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Província argentina cria moeda local para enfrentar crise econômica

La Rioja, uma das regiões mais pobres da Argentina, lança a moeda "chacho" como alternativa para aliviar a crise econômica após o corte de transferências federais pelo governo Milei

Política de choque de Javier Milei fez província argentina criar a própria moeda.
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 4 de setembro de 2024 às 06h01.

Na remota província de La Rioja, no noroeste da Argentina,a criação de uma nova moeda local, chamada "chacho", reflete a tentativa de revitalizar uma economia gravemente afetada pela política de choque do presidente Javier Milei. Com uma economia já enfraquecida e uma dependência significativa de repasses federais, La Rioja foi uma das primeiras regiões a sentir o impacto dos cortes promovidos pelo governo.

De acordo com a Bloomberg, Javier Milei, presidente da Argentina, em uma tentativa de conter a inflação crônica que assola o país, reduziu drasticamente as transferências de fundos do governo federal para as províncias, deixando La Rioja em uma crise financeira. Em fevereiro de 2024, a província declarou moratória, e sua economia entrou em recessão. Diante desse cenário, o governador Ricardo Quintela, crítico das políticas de Milei, implementou uma solução radical: a criação de uma nova moeda local.

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A moeda, chamada "chacho", em homenagem ao líder histórico Angel Vicente "Chacho" Peñaloza, foi distribuída a funcionários públicos da província como um bônus.A ideia é simples: 1 chacho é equivalente a 1 peso argentino. Quintela promoveu a circulação da moeda como uma tentativa de estimular a economia local, incentivando comerciantes a aceitá-la em troca de bens e serviços. Embora os lojistas não sejam obrigados a aceitar chachos, muitos têm adotado a nova moeda devido à forte recomendação do governo provincial.

Distribuição da nova moeda

Em agosto, trabalhadores locais se aglomeraram nas filas para receber os novos chachos, em valores que chegavam a 50 mil por pessoa, o que equivale a cerca de 40 dólares (aproximadamente R$ 226), uma quantia significativa em uma província onde o salário médio é de aproximadamente 240 dólares por mês. Essa distribuição representou um alívio imediato para muitos, que aproveitaram para gastar seus chachos em itens essenciais.

No comércio local, como o posto de gasolina Refinor e o açougue Noed-Fama, o movimento aumentou consideravelmente com a introdução da nova moeda.No entanto, a aceitação dos chachos ainda enfrenta desafios práticos. Muitos lojistas criaram regras específicas para evitar serem sobrecarregados com a nova moeda. Em alguns casos, apenas uma parte do troco é devolvida em pesos, com o restante sendo entregue em chachos ou, em situações mais complexas, cancelando a transação.

O governo local estabeleceu postos de troca onde os comerciantes podem trocar chachos por pesos após um período de 48 horas. Além disso, Quintela prometeu que, até dezembro, aqueles que segurarem a moeda serão recompensados com uma valorização de 17%, recebendo 1,17 pesos para cada chacho. Essa valorização, quando anualizada, atinge uma taxa superior a 50% em pesos, o que atrai a atenção de comerciantes e economistas.

A criação da moeda ilustra a dificuldade da província em acessar financiamento externo e manter suas operações sem o apoio federal. La Rioja, uma das províncias mais dependentes do setor público na Argentina, emprega dois terços de sua população diretamente em cargos públicos e controla uma série de empresas estatais, que vão desde mineradoras até vinícolas.

Resistência local

A moeda "chacho" se tornou um símbolo da resistência local às medidas econômicas de austeridade de Milei. No entanto, sua eficácia a longo prazo é questionada. Enquanto os chachos proporcionam um alívio temporário para os habitantes, o desafio de sustentar a economia da província sem recursos federais continua a crescer.

A história da introdução de moedas locais na Argentina remonta à crise econômica do início dos anos 2000, quando várias províncias, incluindo La Rioja, criaram suas próprias moedas para driblar os problemas de liquidez. Essas moedas tiveram um sucesso limitado e foram eventualmente substituídas pelos pesos após a recuperação econômica do país.

Enquanto o governador Quintela busca expandir o uso da moeda, com planos de aumentar sua circulação para nove bilhões de chachos, economistas permanecem céticos sobre a viabilidade de longo prazo dessa estratégia. A desvalorização e a falta de aceitação em outras províncias argentinas limitam o potencial da nova moeda, e muitos consumidores estão gastando rapidamente seus chachos, temendo que a moeda perca valor como aconteceu com experimentos anteriores.

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