerarem a mudança climática uma ameaça existencial, mas seguirem suas vidas sem efetuar mudanças.
“Eu não entendo isso. Se emissões precisam ser reduzidas, então precisamos detê-las. Para mim, não há áreas cinzentas quando se fala em sobrevivência. Ou seguimos em frente como civilização, ou não. Precisamos mudar”, defendeu a jovem no TEDx, cujo vídeo pode ser visto no YouTube.
Durante o Fórum Econômico Mundial, realizado em janeiro em Davos, a estudante sueca reiterou a necessidade de ações urgentes em prol do clima. “Eu não quero que você seja esperançoso. Eu quero que você entre em pânico. Eu quero que você sinta o medo que sinto todos os dias. E então eu quero que você aja. Precisamos agir como se a nossa casa estivesse em chamas, pois ela está”, declarou a empresários e políticos presentes no evento.
Riscos associados à mudança do clima e meio ambiente, aliás, lideram o ranking de preocupações para a economia global, segundo o Relatório sobre Riscos Globais produzido pelo Fórum.
Embora Thunberg acredite que, no combate às mudanças climáticas, a ação política supere em muito as mudanças individuais no estilo de vida, ela faz questão de dar o exemplo, tomando medidas significativas para reduzir sua própria pegada de carbono.
Na medida do possível, ela não voa mais, optando por viajar apenas de trem, também deixou de consumir carne e laticínios após saber como o consumo de produtos animais contribui para os danos ambientais e repensou hábitos gerais de compra, além de seguir a regra dos três “erres” – reduzir, reutilizar e reciclar – que podem fazer uma enorme diferença para o bolso e para o meio ambiente.
Em março, Thunberg foi indicada para o Prêmio Nobel da Paz por três deputados noruegueses, para quem "o gigantesco movimento que Greta pôs em ação é uma contribuição muito importante para a paz mundial". Ela também foi considerada a mulher mais influente do ano na Suécia e um dos 25 jovens mais influentes de 2018. Por suas atitudes, a pequena se agigantou.