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Putin quer paraíso socialista com renovação do setor da habitação

Mais de 20 mi de russos ainda vivem em casas construídas às pressas depois da Segunda Guerra Mundial para atender à industrialização promovida por Stalin

Putin: as promessas de que o socialismo ofereceria casas modernas a todos os soviéticos nos anos 80 não se cumpriram (Sergei Karpukhin/Reuters)
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EFE

Publicado em 16 de maio de 2017 às 07h02.

Moscou - Uma ambição não concretizada nem por Josef Stalin nem por Nikita Khrushchov é agora desejo do atual presidente da Rússia, Vladimir Putin , que prometeu aos cidadãos do país o paraíso socialista que nunca ocorreu no período da União Soviética através de um revolucionário projeto de renovação da habitação.

"A vovó já vive sob o comunismo. Me dedico a ler, comer e dormir", afirmou em entrevista à Agência Efe a aposentada Nadia, de 89 anos, que vive em um tradicional "Khrushchyovka", um prédio pré-fabricado de cinco andares construído há mais de 50 anos.

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Mais de 20 milhões de russos ainda vivem em casas construídas às pressas depois da Segunda Guerra Mundial para atender à industrialização promovida por Stalin e ao boom demográfico que se seguiu após a vitória sobre a Alemanha nazista.

Isso representou um avanço em relação aos barracões de madeira, porões úmidos e aos "kommunalka" - apartamentos comunitários nos quais viviam a maior parte dos soviéticos, com exceção apenas dos funcionários do alto escalão do governo e da KGB.

As promessas de que o socialismo ofereceria casas modernas a todos os soviéticos nos anos 80 não se cumpriram. Além disso, a URSS acabou de forma oficial pouco depois.

Nos "Khrushchyovka", que os russos gostam de chamar de "geladeiras" pelo frio que passam no prédio, os apartamentos têm cerca de 50 metros quadrados. A cozinha e o banheiro são minúsculos. As paredes parecem de papelão e tremem com a passagem de veículos. Também não há elevadores.

Agora, Putin decidiu solucionar a questão da falta de moradia, um dos mais graves problemas do país. O presidente ordenou a maior revitalização desde meados do século XX, um projeto que inclui a demolição de cerca de cinco mil Khrushchyovka.

Putin parecia feliz em fevereiro quando anunciou o ambicioso programa que custará vários bilhões de euros e que durará cerca de dez anos para ser concluído. Fora o fato de escrever seu nome na história, o presidente já pensa nas eleições de março de 2018.

Contudo, Putin teve que recuar, já que a reação dos 1,5 milhão de cidadãos de Moscou que vivem nessas casas não foi a esperada. Muitos acreditam que o governo os engará como ocorreu após a privatização pós-União Soviética. A lei, então, voltou ao parlamento.

"Espero que tudo seja corrigido seguindo os desejos das pessoas. Não assinarei nada que viole as leis e os direitos dos cidadãos", disse Putin, consciente de que os proprietários desses imóveis são, em sua maioria, pensionistas, seu eleitorado mais fiel.

As autoridades convocaram uma votação pela internet que começou na segunda-feira. Os donos dos apartamentos decidirão se querem que os apartamentos sejam demolidos. Para que a medida avance, dois terços dos moradores deverão aprovar a ação.

A votação tem uma armadilha: as abstenções serão contadas como favoráveis à demolição. A manobra levou muitos a suspeitarem que, por trás do programa, estão as grandes companhias imobiliárias.

"A maioria defende a demolição, mas não está disposta a se mudar de bairro. De todas as formas, sabemos que as autoridades não levarão nossa opinião em conta", disse à Efe Maria, de 70 anos, e ex-professora de Economia.

Maria vive no norte de Moscou com sua neta em um apartamento construído em 1963, que poderia aguentar ainda alguns anos a mais, mas as reformas ficaram ainda mais caras.

Esse não é o caso de Flora, de 28 anos, que votará contra a demolição, já que a atual lei não contempla a possibilidade de vender os apartamentos - o preço de mercado é de 100 mil euros.

"Não gosto da lei, é muito mal escrita. Por que não posso vender a casa?", questionou Flora à Efe.

O prefeito de Moscou, Sergei Sobianin, explicou que os afetados serão levados para moradias que não ficarão muito longe de suas atuais casas. Além disso, afirmou que os novos imóveis serão edifícios modernos com estacionamentos, creches e escolas.

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